Por G1


Infecções hospitalares e dosagem incorreta de medicamentos estão entre as causas — Foto: Agência Brasil

Um levantamento do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) divulgado nesta quarta-feira (22) mostra que até 829 brasileiros morrem por dia em decorrência de situações que poderiam ter sido evitadas – estimativa que chega a 3 (2,87) mortes a cada 5 minutos.

Ao todo, em 2016, 120.514 a 302.610 morreram em hospitais públicos e privados em decorrência dessas "falhas", segundo a projeção do estudo.

Erro de dosagem em medicamentos, uso incorreto de equipamentos e infecção hospitalar estão entre as causas evitáveis. Segundo a pesquisa, dos 19,1 milhões de brasileiros internados em hospitais ao longo de 2016, 1,4 milhão passou por pelo menos um evento que poderia ter sido prevenido.

Dentre as maiores vítimas, estão bebês com menos de 28 dias e idosos com mais de 60 anos. Nesse grupo, quedas no hospital, infecções localizadas da cirurgia, trombose venosa e embolia pulmonar estão entre as causas evitáveis mais frequentes.

Ainda, infecções associadas ao uso de sonda e a de cateter venoso central são causas comuns que poderiam ter sido evitadas, aponta o levantamento.

O estudo tem como um dos responsáveis o médico Renato Couto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Os pesquisadores usaram dados do Sistema Únido de Saúde (SUS) e de prontuários em hospitais que atendem por plano de saúde.

Com base nesses dados, os cientistas usaram três principais referências na literatura científica – um estudo americano de 1991, um outro nos hospitais do estado do Rio de Janeiro e uma dissertação de mestrado da própria UFMG, de acordo com uma das envolvidas na pesquisa, Tânia Grillo.

De acordo com Grillo, cada um desses estudos prevê porcentagens diferentes de mortes após internações devido a eventos adversos da assistência dos hospitais. Com isso, foi feita a estimativa por meio de cruzamento com os atuais registros de internações nos hospitais brasileiros.

"Pegando esses três artigos, foi feita uma estimativa para caso o Brasil, como um todo, tivesse o mesmo comportamento de ocorrência de eventos adversos previstos nestes trabalhos. Qual seria, então, a magnitude da manifestação de óbitos associadas com eventos adversos que poderiam ser prevenidos?", disse Grillo.

Qualidade dos hospitais no país

Uma outra pesquisa de 2009 ("Desempenho hospitalar no Brasil", de La Gorgia e Couttolenc) foi usada para situar a qualidade dos hospitais no país. Segundo esse estudo, o hospital brasileiro típico tem pequeno porte e tem apenas 34% da eficiência se comparado aos melhores hospitais do país.

Os hospitais brasileiros também possuem modelos de gestão inadequados e pagamento com base na produção. Ainda, 60% dos hospitais têm até 50 leitos, contra um porte mínimo recomendado de 200 leitos.

Na conclusão, os autores do levantamento apontam ser necessário qualificar a rede hospitalar brasileira, incluindo a gestão baseada em normas certificáveis. Uma melhor padronização, afirmam, melhora o resultado de redes assistenciais.

CFM questiona

O Conselho Federal de Medicina (CFM) divulgou uma nota sobre o estudo em que defende que não seja usada na expressão "erro médico". A instituição diz que a pesquisa "destaca as falhas do processo de atendimento, ocorridas no ambiente hospitalar, as quais não são necessariamente causadas por médicos".

Além disso, o CFM também avalia que "é inadequado o tom alarmista dado ao tema, pois se trata de um estudo de projeção de dados, com limites reconhecidos pelos seus autores."

"De qualquer modo, o documento está correto ao concluir que, no Brasil, as deficiências na infraestrutura física, os problemas nos equipamentos disponíveis para a assistência, as falhas administrativas e a falta de controle interno nos estabelecimentos, entre outros pontos, comprometem os processos de atendimento, o que dificulta a atuação de todas as categorias da saúde envolvidas nos cuidados aos pacientes, inclusive dos médicos."

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