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    Perda do hábito de amamentar traz problemas para crianças no Paquistão

    DA FRANCE PRESSE

    02/11/2016 14h31

    Sara Farid/AFP
    Mah Pari e seu filho Gul Mir em centro do Médicos Sem Fronteiras
    Mah Pari e seu filho Gul Mir em centro do Médicos Sem Fronteiras

    Desde que a maioria das paquistanesas praticamente deixou de amamentar, por falta de informação e pelo costume de dar ervas e açúcar aos filhos, quase metade das crianças sofrem atrasos de crescimento no país.

    As mães são estimuladas a alimentar seus bebês com chá, ervas ou fórmula infantil.

    "Na cultura baluchi, alimentamos os bebês com battri. São umas ervas moídas com água ou leite. Damos de manhã e de noite", explica Mah Pari, grávida pela oitava vez.

    Mah Pari vive em uma zona fértil do Baluchistão, no sudoeste do país, mas seu último filho, Gul Mir, chora de fome nos seus braços. "Também lhe dei chá, açúcar e o peito duas vezes por dia" –menos do que o recomendado.

    Em outras partes do país, os recém-nascidos são alimentados tradicionalmente com manteiga clarificada, mel ou açúcar não refinado.

    "Trabalho o dia inteiro, não tenho tempo para amamentar", explica Mah Pari, convencida de que as receitas tradicionais são melhores do que o seu leite.

    Aos dois anos, Gul Mir pesa cinco quilos, segundo a balança rústica do centro móvel de nutrição do MSF (Médicos Sem Fronteiras) na zona, o que representa a metade do peso ideal para a sua idade.

    Por estas privações em uma idade crítica, a criança terá sequelas, possivelmente por toda a vida.

    Como Mir, 44% das crianças paquistanesas sofrem atrasos no crescimento provocados por carências crônicas durante os primeiros anos de vida. É uma das taxas mais altas no mundo, segundo a Unicef. O Paquistão acumula todos os fatores de risco: má nutrição, problemas de higiene e falta de educação das mães.

    As consequências são irreversíveis e provocam deficiências: limites no crescimento físico, desenvolvimento incompleto do cérebro e risco alto de doenças.

    Isso tem impactos em todo o país, porque reduz o desempenho intelectual e a produtividade de grande parte da população.

    LEITE MATERNO

    "É uma crise e uma urgência maior", sentencia a chefe da Unicef no Paquistão, Angela Kearney, explicando que uma das razões da desnutrição infantil é o consumo reduzido de leite materno.

    Só 38% das crianças são alimentadas exclusivamente com leite materno durante os primeiros seis meses de vida, como recomenda as Nações Unidas.

    "O médico nos disse para dar ao bebê o leite número um", conta Razul, que como muitas avós se ocupa dos netos porque sua filha trabalha. Refere-se a uma fórmula infantil da Nestlé. Isso é catastrófico para a sua neta Akila, porque a água da mamadeira não costuma ser potável e porque, por falta de condições financeiras, só lhe dão uma colherada de leite em pó.

    "As pessoas aqui pensam que só o leite industrial cobre as necessidades dos seus filhos", explica Imtiaz Hussain, médico para as autoridades de Saúde do Baluchistão.

    "Os médicos, muitas vezes não qualificados, recebem uma comissão das lojas que vendem esse leite para prescrevê-lo", acusa.

    "Há um problema de ignorância e de marketing agressivo e desleal", acrescenta Kearney, que denuncia a abundância de propagandas utilizando bebês gorduchos, embora a publicidade de substitutos de leite materno seja, teoricamente, proibida.

    A Nestlé assegura que respeita a lei "muito estritamente". Seus representantes se limitam a "dar informações científicas" aos profissionais da saúde sobre o leite destinado aos recém-nascidos.

    Mal aconselhadas, muitas mães se abstêm de amamentar precisamente quando o bebê mais precisa: depois de nascer e quando está doente.

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