Reuters

30/09/2015 09h32 - Atualizado em 30/09/2015 16h37

Rússia lança ataques aéreos na Síria

Parlamento russo autorizou uso de tropas para apoiar forças de Assad.
Para os EUA, ação é contraproducente; país foi avisado uma hora antes.

Do G1, em São Paulo

A Rússia começou nesta quarta-feira (30) a realizar ataques aéreos na Síria tendo como alvo o grupo Estado Islâmico, horas após seu Parlamento autorizar o uso de tropas russas no país. Segundo o Ministério da Defesa russo, foram realizados cerca de 20 ataques a alvos como equipamentos militares, comunicações e depósitos de armas, munição e combustível, informou a agência Interfax.

Assista acima vídeo dos ataques divulgado pelo Ministério da Defesa da Rússia.

Segundo o Ministério, oito alvos do grupo foram destruídos. "Nossos aviões atacaram oito alvos. Todos foram totalmente destruídos, em particular um posto de comando" indicou o órgão.

A medida deve afetar o equilíbrio de forças na Síria, já que, apesar de terem como alvo comum o Estado Islâmico, a Rússia e os Estados Unidos apoiam forças diferentes no conflito. Enquanto o governo russo apoia o presidente sírio, Bashar al-Assad, as forças ocidentais dão suporte a grupos de rebeldes locais, que são contrários a Assad. A guerra civil no país já dura quatro anos e fez mais 250 mil vítimas.

"Estes ataques aéreos foram feitos de acordo com as forças sírias e com a ajuda do centro de coordenação antiterrorista de Bagdá", disse um responsável do Ministério da Defesa russo, Yuri Yakubov, citado pela Interfax. Segundo ele, os aviões russos foram pilotados por militares sírios.

“Nossos aviões efetuaram uma operação aérea e golpearam com precisão alvos em terra dos terroristas do grupo Estado Islâmico na Síria”, declarou o general Igor Konashenkov, porta-voz do ministério. O órgão também divulgou que os ataques não atingiram áreas de civis.

A TV estatal síria confirmou os ataques russos, afirmando que eles ocorreram em cooperação com a força aérea síria, atingindo áreas nas províncias de Homs e Hama.

Foto desta quarta-feira (30) mostra ruas desertas e prédios danificados na cidade de Talbisseh, na província de Homs. A Rússia iniciou ataques aéreos em apoio ao regime sírio na região  (Foto: Mahmoud Taha/AFP)Foto desta quarta-feira (30) mostra ruas desertas e prédios danificados na cidade de Talbisseh, na província de Homs. A Rússia iniciou ataques aéreos em apoio ao regime sírio na região (Foto: Mahmoud Taha/AFP)

Áreas civis
Apesar de o Ministério da Defesa dizer que os bombardeios não atingiram áreas civis, o Pentágono divulgou em seguida que os ataques "provavelmente" ocorreram em áreas sem forças do grupo Estado Islâmico.

Ashton Carter, secretário de Defesa dos EUA, afirmou que a estratégia russa na Síria não contempla uma transição política na Síria nem a saída de Assad e que, por isso, corre o risco de inflamar ainda mais o conflito.

Um oficial dos Estados Unidos, entretanto, disse que os ataques russos não pareciam ter como alvo as áreas dominadas pelo Estado Islâmico e poderiam se estender para além da vizinhança de Homs.

Segundo fontes rebeldes e ativistas, os ataques russos foram feitos contra áreas controladas por rebeldes que operam sob a liderança do “Exército Livre Sírio”. Nenhuma fonte citou o Estado Islâmico como um dos grupos operando na região.

Todos os alvos nos bombardeios russos de hoje foram onde há civis"
Khaled Khoja, chefe da Coalizão Nacional Síria

Um líder rebelde disse à Reuters que os bombardeios russos atingiram um grupo apoiado por oponentes estrangeiros de Assad e que oito pessoas ficaram feridas. Os rebeldes estavam em Hama. “No interior do norte de Hama não há presença do EI e está todo sob controle do Exército Livre Sírio”, disse o major Jamil al-Saleh, que abandonou o Exército da Síria em 2012.

O chefe da Coalizão Nacional Síria, grupo baseado na Turquia, disse que pelo menos 36 civis morreram nos ataques russos, em áreas onde jihadistas do Estado Islâmico e da Al-Qaeda não estão presentes. “Todos os alvos nos bombardeios russos de hoje foram onde há civis”, disse Khaled Khoja.

O chanceler francês, Laurent Fabius, afirmou que há indícios de que os ataques não foram direcionados contra Estado Islâmico. Segundo o francês, será preciso verificar "quais eram os alvos" dos aviões russos.

A França disse, segundo a Reuters, não ter sido informada sobre os ataques russos na Síria, medida fundamental para evitar conflitos entre Rússia e a coalizão.

Já a Alemanha exigiu nesta quarta que a Rússia esclareça "os alvos e métodos" utilizados para os ataques iniciados na Síria, e expressou preocupação sobre os efeitos das atividades russas no país.

"Ainda não temos informações concretas sobre os alvos e métodos utilizados nesses ataques aéreos. Por próprio interesse, a Rússia deve se preocupar em esclarecê-los o mais rápido possível", indicou o ministro das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, em comunicado.

