"Estou disposto à conversão?"

De vez em quando lá me surge a questão. Levo-a à séria. [Cansam-me frases bonitas, ideias que aconchegam o coração ou o uso de textos edificantes que se ficam por isso mesmo.] Há conversas que deitam-me por terra algumas certezas. E há momentos que é terrível! Quando escuto um refugiado que sofreu horrores impossíveis de descrever continuando com uma fé inabalável; alguém que acaba de saber que tem cancro e põe tudo em causa; um companheiro que me diz que na Síria, bem pertinho donde ele é, há pessoas que comem erva para sobreviver ou, pior, escapam de gente louca que as quer assassinar, apenas porque não seguem os suas leis; pessoas que conheço que estão mergulhadas no desemprego ou com doenças que alteram a vida, etc.; dá-me que pensar e, sem entrar em espiritualismos rápidos e fáceis e sem remorsos ou culpa pelas facilidades ou possibilidades que tenho, procuro perceber como posso tornar-me melhor. Ou seja, deixar-me converter. Sei, como já aconteceu, que posso perder seguranças e até estabilidade emocional. Também sei que (graças a Deus o “ser em caminho”) de repente pode abrir-se algo novo. Sobretudo na compreensão e no crescimento de coração… sobretudo que escuta.
 
“Estou disposto à conversão?”, fica no ar a questão.

 

[Foto: Harold Feinstein]

Paulo Duarte, sj

Cronista

É em caminho. Nesses passos vai procurando e encontrando o Ser Humano. Às vezes perde-se. Tem dificuldade com as definições, pelo perigo de poderem ser demasiado redutoras. Já como jesuíta, licenciou-se em Filosofia (Braga) e em Teologia (Madrid), foi professor e começou a ter aulas de dança (mais em linha contemporânea). Continua em estudos (será que algum dia deixará de aprender?), mais precisamente no mestrado em Teologia Fundamental (Paris). Tem interesse no diálogo, mais precisamente entre a fé e a cultura e que as pessoas sejam. A partir de Julho 2014, além de tentar ser um bom diácono, tentará ser um bom padre. 

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