Luciana Genro, o melhor momento dos debates presidenciais de 2014 | Paulo Nogueira

Por Paulo Nogueira no Diario do Centro do Mundo

O melhor momento até agora em todos os debates presidenciais de 2014 foi a espetacular enquadrada que Luciana Genro aplicou em Aécio Neves (esta noite) quando ele dava uma patética liçao de moral sobre ética na política – aqui, o vídeo.

A intervençao preciosa de Luciana salvou o debate promovido pela CNBB.
Sao vitais, em campanhas eleitorais, pessoas como Luciana, que falam o que ninguém ousa dizer.

Aécio pediu para apanhar, esta é a verdade. O Pastor Everaldo – triste figura – acabara de se fazer de servo de Aécio. Conseguiu perguntar a ele o que achava do escândalo da Petrobras. Aécio fez aquele surrado discurso moralista que remonta à UDN de Carlos Lacerda. Por acaso, logo depois o sorteio de nomes juntou Aécio e Luciana.

Ele fez uma pergunta a ela sobre educaçao. Pela primeira vez na campanha ela fugiu da questao. Nao resistiu a dizer umas verdades a Aécio. Como ele ousa falar em corrupçao pertencendo a um partido que comprou os votos para a reeleiçao de FHC?, perguntou ela. Como o moralismo das colocaçoes de Aécio se combina com o dinheiro público empregado para a construçao de um aeroporto numa fazenda de sua família?, continuou.

Uma das razoes pelas quais a juventude foi às ruas em junho de 2013 foi a camada espessa e abjeta de hipocrisia que domina o mundo da política. A essa hipocrisia aparentemente invencível, Luciana Genro contrapoe uma sinceridade à qual ninguém está acostumado. Ali, naquele embate, se contrapunha a velha política à nova política. Aécio parecia um museu diante de Luciana Genro. O atraso quando confrontado com a novidade vira uma coisa espectral.

Luciana Genro nao ocupa o lugar folclórico de Plínio de Arruda Sampaio nos debates. Essa posiçao cabe a Eduardo Jorge, do PV. Faz as pessoas rirem, mas ninguém leva a sério. Luciana Genro, nao. Ela nao está nos debates para gerar gargalhadas, mas para dizer as coisas que devem ser ditas – e para fazer a sociedade pensar.

Neste sentido, ela é um enorme avanço em relaçao a Plínio de Arruda Sampaio – e a rigor a tudo, ou quase tudo, que está aí. E sabe debater como poucos. Tem o dom da palavra. Improvisa como se estivesse lendo. Nao erra concordâncias, nao se perde em raciocínios. E à forma acrescenta conteúdo. Sabe atacar e sabe se defender.

Aécio, numa brutal mistificaçao, disse que ela estava se comportando como “linha auxiliar” do PT, isso depois das contundentes críticas dela ao petismo pós-poder – “Linha auxiliar uma ova”, devolveu imediatamente.

Clap, clap, clap. De pé.

Luciana Genro provavelmente ficará com 2%, 3% dos votos. Mas isso nao refletirá o tamanho de seu impacto formidável na campanha de 2014. No mundo corporativo, as empresas precisam desesperadamente das pessoas que vao contra a corrente e falam o que todos silenciam, por medo ou conveniência. Essas pessoas dificilmente chegam ao poder, mas quebram barreiras para que outros possam fazer o que tem que ser feito.

No mundo político, também. Luciana Genro, em 2014, desempenha exatamente este papel – e toda a sociedade deveria ser-lhe grata por isso, concordando ou nao com suas ideias.

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