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Disputa entre produtores e diretores pode impedir exibição de ‘Saúde S.A.’ no Festival de Paraty

Produtora do longa, previsto para ser projetado no domingo, diz que a edição dos cineastas tem problemas de direitos autorais
Dona Mary, personagem principal de 'Saúde S.A' Foto: Divulgação
Dona Mary, personagem principal de 'Saúde S.A' Foto: Divulgação

RIO — Programado para ser exibido no próximo domingo dentro da seção Cine Clube do 5º Fesitval Internacional de Cinema de Paraty (31 de agosto a 2 de novembro), o filme "Saúde S.A", de Eduardo Benaim e Newton Cannito, pode ter a sua projeção vetada por conta de uma disputa entre os diretores e a produtora do longa, a Origami Cultural.

O documentário aborda o mercado médico e farmacêutico no Brasil através de Dona Mary, mãe de Newton Cannito, que encarna o documentarista Michael Moore ("Tiros em Columbine", "Fahrenheit 11 de setembro") para abordar o tema com toques de humor. Segundo a assessoria do filme, a produtora tenta impedir, há mais de um ano, o lançamento do documentário por este conter supostas citações a empresas e executivos do ramo médico.

Depois das gravações, os produtores fizeram uma edição final de "Saúde S.A" com 30 minutos a menos, reduzindo a sua duração original de 90 minutos. Também incluíram borrões nas imagens e retiraram o áudio de alguns depoimentos, o que Cannito considera censura, ainda que reconheça que, legalmente, a produtora detém o controle sobre a obra. Mesmo após a edição final, o filme seguiu engavetado por mais de um ano, até os dois cineastas financiarem uma montagem alternativa, que foi a selecionada para participar do Festival de Cinema de Paraty. Agora, porém, uma notificação da Origami Cultural pode impedir a exibição.

“Estamos há um ano tentando diálogo. O que ficou claro para nós é que a produtora não quer o consenso. Foi difícil acreditar, mas percebemos que o interesse deles é engavetar o filme definitivamente e se livrar do trabalho do lançamento. Alegaram medo de processo de um personagem apenas citado no filme. Meio surreal, desde o início. Mas depois descobrimos que eles nem tentaram travar diálogo com o citado personagem. Depois fizeram um corte propositadamente ruim, e assim deixaram o filme sem chance alguma de ser selecionado para festivais. Mesmo assim, não levaram o documentário para nenhuma distribuidora. É direito deles fazer um filme com dinheiro público e não levá-lo a público?”, questionou Newton Cannito, no comunicado.

'CONTRA A LEI'

Em entrevista ao GLOBO, a produtora-executiva da Origami Cultural, Edina Fuji, argumentou que o filme apresentado pelos diretores fugia das regras determinadas pelo edital que viabilizou a produção. Entre elas, a de que o filme poderia ter, no máximo, 70 minutos. Além disso, a obra apresentaria "denúncias impróprias, de cunho pessoal". O advogado da empresa ainda considerou que o documentário tinha irregularidades com relação a direitos autorais.

— Os diretores não concordam em lançar a versão oficial. Eles querem exibir a contra-montagem deles, que hoje eu desconheço. Mas nós, produtores responsáveis juridicamente pelo filme, não a conhecemos. O filme, no momento, não pode ser exibido em lugar algum, e não é porque eu não quero, é porque é contra a lei. Ele (Newton Cannito) não tem a autorização de direitos autorais.

Segundo Edina, a montagem feita pela produtora foi aprovada pela Secretaria do Audiovisual (SAV).

— Nós vamos lançar o filme. Não o fizemos até agora por conta desse imbróglio. Mas o que vamos exibir será a versão que está parada na SAV.

Newton Cannito tem no currículo roteiros das séries “9mm: São Paulo” (Fox) e “Cidade dos Homens” (Globo). No cinema, escreveu longas como "Quanto vale ou é por quilo?" (2005) e “Bróder” (2010). O cineasta não atendeu às ligações do GLOBO.