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Evaldo Cabral de Mello é eleito para a Academia Brasileira de Letras

Um dos maiores historiadores do país, ele era o único candidato à vaga
O novo imortal Evaldo Cabral de Mello em sua eleição para a ABL Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo
O novo imortal Evaldo Cabral de Mello em sua eleição para a ABL Foto: Carlos Ivan / Agência O Globo

RIO — A Academia Brasileira de Letras elegeu na tarde desta quinta-feira, em sua sede, o novo ocupante da cadeira 34, vaga com a morte de João Ubaldo Ribeiro em julho. O escolhido foi o historiador e diplomata pernambucano Evaldo Cabral de Mello, eleito com 36 votos de 37 votos possíveis, sendo 16 por carta, e uma abstenção.

Cabral de Mello era o único candidato à vaga. Convencido pelos imortais Eduardo Portella, Alberto da Costa e Silva e Alberto Venancio Filho a se candidatar, ele é um dos maiores historiadores brasileiros em atividade. Irmão de outro acadêmico ilustre, João Cabral de Melo Neto (1920-1999), ele é especializado na ocupação holandesa em Pernambuco (1630-1654), bem como na história da região. Não à toa, ele costuma julgar Maurício de Nassau uma das figuras “mais simpáticas” da História do país.

Entre seus muitos livros publicados, destacam-se obras como “A outra Independência — O federalismo pernambucano de 1817 a 1824” (Editora 34) ou “O negócio do Brasil” (Companhia das Letras). Neste, Cabral de Mello prova com documentos que os portugueses precisaram pagar aos holandeses 63 toneladas de ouro para que eles abandonassem Pernambuco. O historiador revê a tese de que a união de portugueses, índios e negros culminou com a expulsão dos estrangeiros.

O intelectual também é conhecido por criticar o “Rio-centrismo”, a historiografia feita sob o ponto de vista apenas do Sudeste, ignorando outros locais do Brasil. Dono de uma prosa elogiada, Cabral de Mello costuma voltar a fontes primárias, os documentos históricos, para fundamentar suas obras.

O novo imortal recebeu os acadêmicos para comemorar sua eleição no hotel Praia Ipanema. Modesto e de poucas palavras, ele se disse "satisfeito" com a escolha.

— Eles são insistentes. Insistiram comigo nos últimos dez anos muito — riu Cabral de Mello. — Para mim será um programa ir aos chás.

Conhecido por suas pesquisas históricas em fontes documentais, ele disse que interrompeu os trabalhos pela idade e por uma rinite agravada pelo manuseio de papéis antigos. Mas lançou um alerta sobre o estado dos arquivos históricos no pais.

— Hoje os arquivos brasileiros estão abandonados. O Brasil acha que cultura são os espetáculos. Os arquivos estão ( entregues ) às baratas — disse o novo imortal.

Quem compareceu à comemoração pela eleição de Evaldo Cabral de Mello foi Zuenir Ventura, favorito no pleito da próxima quinta-feira na ABL.

— Essa foi uma eleição maravilhosa. Aliás, essa e a anterior, na qual Ferreira Gullar foi eleito. Estava torcendo pelos dois e é claro que torço por mim mesmo também — brincou Zuenir. — Tenho minha esperança e minha vontade de entrar.

O presidente da ABL, Geraldo Holanda Cavalcanti, também comemorou a eleição.

— Já havíamos sido colegas de Itamaraty, agora seremos colegas na Academia. Vamos ganhar com a presença dele — disse.

O historiador e imortal Alberto da Costa e Silva, um dos articuladores da candidatura de Cabral de Mello, destacou as qualidades do colega como pesquisador.

— É um dos maiores historiadores brasileiros. Evaldo tem muito a acrescentar à ABL. Também é um ótimo escritor — disse Costa e Silva.

A candidatura de Cabral de Mello viveu um impasse no começo, quando Zuenir Ventura também quis se candidatar para a vaga de Ubaldo Riberio. Com a morte de Ariano Suassuna, logo em seguida, porém, os articuladores das duas candidaturas costuraram acordo no qual o jornalista passou a concorrer à vaga do autor pernambucano. E Zuenir é o favorito para a eleição que acontece na próxima quinta-feira, dia 30. Será a terceira eleição em menos de um mês. No dia 9, Ferreira Gullar já havia sido eleito para a vaga de Ivan Junqueira.