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Naomi Harris, a fotógrafa das festas de swing que atravessou o Canadá num carro comprado no Ebay

Conhecida pelo seu trabalho controverso em "America Swings", Naomi Harris tem dado que falar com o seu mais recente projeto, "EUSA", onde americanos fingem ser vikings e europeus fingem ser cowboys.

Naomi Harris nasceu em Toronto no Canadá em 1973. Desde os anos 90 que se dedica à fotografia mas, ainda assim, é constantemente confundida com a atriz (e quase homónima) Naomie Harris. “Estou sempre a receber emails de pessoas que querem falar com a Naomie Harris”, confessou entre risos.

Desde 1997 que a sua vida é feita entre o Canadá e os Estados Unidos da América, onde viveu até 2013, data em que se tornou oficialmente uma cidadã norte-americana. Apesar de muito do seu trabalho ter sido realizado em território americano, e da possibilidade de agora poder circular livremente entre lá e cá, decidiu trocar a confusão da cidade de Nova Iorque pelo sossego da casa da família em Toronto. A razão? Nova Iorque tornou-se numa cidade demasiado cara. “A única maneira de poder continuar a viver em Nova Iorque era se casasse com um milionário”, explicou ao Observador. “Já não é uma cidade divertida para se viver”.

Em 1997, Naomi apanhou um autocarro “para ir ver Miami” pela primeira vez. Foi nessa viagem que conheceu o hotel Haddon Hall, que acabaria por se tornar no seu primeiro projeto fotográfico, dois anos depois. O Haddon Hall não era um hotel qualquer. Nele, viviam apenas idosos e era, para muitos, a sua última casa.

Marie e Sonja à beira da piscina do hotel Haddon Hall © Naomi Harris

A ideia inicial era a de fotografar judeus que tinham sobrevivido ao Holocausto, mas em Haddon Hall, Naomi descobriu outro tipo de sobreviventes. “Eram sobreviventes no geral. Alguns tinham sobrevivido ao Holocausto mas, acima de tudo, eram sobreviventes da vida”. De todas as pessoas que conheceu, houve uma que a marcou particularmente. “Havia um homem de que gostei muito. Chamava-se Sam e tinha sobrevivido ao Holocausto”, contou ao Observador. Na altura da Segunda Guerra Mundial, tinha cerca de 40 anos e trabalhava como alfaiate. Quando foi levado para um campo de concentração, passou a costurar os uniformes dos soldados alemães.

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"Havia um homem de que gostei muito. Chamava-se Sam e tinha sobrevivido ao Holocausto. Tinha cerca de 40 anos na altura e era alfaiate. O trabalho dele era costurar os uniformes dos soldados nazis."

Durante alguns meses, Naomi viveu no próprio hotel, fotografando e ouvindo as histórias das pessoas que lá viviam. O resultado é um retrato único, de um mundo que já não existe. O hotel foi comprado e renovado. A fotógrafa mudou-se depois para uma casa em Miami, e foi enquanto terminava o projeto de Haddon Hall que esbarrou com aquele que viria (provavelmente) a ser o seu trabalho mais icónico: “America Swings”.

 

America Swings

Tudo aconteceu por acaso. Enquanto vivia na cidade de Miami, trabalhando como freelancer para os jornais Miami Herald e New York Times, costumava frequentar as praias de nudismo locais. Foi assim que conheceu Ron, um homem mais velho, com cerca de “50 ou 60 anos”, que a convidou para a sua primeira festa de swing. “Nem todos os nudistas são swingers, mas há muitos swingers que são nudistas”, explicou ao Observador. Quando questionada sobre a festa, Naomi costuma dizer que “foi a coisa mais engraçada que vi na vida!”. Havia um buffet, comida variada e até carne a assar no espeto. Depois de se servirem e comerem, os convidados encaminhavam-se para o quarto para uma orgia.

Fascinada e intrigada por este mundo, decidiu começar a fotografar festas e eventos de swing. A primeira festa que fotografou foi em Wisconsin, no norte dos Estados Unidos, em 2003. Durante cinco anos, retratou cerca de 40 festas de norte a sul do país. O processo foi longo e demorado porque entrar no mundo fechado do swing não é fácil. Mas grande parte das pessoas não se importava de ser fotografada: “A maioria destas pessoas é exibicionista, por isso não se importavam”, contou em entrevista à revista Popular Photography. As imagens que captou acabaram em livro: “America Swings” foi publicado em 2008 pela editora Taschen e oferece um olhar controverso, e até talvez chocante, do mundo inacessível dos swingers americanos.

 

EUSA

© Naomi Harris

Em 2008, Naomi viajou até à Geórgia, no sul dos Estados unidos, para fotografar a sua última festa de swing. Enquanto esperava pelo início do evento, algumas pessoas sugeriram-lhe que visitasse uma cidade vizinha chamada Helen. “Parecia a Baviera”, disse a fotógrafa ao Observador. Em pleno coração dos Estados Unidos, a cidade era uma réplica de uma aldeia alpina.

