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Bandas de heavy metal israelense e palestina se juntam pela paz no Oriente Médio

Sonho dos músicos é unir as duas nações; e veem na educação a solução para o conflito político

Orphaned Land: união com a banda Khalas em nome da paz no Oriente Médio
Foto: Divulgação
Orphaned Land: união com a banda Khalas em nome da paz no Oriente Médio Foto: Divulgação

JERUSALÉM - Muitos israelenses e palestinos têm se sentido como se estivessem batendo suas cabeças contra um muro ao procurarem por uma solução para o conflito entre eles. Mas um par de bandas heavy metal com representantes das duas nações têm feito uma aproximação nada convencional para acabar com o impasse - literalmente batendo a cabeça pela paz.

Dividindo um ônibus, um palco e uma tocante mensagem de otimismo, Orphaned Land - composta de judeus israelenses pioneiros do "metal oriental" - e Khalas, a banda de seus “brothers” palestinos, tocaram em Londres, Manchester, Norwich, Bilston e Wolverhampton, Inglaterra, como parte da turnê europeia.

Khalas, também conhecida como a Orquestra de Rock Árabe, foi formada em 1998 e tem como inspiração as bandas AC/DC e Black Sabbath.

Orphaned Land, na estrada desde 1991, se apoiou no Metallica e tem sido descrita como "muito provavelmente a banda mais conhecida no Oriente Médio". Ano passado, os fãs dos israelenses começaram até uma petição on-line para indicá-los ao Prêmio Nobel da Paz.

Os dois grupos divergem quando se trata da composição. A Orphaned Land traz músicas carregadas politicamente, enquanto Khalas ("basta" em árabe) "deixa a música se expressar por ela mesma".

- Eu sinto, como palestino, que tenho o direito de escrever músicas sobre cerveja, sobre meninas lançando sutiãs para a gente no palco - diz Abed Hathut, o guitarrista da Khalas. - E me aborrece porque quando eu respondo a isso, muitas pessoas dizem que sou israelense. Que se dane isso! Se eu não falo sobre a ocupação, de repente eu sou um israelense...

Hathut e Kobi Farhi, 38 anos, vocalista da Orphaned Land, cresceram e ainda vivem em cidades etnicamente mistas - Farhi em Jaffa, perto de Tel Aviv; Hathut em Acre, Nordeste de Israel.

A dupla se encontrou em um estúdio de rádio há uma década e desde então construiu uma sólida amizade, que evoluiu para uma aliança musical contrapondo boicotes artísticos e promovendo em pequena escala o processo de paz que os extremistas ignoram.

Nenhum deles jamais votou e ambos reivindicam o direito pela união em nome da arte.

- Eu não confio em políticos de qualquer posição - diz Hathut, de 33 anos. - É um jogo sujo.

Farhi, de cabelos longos, barba e muitas tatuagens, garante: - Eu nunca pude encontrar algum algoritmo para traduzir o que conheço da política. Eu ainda estou esperando. Enquanto líderes levam metade do ano apenas para negociar os termos para se sentar a uma mesa, e não ainda para discutirem os problemas, nós sentimos que estamos acima deles. Israelenses e árabes são irmãos de acordo com a História: ambos são descendentes de Abraão.

Hathut, de cabeça raspada e cavanhaque, diz: - No dia a dia, eu sinto que cada lado faz tudo para nos separar. Quando as pessoas ficam amendrontadas, é fácil controlá-las. O que fazemos e a nossa amizade são muito perigosas para esses líderes.

Orphaned Land conta dezenas de milhares de fãs entre países árabes vizinhos, da Síria à Arábia Saudita, mas muitos banem a música deles e proíbem a entrada de israelenses.

Uma música do novo álbum da Orphaned Land é dedicada às crianças da Síria, país que Farhi deseja visitar.

- Eu vou até a pé para me apresentar lá. Eu pago para me apresentar lá. O sonho de uma banda é encontrar com os fãs em qualquer lugar. Estou alcançando (a marca de) 40 países no mundo, mas os próximos ao meu eu não posso visitar.

A dupla ainda tem uma resposta para a aparente questão impossível sobre como resolver o impasse político.

- Na verdade não é tão impossível - insiste Farhi. - Algumas coisas deveriam acontecer. Primeiro, uma mudança em todo o sistema educacional. Em vez de começar a abastecer as crianças com armas de brinquedos quando têm 3 anos de idade, nós vamos começar apenas a ensinar-lhes sobre o valor da vida. Gostaria de levar as crianças israelenses a povoações árabes, e de levar crianças árabes para visitar as israelenses. Elas poderiam jogar futebol juntas, aprender sobre semelhanças no idioma delas, aprender História, o quanto iguais elas são. A segunda coisa é, entre milhões, precisamos de dois políticos cuja amizade seja similar à minha e à de Abed. E seríamos como pastores conduzindo as nações deles. E será uma geração em que tudo esteja estabilizado.

Ambos riem quando Hathut dá um sorriso irônico:

- Isso não vai acontecer.