Rede de amigos guardou segredo sobre paradeiro de Belchior em Santa Cruz
A notícia de que o cantor Belchior estava vivendo em Santa Cruz do Sul pegou de surpresa a cidade de 126 mil habitantes. Nem os vizinhos da casa clara de dois andares conheciam quem a habitava.
A rede de amigos dele e de sua mulher, Edna Prometeu, entrou em contato há alguns anos com conhecidos de Santa Cruz do Sul perguntando se eles poderiam receber temporariamente o casal, com a condição de guardar segredo sobre suas identidades.
A escritora Celia Zingler, um dos primeiros contatos do casal na cidade, acredita que o que fez Belchior adotar Santa Cruz por mais tempo foi a forma como foi recebido.
Adriana Franciosi | ||
Casa onde Belchior vivia em Santa Cruz do Sul |
"Ele foi muito acolhido aqui. Outros amigos nos procuraram porque estavam preocupados com eles, pedindo se poderíamos recebê-los e ajudar a manter a privacidade", diz ela. "Eram eles que nos contatavam; quando eles não queria ser encontrados, a gente não sabia por onde andavam", completa.
A dona de casa Malu Muller conheceu-os por Zingler.
Há dois anos, o casal ficou hospedado por 20 dias na casa dela. "Era uma pessoa incrível, maravilhosa, estava sempre bem-humorado. Ele acordava de manhã já dando beijo na gente", lembra ela.
Quando o casal deixou por um tempo Santa Cruz, perdeu o contato com eles. Apenas no final do ano passado voltaram a se encontrar, depois que esbarrou com Edna Prometeu no centro da cidade.
Passou a visitá-los na casa do bairro Santo Inácio, de onde o cantor pouco saía, evitando até se aproximar das janelas para não ser visto. Preocupado com a saúde, ele fazia exercícios à beira da piscina e saía para caminhar, sempre em horários estratégicos.
"Minha filha se surpreendeu hoje de manhã e disse: 'Mãe, como tu nunca me contou que visitava o Belchior aqui?'", conta Muller.
Muller diz, ainda, que Belchior planejava uma volta aos palcos. Ela emprestou ao músico um violão que tinha em casa e afirma que todo o tempo em que esteve "sumido", ele nunca deixou de compor.
Arquivo Pessoal | ||
Belchior com companheira Edna Prometeu (dir.) e a amiga Malu Muller (centro) em um jantar |
Segundo a amiga, Belchior considerava ir a Florianópolis ainda em abril, onde tinha amigos que iriam ajudá-lo "a começar de novo".
"Ele estava preocupado com a situação política do Brasil, com o golpe, sentia que estava na hora de voltar. Dizia que não podia ficar se escondendo em um momento assim", conta.
Política, diz, era uma preocupação constante para ele e um dos assuntos recorrentes nos jantares em que tinha com amigos, em casa.
Mesmo nesses encontros, Belchior nunca cantava. Os assuntos que debatia com os amigos abarcavam ainda viagens, cultura e filosofia, um de seus temas prediletos. Muller conta que ele também desenhava muito, um hábito antigo, mas nunca mostrou os desenhos.
As amigas ainda não sabem qual será o destino do trabalho que Belchior tocava. Elas não chegaram a conhecer as músicas que ele estava compondo, mas acreditam que política voltaria a ser sua voz.
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