Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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04/09/2014 (Nº 49) IMPERMEABILIZAÇÃO EXCESSIVA DO SOLO: IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS
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BIOLOGIA CRIATIVA

 IMPERMEABILIZAÇÃO EXCESSIVA DO SOLO: IMPACTOS AMBIENTAIS NEGATIVOS

 

 

FERNANDES, Maria de Lurdes Flores¹

RAMOS, Marilene¹

TOLENTINO, Marcella¹

FOFONKA, Luciana²

 

RESUMO

 

O tema Impermeabilização Excessiva do Solo: Impactos Ambientais Negativos, diz respeito a um problema não tão atual, mas que não tem tido a devida atenção. Com o excesso de impermeabilização, corta-se parte do ciclo natural das águas das chuvas que caem em fartura em algumas épocas, sobrecarregando um sistema frágil de escoamento e comprometendo ainda mais, a qualidade das águas, seja pela preservação da natureza ou para abastecimento da população. É necessário um sério trabalho de educação ambiental paralelo a uma maior fiscalização dos órgãos responsáveis para evitar o aumento da impermeabilização do solo.

 

Palavras-chave: Impermeabilização; Escoamento; Águas.

 

 

1 INTRODUÇÃO

 

Este estudo pretende mostrar os problemas de drenagem das águas pluviais causadas pelo excesso de impermeabilização do solo urbano devido à explosão imobiliária somada as grandes vias de escoamento de trânsito, também totalmente impermeabilizadas por asfalto ou concreto. Apresentar as consequências que este crescimento desordenado reflete na desestabilização das margens dos cursos hídricos, na contaminação das águas, do solo e lençol freático, facilitando o acúmulo de resíduos sólidos. Diante desta constatação visa provocar uma reflexão sobre um tema intrínseco no nosso cotidiano.

  

 

2 A IMPORTÂNCIA DO ESCOAMENTO CORRETO DAS ÁGUAS EM PARALELO AO CRESCIMENTO IMOBILIÁRIO

 

            Antigamente a ocupação urbana era composta por casas de moradia, que comportavam uma

________________

¹ Alunas do Curso Tecnólogo em Gestão Ambiental. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

² Professora Curso Tecnólogo em Gestão Ambiental. Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

família, com seu pátio, horta, jardim, árvores e gramados, mas que aos poucos vem dando lugar a grandes edifícios ou condomínios, que abrigam várias famílias com seu consumo de água multiplicado em várias vezes, somado a grande parte do terreno quase na sua totalidade impermeabilizado. Assim cria-se a necessidade de mais atenção para o escoamento correto das águas, esgotos cloacais e pluviais, com normas que sejam levadas a sério, para que não entre em colapso todo sistema de escoamento, principalmente nos dias de grande precipitação pluviométrica.

Basta olhar nos sites de mapas/fotos como, por exemplo, do Google, para ver a escassez de áreas verdes rasteiras, e o excesso da cor cinza, dos telhados, pavimentação de ruas, calçadas e pátios. Conforme levantamento que consta no o Manual do Plano Diretor de Drenagem Urbana - Porto Alegre (2005):

 

A partir da década de 70, a capital teve um aumento de 46% na ocupação urbana, gerando grandes áreas impermeáveis, e de obstrução das redes coletoras por lixo mal acondicionado. O desenvolvimento desordenado da cidade causou o desmatamento intensivo e os inevitáveis problemas de drenagem. A vegetação que cobria a maior parte dos morros e margens de arroios em Porto Alegre foi sendo eliminada. Dessa forma o solo está mais exposto ao efeito das chuvas, que carregam a terra rapidamente para as partes mais baixas da cidade, causando assoreamento das redes pluviais.

 

            A pavimentação das vias públicas tem importância relevante ao bom fluxo do trânsito. Hoje a sociedade não tolera mais barro, poeira, nem mesmo calçamento por paralelepípedos. Criou-se a cultura do asfalto, do concreto, da pista plana e embora não recomendado, própria para velocidade. Não se vê mais nem o respeito à sarjeta permeável, que em algumas ruas ainda se mantém e ajuda a infiltração das águas.