A localidade esteve ligada à indústria da madeira mas, na década de 1960, sofreu uma reabilitação. Com o declínio da indústria, os seus habitantes decidiram torná-la mais apelativa para fins turísticos. A cidade foi então reinventada e transformada na “Helen alpina”. Até ao mais ínfimo pormenor, a povoação procura recriar o verdadeiro espírito dos Alpes. Nas lojas do comércio local, é possível encontrar relógios de cuco lado a lado com bandeiras da antiga Confederação dos estados do sul. Tentando descobrir outras réplicas europeias nos Estados Unidos, a fotógrafa descobriu algumas das localidades mais caricatas do país, como a cidade de Holland no Michigan, onde se celebra o festival das tulipas, ou a cidade de Solvang, uma réplica de uma cidade dinamarquesa que até tem direito a uma cópia da famosa estátua da Pequena Sereia, que se encontra em Copenhaga.

A paixão americana pela cultura e festividades europeias é tal que a cidade de Cincinnati no Ohio recebe um dos mais longos Oktoberfest do mundo, o Oktoberfest Zinzinnati, que dura cerca de dois meses (com início no fim de setembro, prolongando-se até novembro). A descoberta destes locais levou a fotógrafa a perguntar-se se existiam lugares assim, mas do outro lado do oceano. Algumas horas de pesquisa no Google e Naomi apercebeu-se que tinha um novo projeto em mãos. Foi assim que nasceu “EUSA”, o retrato de uma paixão transatlântica em vestir a identidade cultural dos outros.

© Naomi Harris

Nesse mesmo ano, Naomi fez a sua primeira viagem à Europa – em busca da América. O primeiro local que visitou foi na Suécia, um parque temático que procurava reproduzir o wild west americano. Um verdadeiro filme de cowboys do outro lado do Atlântico. Depois de várias pesquisas, Naomi apercebeu-se que a versão europeia das cidadezinhas bávaras eram estes parques temáticos de índios e cowboys. “Não existem reproduções de cidades americanas, apenas parques temáticos do oeste selvagem”, explicou. “Uma coisa em que reparei é que a maioria das pessoas que tem uma obsessão pelo oeste, leu os livros do Karl May”. Karl Friedrich May foi um escritor alemão que ficou conhecido pela sua série de romances passados no Far West americano. “O engraçado é que Karl May nunca esteve nos Estados Unidos e nunca viu nenhum índio”.

Desde então, Naomi já viajou até à Alemanha, França, Itália, Holanda, República Checa e até às Canárias, em busca do Wild West dos filmes. O trabalho tem vindo a ser desenvolvido desde 2008, mas com algumas interrupções e a fotógrafa pretende agora publicá-lo em livro.

 

Canadá, oh Canadá

"Sikh Motorcycle Club" em Stanley Park em Vancouver na Colômbia Britânica © Naomi Harris

Um dos seus projectos mais interessantes é “Canada”, um retrato diferente do seu país de origem. As fotografias tiradas por Naomi, mostram um Canadá diferente, um lado do país que a maioria das pessoas desconhece. É o Canadá do “mosaico cultural” de John Murray Gibbon (escritor canadiano autor da expressão) – uma mescla de diferentes etnias, línguas e nacionalidades que cobrem o país. “Dizia com orgulho que era canadiana, mas não sabia nada sobre o meu país e a minha gente”, contou a fotógrafa ao Observador. Naomi decidiu então fazer uma longa viagem, de um lado ou outro do país. Comprou um carro no Ebay, fez as malas e partiu em viagem a partir da Colômbia Britânica.

"Dizia com orgulho que era canadiana, mas não sabia nada sobre o meu país e a minha gente. Decidi fazer uma viagem de uma ponta à outra do país, de este a oeste."

Entre cá e lá, Naomi já recebeu inúmeros prémios pelo seu trabalho fotográfico, entre eles o Canadian Council for the Arts Long-term career Advancement Grant em 2012. Desde 2004 que tem realizado várias exposições, dentro e fora dos Estados Unidos da América, nomeadamente em Portugal, onde esteve em 2001 a propósito de uma mostra de fotografia em Braga, que incluia alguns dos seus trabalhos.

Está programado o lançamento de um novo livro para 2017, com novas e diferentes fotografias tiradas em solo canadiano. As novas imagens, nunca antes publicadas, deverão ser mais provocadoras, retratando de forma mais aprofundada a realidade canadiana. Naomi pretende, também, lançar um livro sobre a sua cadela, Maggie, chamado “Dog Bless America”. Será um livro sobre as viagens que fazem juntas, no seu Honda Element, comprado no Ebay.

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