Entristece-me e angustia-me receber um pedido para colocar offendicula em escolas, – hoje se diz “concertina” – ou aumentar a altura dos muros, ou gradear esse espaço de aquisição do conhecimento.
O fato é que aumentam os furtos perpetrados contra esse lugar sagrado chamado escola. Culpa da crise? Pode ser uma concausa. Mas o fenômeno é muito mais sério. Evidencia a completa ausência de freios inibitórios por parte dos ladrões. Com certeza, não passaram pelos bancos escolares. Se chegaram a passar, pior ainda.
De que valeu a permanência no lugar encarregado de transmitir valores, de formá-los para a cidadania responsável, para o convívio fraterno e para a edificação de uma Pátria Solidária?
Países civilizados oferecem espetáculo edificante. Suas escolas são preservadas com carinho. Situam-se em meio a jardins floridos, ostentam pintura imaculada, não há muros, nem grades, nem cercas, nem portões.
A comunidade zela pela conservação desse patrimônio que é do povo, não do governo. Não existe legislação diferente. Aqui também, o constituinte converteu a educação em direito de todos e dever do Estado e da família, em colaboração com a sociedade. E a segurança pública, direito de todos e dever do Estado, não é responsabilidade exclusiva do governo, senão de todas as pessoas, igualmente interessadas na manutenção de um clima propício ao pleno desenvolvimento de todos, a fim de que atinjam as potencialidades com que todos dotados, até se atingir a plenitude possível?
Não é possível continuar a considerar normal o que se perpetra contra o patrimônio coletivo, em detrimento não só da economia, da racionalidade e do ideal de convivência, mas traduzível em substancial perda de uma riqueza intangível, que é o caráter brasileiro. É urgente que a parcela saudável da comunidade se articule, não perca a capacidade de indignação e que aja com responsabilidade cívica.
Todos somos chamados a liderar uma cruzada contra essa criminalidade covarde, que ataca edifícios construídos com dinheiro do povo e destinados a melhorar a qualidade de vida nacional, cuidando da formação dos cidadãos de amanhã.
Indignemo-nos e ajamos!
Fonte: Jornal de Jundiaí | Data: 23/11/2017
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo
Foto: Milton Michida/A2IMG
Fachada da E.E Culto à Ciência, em Campinas