Nas grandes áreas de estacionamento, por exemplo, seja de shopping, hipermercados... Embora se tenha diversos materiais disponíveis no mercado de pavimentação que permita a drenagem, não ocorre sua utilização em grande escala. Talvez por uma questão de diferencial de custos, de manutenção, ou de uma política relapsa de pouca rigidez e visão sobre a questão ambiental.

            Os projetos de drenagem urbana tem como meta escoar a água precipitada o mais rápido possível para a jusante dos rios mais próximos, em contra partida, o crescimento desordenado, ocupa o leito maior dos mesmos, tirando a liberdade da sua elasticidade de níveis de enchente e seca.

           

 

3 AS CONSEQUÊNCIAS MAIS COMUNS E PROVÁVEIS

 

            Tanta interferência traz um ônus difícil de administrar, que poderia ser evitado, ou amenizado com atitudes advindas da conscientização. Os problemas já fazem parte do nosso cotidiano, principalmente com qualquer chuva torrencial. Segundo o Manual do Plano Diretor de Drenagem Urbana - Porto Alegre (2005):

A drenagem proveniente de um lote, condomínio ou outro empreendimento individualizado, estacionamentos, parques e passeios [...] De acordo com a regulamentação municipal, a drenagem desta área deve possuir uma vazão máxima de saída igual ou menor que a vazão máxima do pré-desenvolvimento. O Decreto Municipal que regulamenta os aspectos de drenagem urbana do Plano Diretor (cap. 3), especifica procedimentos para áreas menores e maiores que 100 ha. [...] Para áreas maiores é necessário estudo hidrológico específico.

 

3.1 CONSEQUÊNCIAS DIRETAS NO MEIO AMBIENTE

 

Podem-se identificar alguns tipos de impactos ambientais negativos, como:

  • Impacto direto no solo:

Redução de infiltração da água da chuva no solo;

Afundamento de terreno, ruindo em crateras, hoje já frequentes em grandes cidades, pela desidratação da terra e não sustentação do solo na baixa do nível da água dos lençóis freáticos;

Acúmulo de lixo em baixadas, contaminando o solo com a lavagem das ruas e resíduos sólidos em deterioração.

  • Impacto nos cursos hídricos:

Transferência do volume de água excedente não infiltrada no solo, para a caixa dos rios;

Aumento da velocidade das águas, grande causa de desbarrancamentos e assoreamentos nas margens dos rios;

Elevação dos níveis na jusante, principalmente quando há estreitamento por aterros, pontes, ou proximidade do mar, pelo represamento das águas;

Aumento da temperatura das águas dos rios, formando bolsões aquecidos onde recebem as águas vindas do calçamento, altamente prejudicial à vida aquática e fomentando a proliferação de bactérias;

Alteração do pH e composição química natural da água dos rios. Entre outros.

  • Impacto na atmosfera:

Interrupção do ciclo da evaporação natural, da água antes retida pelos charcos naturais, gramados, folhas e terra. Com isso fica limitada aos parques e às poucas áreas verdes.

  • Impacto social e de saúde pública:

Grandes áreas de alagamento instantâneo, causando transtornos para logística urbana, desde o fluxo dos carros, dos coletivos, panes, corte de energia nos semáforos entre outros;

Inundação de edificações residenciais e comerciais, principalmente nas proximidades de riachos, arroios e baixadas;

Danificando a pavimentação, abrindo buracos e valas em calçadas, gerando custos tanto particular como públicos, com reparos na erosão urbana;

Molhando os pedestres, sujeitos a contaminação por doenças além dos resfriados;

As populações ribeirinhas em condições mais precárias, rio abaixo, serão mais afetadas por este despreparo nos grandes centros.

Com águas dos rios mais poluídas, por metais pesados e elementos tóxicos, o reflexo se fará sentir na má qualidade da alimentação produzida com a utilização destas águas nas propriedades rurais, deste a agricultura de campo, os hortifrutigranjeiros, pecuária, piscicultura, granjas de criação, e no meio ambiente em geral.

