Edição do dia 13/08/2017

13/08/2017 09h38 - Atualizado em 14/08/2017 16h45

Pecuária ajuda e é ajudada pelo meio ambiente na região do Pampa, RS

Você conhece o pampa? Sabe o que é? O Globo Rural mostra o ecossistema que, no Brasil, só existe no RS e como ele é rico e único.

Hellen Santos e Cristina VieiraRio Grande do Sul

Você conhece o pampa? Sabe como ele é? Para os gaúchos, a resposta pode ser fácil, afinal, o pampa é um ecossistema que, no Brasil, só existe no Rio Grande do Sul. Ele é único e muito rico.

O Globo Rural mostra o que é o pampa e como sua principal atividade econômica, a pecuária, ajuda e é ajudada pelo meio ambiente.

Mata nativa é árvore ou é pasto? A resposta parece fácil. Florestas densas e altas, em grande parte do Brasil, a árvore é símbolo de natureza, de mata preservada, mas e se o pasto for tão rico como uma floresta? Dá pra acreditar?

Uma mata rasteira, mas muito diversa, milhares de espécies. 60% do pampa original é formado por esses campos nativos.

Planícies extensas. Pasto até onde os olhos alcançam. Essa é a cara do pampa, o menor dos cinco biomas brasileiros, presente em apenas 2% do território nacional. São 176 mil quilômetros quadrados exclusivos do Rio Grande do Sul. Ali, o pampa ocupa 63% do estado e depois se estende pelos nossos vizinhos: Uruguai, Argentina e uma pontinha do Paraguai.

A naturalista Ilsi Boldrini nos leva para uma incursão com a equipe de botânica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Nos arredores de Porto Alegre, onde a mata atlântica encontra o pampa, um quadrado feito de cano plástico é usado como medida pelos pesquisadores.

O nome científico das plantas parece outra língua, mas o campo é cheio de coisa conhecida: rabo-de-burro, macela, alecrim do campo e por aí vai.

“Em um metro quadrado de vegetação campestre no pampa, varia muito de região para região, mas pode haver 30, 35, talvez 40 espécies. De forma geral, no bioma pampa a gente já pode ter números mais elevados. Nosso recorde de um levantamento feito por nossa equipe é de 56 espécies num único metro quadrado. É muita coisa. É comparável com a diversidade de uma floresta tropical”, explica Gerhard Overbeck, engenheiro ambiental.

A diversidade é coletada e investigada em detalhes. Composição, nutrientes, todas as espécies conhecidas estão em um banco de dados.

Depois de identificar as plantas no laboratório, os pesquisadores trazem tudo para o herbário da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. As plantas viram amostras em pastas, cada pasta para uma espécie com a planta inteira ou parte dela, a flor, o fruto. São muitas amostras, armários cheios, lotados, um acervo que chega a 170 mil amostras. Pelo menos, 2 mil são de espécies nativas dos campos do pampa. Os armários têm muito da história dessa região.


Pasto alimenta o gado e a pecuária
Quando a planta foi coletada, os campos gaúchos já tinham uma vocação: a pecuária. Desde a época colonial, o pasto variado alimenta o gado e movimenta a produção de carne, hoje concentrada na região conhecida como Campanha. São os municípios do sudoeste, já na fronteira com Uruguai e Argentina.

Uma paisagem típica do Rio Grande do Sul, as cochilhas são colinas, o gado fica no pasto nativo. É o pampa conservado, mas gerando produtividade.

Assim como essa, outras fazendas da região estão conseguindo bons resultados sem agredir o meio ambiente. No açude, o gado divide espaço com o colhereiro.

Em Uruguaiana, em uma das fazendas de João Paulo Schneider, tem lavoura de arroz, mas metade dos 8 mil hectares é de mata nativa, ou melhor, pasto do pampa.

A propriedade é uma das 130 que se uniram em um programa ambiental internacional, a Alianza Del Pastizal, nome em espanhol que quer dizer aliança das pastagens. Todas elas têm pelo menos metade das terras reservadas para a vegetação nativa, que alimenta o gado.

Em uma propriedade em Quaraí sempre foi assim. A certificação foi uma consequência da pecuária extensiva e do campo nativo, que ocupa 90% da fazenda. Victor Wortmann, que hoje toca a propriedade, é publicitário e voltou de Porto Alegre para cuidar das terras da família. Apostou na força do pampa para a pecuária.

“Basta uma viagem para qualquer lugar do mundo, principalmente os países do Hemisfério Norte, onde se vê um crescimento constante pela carne a pasto. Isso nós temos aqui”, diz.
Há pouco mais de um ano, a carne produzida nas fazendas da Alianza é vendida em supermercados de Porto Alegre e São Paulo com um selo especial, que conta de onde ela vem. A aposta é que o consumidor leve isso em consideração.

Desafio no varejo e no campo. O chão do pampa é rico, mas raso. Além das gramíneas e leguminosas, tem pedras e cactos. Conseguir produtividade é uma missão que os proprietários estão alcançando com investimentos simples.

Nas terras de Eduardo Eichemberg, 80% da área está com vegetação nativa. O restante é reservado para o inverno, com o plantio de azevém, uma gramínea que vai muito bem nos meses frios.

“Nessa propriedade específica, a gente usa estratégias de manejo integrado entre o campo nativo e as áreas de pastagem de inverno”, diz.

A principal técnica é chamada de diferimento, onde uma parte do pasto nativo fica vazia, sem animais, por períodos de 30 até 90 dias. A reserva coincide com o momento em que as plantas nativas ganham sementes e criam novas mudas, como mostra a reportagem completa no vídeo acima.


O pampa é o menor bioma brasileiro e só foi reconhecido oficialmente em 2004. Antes era considerado parte da Mata Atlântica. E sabe aquele ditado: a gente só cuida do que conhece? Pois ele cai muito bem para o pampa. Antes mesmo do reconhecimento, o pampa já tinha perdido mais da metade da vegetação original, como mostra o vídeo abaixo.

 

 

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