A falta de cor de algumas construções e tapumes em Vitória ganhou a inspiração de versos de pagodes que foram hits nas rádios brasileiras, nos anos 90. Idealizado em 2012 pela designer e educadora social Rayza Mucunã, o Projeto Pagode espalhou pela cidade cartazes no formato lambe-lambe, com frases clássicas do gênero musical.
Para criar os cartazes e aplicá-los, Rayza teve a ajuda dos coletivos Coletivix e Foi À Feira. A intervenção, com letras de grupos como Raça Negra, Os Morenos, Os Travessos e até do grupo Revelação, mais atual, pode ser vista em locais como a Praia de Camburi, o Centro de Vitória e a Alça da Terceira Ponte, chegando a Vila Velha.
A jovem, nascida em Rio Branco, no Acre, mora em Vitória desde 2007. Ela conta que bolou o projeto após ter notado escassez desse tipo de arte na capital capixaba. "Vitória tem poucas pessoas que trabalham com isso, então resolvi apostar. Nunca me dei bem, tecnicamente falando, com o grafite, por exemplo. Pensei em poesia, mas não costumo escrever. A ideia amadureceu e chegou ao pagode", disse.
A opção pelo pagode, segundo Rayza, foi natural. A ideia, depois, foi quebrar o preconceito que cerca o estilo musical. "Não quis colocar nada que já não fizesse parte da vivência das pessoas. Depois, percebi que o projeto serviria até para tirar essa fama de 'sub-gênero' que o pagode tem. Muitas pessoas falaram para eu usar letras de samba, mas falei que manteria o pagode, que sofre a discriminação semelhante ao que o samba sofreu quando surgiu", falou.
O futuro do projeto é incerto, mas Rayza pensa em produzir uma publicação independente, em parceria com o coletivo que faz parte, o Foi À Feira. "A expansão depende do meu tempo livre, da minha rotina. Gasto tempo para fazer e colar. Tenho planos de fazer mais algumas ações para montar uma publicação com esses registros", contou.