Jornal da ABI 362 - Cronologia dos Quadrinhos - Parte 2

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FRANCISCO UCHA

Com apenas cinco edições de O Judoka, publicado pela Ebal nos anos 70, Floriano Hermeto escreveu seu nome no hall dos grandes desenhistas brasileiros. POR PAULO CHICO

O golpe certeiro de um mestre do desenho “O maior problema do quadrinho é saber a hora de parar, identificar o momento em que o desenho está pronto. Ter a sabedoria de não fazer demais, e nem de menos.” A lição é de Floriano Hermeto, autor de cinco festejadas edições de O Judoka, publicadas pela Editora Brasil-América, mais conhecida como Ebal. Engenheiro civil de formação, no início dos anos 70 mergulhado nas obras do metrô do Rio de Janeiro na Avenida Presidente Vargas, Floriano Hermeto chegou a ser apontado como o melhor autor e melhor desenhista por Moacy Cirne, especialista em hqs, em sua coluna no Jornal de Letras. Com produção tão curta e farta de elogios, não teria Floriano traído a própria receita, e parado de desenhar antes do tempo? “Essa coisa de fazer histórias em quadrinhos surgiu como uma distração, diversão. Nunca vi essa experiência como carreira, um meio de vida, até pelo fato de pagarem muito mal. Se fosse uma opção profissional, acho que teria encarado tudo de outra maneira. Depois das edições de O Judoka, iniciei a produção de Zorro, mas o Adolfo Aizen, dono da Ebal, achou que meu desenho ficara sofisticado para o personagem. Eu trabalhava o dia inteiro como engenheiro do metrô, tinha uma mão-de-obra danada durante o dia e chegava em casa e ainda tinha que desenhar... Estava ficando cansado. Daí, abandonei tudo e nunca mais desenhei, a não ser em casa. Fiz os retratos das minhas filhas e da minha esposa”, conta ele, mostrando suas detalha44

Jornal da ABI 362 Janeiro de 2011

Esta é uma das cenas mais reproduzidas em livros de estudos sobre quadrinhos no Brasil e aparece na primeira história do Judoka desenhada por Floriano Hermeto: A Caçada.

das reproduções, feitas de ponto em ponto, penduradas na parede. Paixão precoce A paixão pelos quadrinhos veio ainda da infância. Já a inspiração para passar de simples leitor para autor de histórias em quadrinhos surgiu por volta dos 30 anos de idade.

“Desde garoto fui criado sem televisão. Era só rádio, gostava muito das revistas e gibis. Gostava de desenho, mas nunca estudei. Aliás, acho que desenho é prática. Todos os desenhistas começam jovens desenhando muito mal, e depois de dez, quinze anos, estão fazendo maravilhas. Ninguém começa a carreira como um grande desenhista. Fazia de

brincadeira no colégio, e em casa ficava desenhando. E fui crescendo assim. Até que pensei em desenhar algo, mas para ser publicado, e não ficar guardado no fundo de uma gaveta.” No Rio de Janeiro, na época, a Ebal dominava o mercado. Dentre as suas publicações, o único personagem nacional era O Judoka. “Eu o achava meio ridículo... Não gosto de super-herói. Mas, por falta de opção, parti pra fazer uma aventura com ele mesmo. Fiz umas dez pranchas. Uma secretária do trabalho conhecia o Fernando Albagli, da Ebal. Peguei as pranchas e fui pra lá. Veio o Fernando, veio o Naumin Aizen, pediram para ver o material e foram todos lá pra dentro. Aí, depois, veio o seu Adolfo, que me disse que iriam publicar a minha história”, recorda Floriano. “Sabia que eles iam gostar. Pelo nível das outras edições, a minha arte não estava abaixo. Estava no mesmo nível, ou até melhor.” Mas a alegria pela aprovação dos desenhos cedeu espaço para uma preocupação prática. “Pensei: e agora? Como é que eu vou terminar isso? Nem sei como essa história vai acabar, só fiz essas dez pranchas sem pensar no final. Tanto que, você vê, dá pra notar bem que, numa parte, a história pára e começa outra coisa. Há um corte, que até funcionou bem.” A repercussão rendeu mais quatro edições. Das cinco que assinou como desenhista, apenas uma teve um parceiro, Pedro Anísio, um dos criadores de O Judoka e autor do roteiro de Gigantes de


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