Por Kleber Tomaz e Will Soares, G1 São Paulo


Começa o julgamento de Elize Matsunaga em SP

Começa o julgamento de Elize Matsunaga em SP

De blazer preto e cabelos presos por uma trança, Elize Matsunaga chorou e limpou as lágrimas com um lenço no início do julgamento em que é acusada de matar e esquartejar o marido, o empresário Marcos Kitano Matsunaga. O julgamento começou oficialmente às 11h16 na manhã desta segunda-feira (28) no Fórum da Barra Funda, na Zona Oeste de São Paulo. Ela chegou ao local às 9h12. O júri será formado por quatro mulheres e três homens.

Elize é ré no processo no qual responde presa pela acusação de homicídio doloso triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima), destruição e ocultação de cadáver. Ela confessou que atirou na cabeça da vítima com uma arma e depois a esquartejou em sete partes em 19 de maio de 2012.

Elize sentou-se no banco dos réus ao lado dos seus advogados de defesa. As equipes de TV puderam fazer as primeiras imagens do júri e tiveram de sair.

Logo no início do julgamento, Elize chorou e limpou lágrimas com um lenço enquanto jurados liam resumo do caso. Quando Elize chorou, fotógrafos e cinegrafistas já tinham saído do plenário.

Elize Matsunaga está no banco dos réus no Fórum da Barra Funda — Foto: TV Globo/Reprodução

Duas testemunhas foram dispensadas: o delegado Jorge Carrasco, arrolado como testemunha de defesa, e o reverendo Renê Henrique Gotz Licht, que fez o casamento de Elize e Marcos Matsunaga. Ele seria testemunha tanto da defesa quanto da acusação.

A primeira testemunha ouvida foi Amonir dos Santos, babá folguista do casal Matsunaga. Ela é filha da babá do casal e cobria as folgas da mãe. Amonir respondeu por mais de uma hora as perguntas de acusação e defesa. Na maioria das vezes respondeu a frase: "Não me recordo".

Elize Matsunaga chorou pelo menos quatro vezes durante o depoimento da primeira testemunha. A última vez foi quando a advogada de defesa perguntou para a babá folguista do casal Mastunaga se Eliza era carinhosa com a filha (veja carta que Eliza escreveu para a filha).

Elize Matsunaga escreve carta para a filha, que ela não vê desde que foi presa, em 2012.

Elize Matsunaga escreve carta para a filha, que ela não vê desde que foi presa, em 2012.

Chegada ao Fórum
A viatura que transportava Elize e a escolta entraram pelos fundos do fórum, pelo estacionamento privativo. Elize está presa na Penitenciária de Tremembé, na região do Vale do Paraíba, no interior paulista, e deixou o local rumo a capital paulista às 7h18.

A acusada saiu da Penitenicária Santa Maria Eufrásia Pelletier, conhecida como Penitenciária Feminina 1 de Tremembé, em um carro da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), escoltado por outro carro da SAP e uma viatura da Polícia Militar. Foram percorridos cerca de 140 km de Tremembé a São Paulo.

Disposição do plenário no júri de Elize Matsunaga — Foto: Robinson Cerântula/TV Globo

Segundo a assessoria do Tribunal de Justiça (TJ), o julgamento pode durar até cinco dias.

O promotor José Carlos Cosenzo disse na chegada ao Fórum que acredita na condenação de Elize por todos os crimes. "O processo está dentro daquilo que a gente precisava. Teremos um trabalho sério na defesa da vida", afirmou.

Promotor José Carlos Cosenzo fala da expectativa do júri de Eliza Matsunaga

Promotor José Carlos Cosenzo fala da expectativa do júri de Eliza Matsunaga

O advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, da acusação, vai defender a tese da crueldade do crime. "Marcos estava vivo quando Elize começou a esquarteja-lo", disse D'Urso.

