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Tubarão da imprensa chilena foi financiado pela CIA para depor Allende

Edwards Eastman foi expulso da Associação Chilena de Jornalistas por violação das “disposições do código de ética jornalística”. O escritor chileno Luis Sepúlveda acusa-o de ter sido o “principal animador” do golpe de Estado de Pinochet.
Na foto: Salvador Allende.

Augustín Edwards Eastman, dono do jornal El Mercurio e de várias outras publicações, foi expulso da Associação Chilena de Jornalistas por ter violado “disposições do código de ética jornalística”.

Uma das acusações feitas pelo Colégio de Jornalistas do Chile afirma que Edwards, atulamente com 87 anos, recebeu dinheiro da CIA para organizar uma campanha de desestabilização do Governo do Presidente socialista Salvador Allende, deposto por um golpe de Estado em 1973.

A investigação contra Edwards, dono de um dos maiores conglomerados de comunicação social do país, teve início em 2014, quando a entidade apresentou uma denúncia baseada em documentos secretos tornados públicos nos Estados Unidos.

Segundo a denuncia feita pela associação de jornalistas, nos documentos norte-americanos “Edwards surge como jornalista e dono da empresa El Mercurio SAP, colaborando em ações da CIA e obtendo financiamento” da administração de Richard Nixo para “sustentar uma política editorial de desinformação e, dessa modo”, contribuir para soterrar a democracia e facilitar o golpe de Estado” contra Allende.

Quando a investigação avançou, o empresário negou perante a justiça ter recebido dinheiro da CIA. Chegou, inclusive, a afirmar que à época não se encontrava sequer no país e que, por essa ordem de ideias, não exerceu qualquer tipo de influência na linha editorial do El Mercurio.

“O jornal El Mercurio, de propriedade de Agustín Edwards, aprovou as atuações da ditadura militar, incluindo informações não verificadas que acabaram por encobrir graves violações aos direitos humanos”, acusam os jornalistas.

O grupo de comunicação social detido por Agustín Edwards é dos mais antigos e poderosos do chile, detendo várias publicações de dimensão nacional e regional. O El Mercurio faz parte da GDA (Grupo de Diários da América), entidade de classe que reúne outros jornais de grande importância na America Latina, como: La Nación (Argentina), El Comercio (Equador), O Globo (Brasil), El Tiempo (Colômbia), El Universal (México), El Comercio (Peru), El País (Uruguai) y El Nacional (Venezuela).

Luis Sepúlveda: “Edwards Eastman foi o principal animador do golpe de Estado”

“É melhor pouco do que nada, ainda que já devia ter acontecido há muito tempo. Agustín Edwards Eastman nunca foi jornalista; era e é dono do El Mercurio e dos seus diários satélites que se caracterizam por um ultradireitismo fascista e por mentir, mentir e mentir.

Não foi por acaso que um dos lemas que convoco o nosso “68” chileno dissesse: “El Mercurio Mente”.

Esta ruína humana e milionária, este velho e miserável homem de Nixon e Kissenger, foi o principal animador do golpe de Estado de 11 de Setembro de 1973, foi quem sustentou propagandisticamente a ditadura, foi cúmplice descarado e de viva voz dos crimes da ditadura.

Ao expulsá-lo da Ordem, o Colégio de Jornalistas do Chile dignifica a profissão, resgata a ética representada por Augusto “o Cão” Olivares morto com Salvar no Palácio de La Moneda, a ética de Pepe Carrasco, editor internacional do “Análise”, assassinado pelos mercenários de Pinochet nos últimos anos da ditadura.

Agora, para o ato de justiça seja eficaz, falta uma demonstração política do Governo, e isso significa retirar a publicidade governamental do El Mercurio. Não é justos, nem decente, nem ético, que o El Mercurio leve 65% do orçamento da comunicação de um governo aparentemente democrático”.

Texto publicado no facebook de Luis Sepúlveda.


Esquerda.net com Opera Mundi.

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