Por Jornal da EPTV 2ª Edição


Queda de investimentos provoca danos no sistema de saúde em Campinas

Queda de investimentos provoca danos no sistema de saúde em Campinas

Superlotação, filas, déficit de funcionários, além de equipamentos improvisados para conseguir garantir o atendimento de pacientes internados em estado grave, fazem parte do dia a dia do Hospital Municipal Doutor Mário Gatti e de outras unidades médicas de Campinas (SP). De acordo com o governo municipal e especialistas, a recessão e a migração de parte da população para a rede pública contribuíram para aumentar o colapso na saúde do município.

Os motivos da crise na saúde pública, e a difícil realidade das pessoas que precisam do serviço para sobreviver, serão mostradas pela EPTV, afiliada da TV Globo, em uma série de cinco reportagens exibida no Jornal da EPTV 2ª Edição, a partir desta segunda-feira (14). Assista no vídeo acima.

O Hospital Mário Gatti é um dos principais hospitais públicos do município. Considerado de média e alta complexidade, a instituição atende, em média, 1 mil consultas de pronto-socorro por dia e faz 600 cirurgias mensais. Entre pacientes e profissionais, a unidade recebe 120 mil pessoas por mês, sendo que 1,1 mil ficam internadas.

No entanto, a unidade tem filas que chegam a quatro horas no pronto-socorro. Além disso, o hospital conta com uma classificação de risco, que tem os níveis verde (pouca urgência), amarelo (urgente) e vermelho (muito urgente). O último deveria ter tempo máximo de espera de 10 minutos, mas, segundo um funcionário que não quis se identificar, isso não acontece com frequência.

“A classificação de risco no Hospital Mário Gátti foi implementada em 2012. A gente não conseguia classificar pelo menos 50% dos pacientes. Hoje, pela falta de funcionários, a gente classifica 20% ou 30%, mas tem dias que não tem como. Aí é por ordem de chegada. A gente sofre de ver o paciente no risco, mas não tem como, olhando, priorizar um ou outro”, disse.

Hospital Mário Gatti faz 600 cirurgias por mês — Foto: Reprodução/EPTV

Improviso

Na sala destinada para os casos graves, a capacidade é de quatro leitos, mas, em alguns dias, chega a ter pelo menos 15 pessoas no local. Algumas pessoas ficam a menos de 30 centímetros de distância. De acordo com outro funcionário da unidade, alguns equipamentos estão em falta e eles têm que improvisar para garantir à assistência ao pacientes. Os trabalhadores também estão sobrecarregados por conta de um déficit na enfermagem.

“A gente teve falta de cadarço para amarrar um tubo que é usado em pacientes de extrema urgência. A gente teve que fazer adaptações técnicas. Fizemos a fixação do tubo com esparadrapo, que é totalmente ilegal”, afirmou.

Em outros locais, como nas unidades básicas de saúde do DIC I e do Parque Floresta, a população também reclama de falta de remédios e médicos. “Não tem material para curativos, não tem médico, não tem nada”, relatou a dona de casa Maria Nilza da Cruz.

Série da EPTV mostra problemas de atendimento no Mário Gatti — Foto: Reprodução/EPTV

Números

De acordo com a Agência Nacional de Saúde (ANS), 73,3 mil pessoas migraram para o Sistema Único de Saúde (SUS) entre 2015 e 2016 em Campinas. O Hospital Mário Gatti recebe R$ 200 milhões por ano para manter as portas abertas e a Prefeitura gastou, no ano passado, R$ 1,4 bilhão na saúde pública, que representa 28% do orçamento total do município.

Segundo o presidente do hospital, Marcos Pimenta, mesmo com os valores, a instituição ainda precisa de mais dinheiro. “Em se tratando de um hospital de alta e média complexidade, nunca vai ser o suficiente”, explicou. O secretário de Saúde, Cármino de Souza, afirmou que o orçamento da pasta em 2017 foi igual ao do ano passado e que também não é o suficiente.

O Ministério da Saúde informou que, em sete anos, dobrou o valor do investimento na saúde para os municípios. No entanto, o especialista em gestão de saúde pública, Edson Bueno, disse que esse dinheiro não é usado corretamente e que nem o governo federal e nem o estado estão garantindo assistência à população.

“Quando se olha o valor proporcional, a gente vê que o governo federal não repassa um valor suficiente e os governos estaduais não chegam nem chegam ao limite mínimo constitucional de 12% do orçamento próprio de gasto com saúde. O país e Campinas não estão garantindo o direito à saúde à população”, contou Bueno.

Mais explicações

O Ministério da Saúde ainda informou que estuda ajustar as formas de financiamento da tabela do SUS e que continua ampliando os investimentos na área. Já o governo estadual contrariou a informação e afirmou que a participação da União diminuiu durante os anos.

Sobre as denúncias no Hospital Mário Gatti, a administração da unidade explicou que atua o máximo de tempo com classificação de risco, mas admitiu que existem “problemas pontuais quando faltam funcionários”. A instituição também negou a falta de material para amarrar o tubo, como disse o trabalhador, e afirmou que trabalha para diminuir o déficit na enfermagem.

Mário Gatti tem classificação de risco para atender pacientes — Foto: Reprodução/EPTV

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