Os advogados de defesa de Elize Matsunaga disseram na entrada do Fórum que as testemunhas serão fundamentais no julgamento para mostrar como era a relação dela com o marido. Também destacam a importância do laudo de exumação para provar que a vítima já estava morta quando foi decapitada por Elize. "Quando saiu o laudo necroscópio foram duas semanas divulgado. Até hoje esse laudo é relatado. O laudo de exumação teve alguns segundos na tevê", afirmou

Advogados de Elize Matsunaga falam sobre estratégia para o júri

Advogados de Elize Matsunaga falam sobre estratégia para o júri

O juiz Adilson Paukoski Simoni, da 5ª Vara do Júri da Capital, é o mesmo que condenou o ex-seminarista Gil Rugai a 33 anos e 9 meses de prisão pelo assassinato de seu pai, Luiz Carlos Rugai, e sua madrasta, Alessandra de Fátima Troitino. O crime ocorreu em 2004, dentro da residência do casal em Perdizes, na Zona Oeste da capital.

Para o Ministério Público Estadual (MPE), Elize matou o marido para ficar com o dinheiro de um seguro de vida no valor de R$ 600 mil. O promotor José Carlos Cosenzo ainda suspeita que ela tenha tido a ajuda de outra pessoa - a Polícia Civil ainda investiga essa hipótese.

A defesa de Elize será feita pelos advogados Luciano Santoro e Roselle Soglio. No entendimento deles, a ré matou Marcos para se defender das agressões do empresário, se desesperou e cometeu o esquartejamento. Naquela ocasião, ela havia contratado um detetive particular que revelou que o marido a traía com uma prostituta.

Ao todo, 21 testemunhas devem participar do júri no plenário 10, que tem capacidade para 270 lugares, sendo 50 destinados à imprensa.

Foram sorteados 48 jurados (sendo que a lei prevê mínimo de 25). Para ser instalada a sessão plenário no mínimo 15 jurados são sorteados.

Passo a passo
1 – Aberta a sessão plenária é feito o sorteio dos jurados para formação do conselho de sentença. Defesa e promotoria podem dispensar até três jurados sorteados. Sete participarão do julgamento;

2 – Juiz, promotor, defesa e jurados formulam perguntas para a ré, podendo questionar também testemunhas e peritos. A ordem das perguntas dependerá se for testemunha da acusação, da defesa ou do juízo. A acusada não está obrigada a responder a nenhuma pergunta, sendo direito constitucional de se manter silente;

3 – Por meio de um resumo entregue aos jurados, o juiz apresenta o processo;

4 – São ouvidas as testemunhas. Entre elas estão babás que trabalhavam com o casal, uma tia de Elize, o irmão de Marcos, detetives e peritos criminais. Inicia-se com testemunhas da acusação, depois da defesa, oitiva de peritos e, se for o caso, acareação. Por último é realizado o interrogatório da acusada;

5 – Começam os debates entre a acusação e a defesa. O primeiro a falar é o promotor, que tem 1h30 para a acusação. Antes dos debates, podem ser lidas peças e exibidos vídeos;

6 – O advogado também tem 1h30 para a defesa;

7 – Em caso de réplica e tréplica cada parte terá 1 hora para explanações;

8 – Considerando cada uma das teses alegadas pelas partes, o juiz formula os quesitos (perguntas) que serão votados pelo conselho de sentença e os lê, em plenário, para os jurados que deverão se manifestar se sentem-se preparados para julgar;

9 – Um oficial de justiça recolhe as cédulas de votação de cada um dos quesitos. Os votos são contabilizados pelo juiz;

10 – Voltando ao plenário, o juiz pede que todos se levantem e dá o veredicto em público. Estipula a pena e encerra o julgamento.

Crime
Elize e Marcos eram casados na época do assassinato, em 19 de maio de 2012. Ela tinha 30 anos e ele, 42. O crime teria ocorrido durante uma discussão do casal.

Ela contou que flagrou a traição de Marcos com uma prostituta após contratar um detetive particular. Elize também havia sido garota de programa quando conheceu o empresário.

O casal tem uma filha, atualmente com 5 anos, que está sob cuidados de familiares do pai.

Após atirar na cabeça do marido, Elize contou que esquartejou o corpo dele, o ensacou e jogou as sete partes em terrenos de Cotia, na Grande São Paulo.

A família de Marcos denunciou o desaparecimento dele no dia 21 daquele mês. Duas semanas depois, Elize foi presa e confessou ter matado o marido.

— Foto: Editoria de Arte/ G1

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