A secretária-geral da Otan disse que estava preocupada com a possibilidade de os ataques terem atingido áreas dos rebeldes. ”Estou preocupada com os relatos de que os ataques aéreos da Rússia não tiveram como alvo o Estado Islâmico”, disse Jens Stoltenberg durante visita aos EUA.

Ação contraproducente
Após o início dos ataques, o secretário de Estado dos EUA, John Kerry, se queixou sobre a medida com o chanceler russo, Serguei Lavrov, afirmando que os bombardeios são contraproducentes e vão contra os esforços americanos evitar mais conflitos. A conversa, segundo um alto funcionário do governo americano, ocorreu à margem da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em andamento em Nova York.

A única forma apropriada de combater o terrorismo internacional (...) é atuando de forma preventiva, combatendo e destruindo os combatentes e os terroristas nos territórios que conquistaram, e não esperando que cheguem até nós"
Vladimir Putin, presidente da Rússia

Kerry também disse na ONU que os EUA não se opõem a ataques aéreos russos na Síria se eles tiverem como alvo o grupo Estado Islâmico, mas Bashar al-Assad deve deixar o cargo.

"Se as ações recentes da Rússia e aquelas agora em andamento refletirem um compromisso genuíno para derrotar esta organização (EI), então estamos preparados para acolher esses esforços", disse Kerry.

Já Lavrov afirmou que a Rússia está pronta para abrir “canais de comunicação” com a coalizão americana. “Nós informamos as autoridades dos EUA e outros membros da coalizão e estamos prontos para criar os canais de comunicação para garantir ao máximo uma luta efetiva contra os grupos terroristas”, disse a autoridade na ONU.

O início das missões russas foi alertado uma hora antes a funcionários da embaixada dos EUA no Iraque, por um funcionário russo em Bagdá, segundo o porta-voz do Departamento de Estado americano, John Kirby. O oficial teria pedido que as aeronaves americanas evitassem o espaço aéreo sírio durante as missões.

De acordo com Kirby, entretanto, a coalizão liderada pelos EUA continuará com suas operações aéreas contra o Estado Islâmico no Iraque e na Síria, mesmo com a atuação russa.

Presidente russo, Vladimir Putin, discursa no plenário da ONU pela primeira vez desde 2005 (Foto: Mike Segar/ Reuters)Presidente russo, Vladimir Putin, discursou na ONU
na segunda (Foto: Mike Segar/ Reuters)

Ação preventiva
O presidente russo, Vladimir Putin, disse nesta quarta que a única maneira de combater terroristas é agir preventivamente, afirmando que o envolvimento militar russo no Oriente Médio vai apenas envolver a Força Aérea e será temporário.

"A única forma apropriada de combater o terrorismo internacional (...) é atuando de forma preventiva, combatendo e destruindo os combatentes e os terroristas nos territórios que conquistaram, e não esperando que cheguem até nós", afirmou Putin à televisão local.

Putin ressaltou que a operação aérea russa foi pedida pelo próprio presidente sírio, Bashar al-Assad, e que esta se prolongará enquanto durar a "ofensiva" do Exército sírio contra seus inimigos.

"Nós entramos neste conflito de cabeça. Para começar, apoiaremos o Exército sírio exclusivamente em sua legítima luta contra os grupos terroristas", disse o presidente russo durante uma reunião do governo.

Putin ressaltou que a Rússia informou a "todos seus parceiros" sobre suas ações na Síria, especialmente aos países do Oriente Médio integrados no centro de coordenação antiterrorista de Bagdá, criado recentemente por Moscou com a Síria, Irã e Iraque.

Putin sustentou que é preciso "lutar e liquidar os terroristas e guerrilheiros nos territórios já capturados, e não esperar que venham a nossas casas".

"A solução definitiva e duradoura do conflito na Síria não será possível se não for a partir de uma reforma política e de um diálogo com as forças sadias do país", declarou Putin, em alusão à oposição tolerada pelo regime. "Sei que o presidente Assad compreende isso e está disposto a um processo deste tipo", acrescentou.

 

Apoio na ONU
Putin, que reiterou seu apoio ao regime do presidente sírio, defendeu a criação de uma coalizão internacional para lutar contra os jihadistas, ao lado do governo da Síria e do Irã, durante seu pronunciamento na segunda-feira (28) na Assembleia Geral da ONU em Nova York.

No entanto, após sua reunião com o presidente americano Barack Obama também na segunda, descartou totalmente uma operação terrestre das tropas russas na Síria, mas reconheceu que Moscou estava avaliando o uso da Força Aérea para bombardear posições do Estado Islâmico no país árabe.

Tanto Putin como seu ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, asseguraram que qualquer intervenção militar, seja na Síria ou em outro país, necessita de uma autorização do Conselho de Segurança da ONU para garantir sua legitimidade.

O principal órgão executivo da ONU se reunirá em Nova York após ser convocado pela Rússia, que apresentará seu projeto de resolução sobre a necessidade de coordenar as ações contra o Estado Islâmico e outros grupos terroristas.

Além disso, o Kremlin convidou mais países a se juntarem ao centro de troca de informações para a luta contra os grupos jihadistas que foi criado recentemente junto com Síria, Irã e Iraque.

veja também
Shopping
busca de produtos compare preços de