25/11/2016 17h30 - Atualizado em 25/11/2016 18h15

Aécio e FHC criticam Calero por ter gravado conversa com Temer

'Não parece ético', diz Aécio. 'Parece coisa que não é certa', afirmou FHC.
Calero deixou governo após denunciar Geddel, que pediu demissão.

Bernardo CaramDo G1, em Brasília

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves ao deixarem o Palácio da Alvorada após almoço com o presidente Michel Temer (Foto: Sara Resende/G1)O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves ao deixarem o Palácio da Alvorada após almoço com o presidente Michel Temer (Foto: Sara Resende/G1)

O presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG) e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criticaram nesta sexta-feira (25) o fato de o ex-ministro da Cultura Marcelo Calero ter gravado conversas com o presidente Michel Temer e outras autoridades do governo. Ambos almoçaram com Temer e com ministros, parlamentares e prefeitos do PSDB.

O senador avaliou o ato como “extremamente grave”. Para FHC, "parece uma coisa que não é certa". Em nota divulgada mais cedo, Calero disse que o objetivo da audiência que pediu a Temer na semana passada não foi gravar a conversa.

 

Na manhã desta sexta, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, pediu demissão. Calero acusa Geddel, e outros membros do governo, de terem feito pressões para que um órgão do Ministério da Cultura liberasse as obras de um prédio em Salvador, onde o agora ex-ministro havia comprado um apartamento na planta.

O ex-ministro da Cultura prestou depoimento à Polícia Federal e informou que gravou conversas que teve com outros ministros e até com Michel Temer. Ele afirma que, nessa conversa, ele foi "enquadrado" pelo presidente da República em favor dos interesses de Geddel para liberar a obra em Salvador.

“Há algo extremamente grave que também precisa ser investigado”, afirmou Aécio. “Não acho adequado, não acho compreensível que um ministro de estado entre com um gravador para gravar uma conversa com o presidente da república. Não me parece algo ético”, completou.

"Uma pessoa gravar uma conversa com outro me parece uma coisa que não é certa. Tem que ter a boa fé, imaginar que você está conversando com interlocutor. Eu não acho isso correto, ainda mais quando se trata de um presidente da República ou um ministro", afirmou Fernando Henrique Cardoso.

Saída de Geddel
Sobre a demissão de Geddel, Aécio Neves afirmou: “É uma decisão que permite que aquilo que é essencial tenha prioridade. O que é essencial é que o Brasil faça as reformas, volte a crescer”, afirmou, ao defender que é preciso sair “dessa agenda lateral”.

As afirmações foram feitas em entrevista durante evento na Câmara dos Deputados que reuniu prefeitos e dirigentes do PSDB.

Acusado de ter pressionado o ex-titular da Cultura Marcelo Calero para liberar uma obra em Salvador, o ministro da Secretaria de Governo, Geddel Vieira Lima, enviou na manhã desta sexta-feira (25), por e-mail, uma carta de demissão ao presidente Michel Temer. Geddel, que está na capital baiana desde quarta (23), conversou por telefone com o presidente depois de encaminhar a solicitação para se desligar do primeiro escalão.

Segundo a assessoria do Palácio do Planalto, Temer aceitou o pedido de Geddel, que era responsável pela articulação política do governo federal com o Congresso Nacional.

Geddel é o sexto ministro a deixar o governo desde que Michel Temer assumiu o comando do país em maio. Antes dele, caíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Fábio Medina Osório (AGU), Henrique Eduardo Alves (Turismo) e Marcelo Calero (Cultura).

Fernando Henrique
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também presente ao encontro do PSDB, comentou o momento difícil porque passa o governo Temer. Sobre o pedido de Geddel Vieira Lima, aliado próximo Temer, Fernando Henrique afirmou que, para um presidente, "não há nada pior" que tirar um amigo do governo.

"Não há nada pior para um presidente do que ter que dispensar um amigo, mas às vezes não tem jeito”, disse o ex-presidente sobre Geddel. Ele defendeu que a base do governo siga com a agenda de reformas no Congresso.

“Diante da circunstância brasileira, depois do impeachment, o que temos que fazer é atravessar o rio. Isso é uma ponte. Pode ser uma ponte frágil, uma pinguela? Tudo bem. Mas é o que tem. Se você não tiver uma ponte, você cai no rio”, afirmou.

O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), disse não acreditar que a saída da Geddel, que fazia o papel de articulação entre o governo Temer e o Congresso, vá atrapalhar nas votações de projetos na Câmara ou no Senado.

“Ele [Geddel] fez o que tinha que fazer, evitar que essa questão se transformasse numa questão prioritária para o país quando há tanta coisa mais importante para nós resolvermos”, disse o senador. “As votações não serão prejudicadas, uma vez que aquilo que o governo propôs e está tramitando é aquilo que corresponde à necessidade do País e que tem apoio da população”.

Alckmin e Doria
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tratou a demissão com naturalidade. “Substituição de cargo de confiança é normal”, disse. Segundo ele, o governo Temer “conta integralmente” com o apoio do PSDB para a aprovação de medidas de interesse da população.

O prefeito eleito de São Paulo, João Doria, defendeu que a aliança do PSDB com o governo Temer seja mantida, mas ponderou que essa avaliação precisa ser feita pela direção do partido.

“Evidentemente, essa é uma decisão do presidente nacional do partido, Aécio Neves”, disse. “O PSDB já está na base. O que tem que fazer sempre é manter sob avaliação permanente, mas neste momento cabe à direção nacional do PSDB a avaliação definitiva”.

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