 

3.2 CONSEQUÊNCIAS EM PORTO ALEGRE, RS

 

Com a impermeabilização excessiva, necessitamos de mais recursos para escoamento, como as 75 mil bocas de lobo e poços-de-visita, que conduzam as águas para as devidas canalizações que estão em constante manutenção, gerando custos e em algumas ocasiões, atenção emergencial como a limpeza das galerias para remover a sedimentação, lixo e outros sólidos, com técnicas variadas.

            Porto Alegre possui cerca de vinte e sete arroios perfazendo uma extensão aproximada de 60 quilômetros que necessitam de dragagem pelo menos a cada dois anos. Os demais arroios e valos são limpos conforme a necessidade pela frequência de enxurradas e os resíduos sólidos ali acumulados. O Arroio Dilúvio é o principal arroio da região urbana de Porto Alegre com 12 quilômetros de extensão e vários afluentes, entre outros os Arroios Moinho, Cascatinha, São Vicente e Santa Cecília. Devido à grande quantidade de materiais despejados por seus afluentes, necessita ser dragado com maior periodicidade e por isso tem uma programação permanente.  De 2006 até agora, foram retiradas mais de 305 mil toneladas de material e entulho do leito e foz do Arroio, resíduos em sua maioria trazidos pelo recebimento das águas das chuvas.

 

4 REFLEXÕES, ALGUMAS ATITUDES E MEDIDAS

 

As medidas adotadas para evitar a impermeabilização excessiva do solo, bem como as regras e leis relacionadas, devem ser reajustadas, aprimoradas, supervisionadas e cumpridas com maior rigor e atenção pelos órgãos responsáveis e pela comunidade.

Mas apenas criar leis e fiscalizar não é garantia de conscientização ambiental, sendo necessário então que os órgãos públicos trabalhem com projetos de educação ambiental, sensibilizando a sociedade para juntos ajudem a conservar os nossos solos com a permeabilização necessária.

É importante considerar que não deve ser transferido para a jusante o excedente de águas vindo da urbanização. Deve ser levado em conta que a água não respeita limites políticos, portanto, a bacia hidrográfica deve ser território de avaliação.

Futuras ocupações urbanas devem ser levadas em conta.

O zoneamento deve ter a preocupação de delimitar a área natural ocupada pela enchente. Geralmente quem mais produz este tipo de impacto, não é quem mais sofre, pois, quem mora mais rio abaixo é que sofrerá os maiores prejuízos.

Também é importante se fazer uma combinação harmoniosa da microdrenagem com a macrodrenagem na urbanização e loteamentos. Uma política de realocação de moradores, recuperação e educação preventiva, com respeito à APP para margens de cursos de água.

Além disso, é necessária a construção de mais diques para amenizar o impacto ambiental na jusante, com devido tratamento.

Por suas características geográficas, Porto Alegre, RS é a única capital brasileira a contar com um órgão específico para implantação, conservação e desenvolvimento de tecnologias de drenagem urbana. Conta com sete diques, internos e externos, que talvez nem fossem necessários, se tivesse crescido numa evolução consciente e programada quanto à infiltração, reduzindo este fluxo.

 A recuperação da infiltração natural da bacia deve ser prioridade, pois, em áreas já urbanizadas, há restrições e avaliações a serem feitas para o uso da pavimentação permeável, infiltração ou percolação (URBONAS & STAHRE, 1993).

 

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

            Como esperar que interferindo de tal forma no ciclo natural das águas, não se teria que arcar com consequências desastrosas e dolorosas. É a inevitável a “lei de causa e efeito”. Tudo que está na natureza levou séculos, milênios para se ajustar e não há quem tenha o direito de, em breve passagem por aqui, alterar arbitrariamente vastas áreas de harmonia ecológica.

 

 

REFERÊNCIAS

 

PLANO DIRETOR DE DRENAGEM URBANA – Manual de Drenagem Urbana Vol. VI, Prefeitura Municipal de Porto Alegre, DEP – Departamento de Esgotos Pluviais. Instituto de Pesquisas Hidráulicas Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2005.

 

URBONAS, B.; STAHRE, P. Stormwater Best Management Practices and Detetion, Prentice Hall, Englewood Cliffs, New Jersey. 450p. 1993.

Ilustrações: Silvana Santos