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Narcos, nova série do Netflix, tropeça no espanhol de Wagner Moura

Narcos, nova série do Netflix, tropeça no espanhol de Wagner Moura

Série dirigida por José Padilha é viciante, mas hispânicos reclamam do sotaque de Wagner Moura como Pablo Escobar

BRUNO FERRARI
31/08/2015 - 18h51 - Atualizado 03/11/2016 22h09
Wagner Moura como Pablo Escobar: hispânicos reclamaram do portunhol do ator brasileiro (Foto: Reprodução)


Comer, Rezar e a Amar é um filme fraquinho, aquele chamado "água com açúcar". Mas pior do que o filme em si é a atuação do Javier Bardem (um bom ator), interpretando um brasileiro que fala um português macarrônico. Demorei a lembrar em qual filme Bardem tinha feito esse papelão para dar a dimensão de como a atuação dele me marcou mais do que o filme em si.

Lembrei disso assim que assisti às primeiras cenas de Narcos, nova série do Netflix, que retrata a vida do traficante colombiano Pablo Escobar. São 10 capítulos com o melhor que já conhecemos de José Padilha, diretor de Tropa de Elite. É viciante. Daquelas séries que tomam um fim de semana inteiro e te deixam desesperado esperando pela próxima temporada. 

Dito isso, não dá para ignorar o espanhol carregado de Wagner Moura, que vive Escobar.  Os americanos não percebem, porque português e espanhol devem soar parecidos para eles. Narcos é quase uma unanimidade de crítica nos Estados Unidos no que diz respeito à atuação do brasileiro.  No IMDB, Narcos está com uma nota de 9,3 em 10, que a coloca entre Sopranos e Breaking Bad (duas das melhores séries que já assisti). Li uma crítica que comparou Wagner Moura como Escobar a James Gandolfini vivendo Tony Soprano - um facínora por quem você se apaixona. Tive a mesma sensação.

Depois do terceiro capítulo você, brasileiro, americano ou não-hispânico, já está acostumado com o sotaque e passa a se concentrar na série. Vi algumas críticas positivas que achavam o detalhe do sotaque algo "menor". Mas e os milhões de espectadores hispânicos? Só na Colômbia, no início do ano, eram mais de 500 mil assinantes do Netflix. Deve ser impossível dedicar 100% de sua atenção à série ao ver um brasileiro falando seu idioma nativo com sotaque. Troquei um email com uma colega jornalista colombiana que elogiou a atuação de Moura e completou com um "Mas ele não é Pablo Escobar".

No trailer em espanhol da série, os comentários vão nessa linha: "Se ve bastante buena. pero me mato el español de Pablo Escobar", escreveu o usuário Juan Perez. Já Juan Esteban Cortés comentou: "Respeto mucho al actor brasileño que interpreta a Pablo Escobar, pero definitivamente, tenía que ser un actor Colombiano con un marcado acento Antioqueño el encargado de darle vida en esta serie". Reclamação justa.


Por esse pequeno (grande) detalhe, diria que Narcos tropeçou. O pior para uma série de um personagem tão marcante é a sua interpretação parecer inverossímil. Especialmente para o público que mais acompanhou a vida de Escobar. Bardem não estava nem próximo de ser um brasileiro para mim. Pelos comentários, Moura não está próximo de ser um colombiano para quem tem o espanhol como língua nativa.

Preciosimo? Talvez. Uma amiga minha diz no Facebook: "O Wagner Moura fala espanhol bem na série. Com sotaque, sim, perceptível em muitos fonemas. Mas bem". Só que eu proponho que façamos um exercício. Seria o equivalente a colocar um ator hispânico consagrado para interpretar uma série sobre a vida de Fernandinho Beira-Mar. Ficaria estranho para um paulista interpretar o sotaque carioca carregado, imagine para um estrangeiro.

Wagner Moura não falava espanhol e deu um duro danado em seis meses para pegar os trejeitos de Escobar e da língua. Ficou claro que não foi o suficiente. A série merece algum esforço nesse sentido para a próxima temporada.








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