O dia em que a Ocupa MinC acordou na favela

No dia em que a ocupação artística contra o governo golpista de Michel Temer completaria 70 dias de ocupação, as dezenas de ativistas culturais que estavam acampados no mezanino do Palácio Gustavo Capanema viveram momentos que infelizmente são rotina para um morador de favela. Viveram tudo isso com um efetivo de cerca de 50 homens fortemente armados com fuzis, metralhadoras, granadas de efeito moral, mascarados e sem identificação.

Ao contrário da Polícia Militar, que mete o pé na porta do trabalhador de manhã cedo e bota o cano da arma na cara do trabalhador, na desocupação da sede do MinC/RJ (Ministério da Cultura) eles chegaram sorrateiros e enfiando o cano de suas armas em cada barraca, uma a uma. Chegaram com a delicadeza de sempre: “Perdeu, vagabundo!” era a forma de abordagem dos policiais. Aos gritos e ameaças, deram 5 minutos para todos saírem dali levando seus pertences. Ora, estávamos acampados há 70 dias em três espaços diferentes dos prédios. Para sair tão rápido, a gente precisaria de 50 The Flashs para conseguir tal façanha. No segundo andar, onde thavia menos barracas, a abordagem foi ainda mais truculenta: um rapaz foi acordado por quatro policiais, com armas apontadas para sua cabeça.

De volta ao mezanino, negociava-se um aumento de tempo para desocupação com os policiais federais, que tal qual a PM, prosseguiam com a ação de forma truculenta e até violenta. Duas meninas foram tiradas seminuas à força de suas barracas. Outras foram puxadas pelo braço e jogadas no chão violentamente. Uma outra companheira, que se recusava a sair sem seus pertences, foi agarrada pelo pescoço por um brutamontes de quase dois metros de altura. Um rapaz foi defendê-la e recebeu o mesmo tratamento. Foram nos encurralando até nos colocar para fora do prédio. Depois de quase três horas, eles finalmente conseguiram o seu intento.

Esse tratamento que a polícia dispensou aos manifestantes pacíficos é uma pequena amostra de como o Estado age nas áreas de comunidades periféricas. Não pensemos que é só a PM que odeia os direitos humanos. Todas as forças de segurança do Estado a consideram como uma inimiga mortal de seu modus operandi. É triste e assustador ver que estamos à beira da instauração de um Estado policialesco e totalmente repressivo. Os retrocessos são enormes e alarmantes. O que dizer de um governo federal que extingue uma secretaria de direitos humanos, igualdade racial e dos direitos das mulheres? O governo anuncia que vai mexer nas leis trabalhistas e que vai aumentar os impostos no ano que vem. Em pouco mais de dois meses, reduziram drasticamente o número de beneficiários de programas educacionais, pesquisas e bolsas de estudo. Querem privatizar o SUS, as universidades públicas e colocar goela abaixo o projeto Escola Sem Partido, que, na verdade, é um programa que busca extinguir o pensamento crítico dos alunos.

Estamos à beira de um precipício moral e ético, e a pergunta que me faço é a seguinte: cadê o povo nas ruas? Falo do povo de verdade, as pessoas das periferias de todo o Brasil. As classes menos favorecidas têm que se conscientizar que o arrocho vai ser maior para o lado deles. São os mais pobres que terão que trabalhar mais e ganhar menos, são essas pessoas que serão as primeiras a perderem seus direitos trabalhistas e são essas pessoas as maiores vítimas da violência do Estado policial que se transformou nosso Rio de Janeiro há muito tempo. Minha vontade é ir de favela em favela com um carro de som e gritar: “Alô, povo preto, nordestino e favelado! Venham para as ruas lutar pelos seus direitos e pelos direitos dos seus filhos! Não acreditem na mídia oficial! Você sofreu um golpe quando invalidaram o seu voto! Não acreditem nesse governo, pois ele não os assistirá! Venha com a gente na luta e só pare quando o Temer cair!”.

Viva a Ocupa MinC RJ!