Economia

Banco Central só espera que inflação volte para o centro da meta oficial em 2016

Ata da última reunião do Copom indica também que autoridade monetária não tem intenção de reduzir juros por um bom tempo

BRASÍLIA - O primeiro ano do mandato do próximo presidente deve ser marcado pela alta de preços acima do planejado pelo governo. O Banco Central admitiu que só espera que a inflação volte para o centro da meta de 4,5% nos primeiros trimestres de 2016. A informação é da ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta quinta-feira. A expectativa foi calculada com a hipótese de a taxa básica de juros (Selic) permanecer nos atuais 11% ao ano. Esse pelo menos é o plano de voo do BC, explicitado no documento: deixar os juros estáveis por um bom tempo.

Nas contas do BC, com juros no patamar atual e o dólar em R$ 2,25, a perspectiva para inflação neste ano caiu em relação à projeção feita na reunião do Copom em julho. No entanto, ainda está acima da meta de 4,5%. O número não é revelado nas atas do Copom, mas essa indicação de tendência é importante para os agentes econômicos. O BC apenas divulga esse cálculo nos relatórios trimestrais de inflação. O próximo será publicado ainda neste mês.

Para o ano que vem, o Banco Central informou que a projeção ficou estável. O Copom sublinhou, entretanto, que as expectativas para o IPCA entram em trajetória de convergência para a meta nos “trimestres iniciais” de 2016.

O comitê também deixou claro que não pretende diminuir os juros. A possibilidade era cogitada no mercado financeiro. Alguns negócios foram fechados no mercado futuro sob essa premissa, mas ela foi claramente descartada na ata da reunião da semana passada. No texto, os diretores explicaram que a Selic estável por um bom tempo garantirá que a inflação volte a cair.

"É plausível afirmar que, mantidas as condições monetárias – isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária –, a inflação tende a entrar em trajetória de convergência para a meta nos trimestres finais do horizonte de projeção", disse o colegiado, que completou.

"O Copom destaca que, em momentos como o atual, a política monetária deve se manter vigilante, de modo a minimizar riscos de que níveis elevados de inflação, como o observado nos últimos 12 meses, persistam no horizonte relevante para a política monetária".

Na semana passada, os diretores do Banco Central decidiram —  por unanimidade —  manter a taxa básica de juros em 11% ao ano. A medida era esperada pela totalidade do mercado financeiro, que esperava uma sinalização mais clara sobre os próximos passos. E o BC deu: retirou da nota divulgada no fim da reunião a expressão “neste momento”. Isso foi entendido como um indicativo que a Selic permanecerá estável no futuro, informação confirmada na ata.

A avaliação dos analistas é que o Banco Central está de mãos atadas por causa da inflação acumulada em 12 meses e pela recessão vivida pelo país. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) está em 6,51% : acima do limite máximo da meta do governo que é de 4,5%, mas tem uma margem de tolerância de 2 pontos percentuais.

No campo do crescimento, a economia brasileira encolheu nos últimos dois trimestres . Se o BC voltasse a aumentar os juros para conter a inflação poderia aprofundar a crise nos setores que mais sofrem como, por exemplo, a indústria.