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Em área com presença de milícia, campanha de Freixo tem jovem evangélico

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro, Rj, BRASIL. 24/10/2016; William Siri, 24, coordenador da campanha de Marcelo Freixo (PSOL) no segundo turno das eleições municipais do Rio( Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
William Siri, 24, coordenador da campanha de Marcelo Freixo (PSOL) na zona oeste

De tênis de skate, jeans, camiseta, aparelho nos dentes e cabelos cacheados clareados pelo sol, William Carlos Brum Bispo, o Siri, 24, caminha pelo centro de Campo Grande, zona oeste do Rio, como um velho político. Cumprimenta comerciantes, abraça conhecidos, comenta as eleições municipais no Rio.

"Foi por pouco!", grita, entre um "colé" e um "tranquilo?", para alguém que quer saber se ele conseguiu se eleger vereador. Com 6.286 votos em sua primeira candidatura, pelo PSOL, Siri virou terceiro suplente da coligação.

Ainda que não tenha sido eleito, seu desempenho foi surpresa numa parte da cidade onde o candidato à Prefeitura do partido, Marcelo Freixo, teve menos de 10% dos votos válidos no primeiro turno e registrou seus piores índices.

Para chegar lá, Siri contou com algo que seu partido não tem de sobra: apoio de evangélicos, ao que ele atribui de 20% a 30% do seu resultado.

Campo Grande é o bairro do Rio com a maior proporção de evangélicos, segundo estudo da FGV de 2000, e também o mais populoso, segundo o Censo de 2010.

No segundo turno, onde Freixo tem como adversário Marcelo Crivella (PRB), bispo licenciado da Igreja Universal de Reino de Deus que teve seu melhor desempenho na zona oeste, Siri foi alçado ao papel de coordenador de campanha do PSOL na região, ao lado de dois colegas que já faziam isso. Na função, coordena a agenda de Freixo e os núcleos de voluntários.

A religião, diz, não tem papel central na estratégia da campanha na região, mas Siri cita que é evangélico quando fala em público, e acha que ajuda.

"Muita gente de igreja que votou em mim não votou no Freixo", diz. "As pessoas vêm trocar uma ideia comigo porque sabem que eu sou evangélico. Perguntam, 'PSOL, o que que é isso? Ideologia de gênero, olha que o capeta está aí'", brinca.

Ele frequenta uma igreja presbiteriana, denominação menos rígida na interpretação de doutrinas.

No início do segundo turno, Freixo foi alvo de ataques nas redes sociais, principalmente do pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, por ser a favor da descriminalização de drogas e aborto.

Siri não acha que vá mudar a opinião de eleitores de Crivella, e acredita que a vitória será difícil. "Quem é convertido para o Crivella não vota no Freixo. Tento convencer quem está na dúvida." Ele próprio rejeita Crivella porque acha que sua gestão seria "mais do mesmo".

A campanha de Freixo diz que ter alguém que dialoga com evangélicos é útil porque ajuda a diminuir o estigma associado a ele, mas o perfil de Siri no site do PSOL não cita sua religião.

A principal aposta dos coordenadores da campanha para crescer na zona oeste é o programa eleitoral na televisão.

A 40 quilômetros do centro, a zona oeste é estratégica porque concentra os três bairros mais populosos da cidade: Campo Grande, Bangu e Santa Cruz.

Além de ser pouco conhecido, Freixo diz ter lá um obstáculo adicional: as milícias, grupos paramilitares que exploram serviços como distribuição de gás e TV a cabo, e que têm presença forte nessa área que concentra boa parte da população mais pobre da cidade.

Em 2008, Freixo presidiu CPI que resultou na prisão de membros desses grupos, e com frequência cita isso como obstáculo, ainda que sua campanha não tenha recebido ameaças concretas.

Na rotina de campanha, Siri evita certas regiões. "Não vou pedir para alguém panfletar sozinho num lugar onde eles têm presença. Não que essa pessoa vá ser morta, mas pode tomar uma dura, e isso já é ruim o bastante", diz Siri.

Filho de comerciário e funcionária da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio), estuda economia em uma universidade particular com financiamento do Fies.

Sempre tivera interesse em política, mas começou a se mobilizar após os protestos junho de 2013. Entrou para o PSB atraído pela figura de Eduardo Campos, depois migrou para o PSOL.

Com um amigo, criou o coletivo Tudo Numa Coisa Só, que organiza eventos na zona oeste. "Isso abriu uma brecha para o pessoal de Tijuca, centro, zona sul, virem para cá. O PSOL é um partido que surgiu na classe média. Tem tradição no centro, zona sul. A nossa campanha colocou a zona oeste no mapa do PSOL."

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