Você se lembra da Amanda? Ela descobriu um câncer na gestação e decidiu levar a gravidez adiante

Amanda Oliveira Neves tem 32 anos e é mãe de Lorena, de 4 meses. Como toda mãe de recém-nascido, ela enfrenta os desafios de uma rotina completamente nova com a chegada da filha. Mas, entre as várias trocas de fraldas e noites sem dormir, Amanda faz sessões de quimoterapia e toma remédios fortíssimos (proibidos enquanto estava grávida) que deixam a ponta de seus dedos e os braços enfraquecidos, dificultando alguns cuidados com a bebê. Mas nada disso tira sua força: “Não me deixo abater por essas coisas porque a tenho comigo”, disse.

A saga de Amanda começou em 2014, no terceiro mês de gestação, quando descobriu que tinha sarcoma alveolar, um tipo de tumor raro, no músculo do rosto e precisou escolher entre começar cedo um tratamento agressivo, que consistia em radioterapia e medicamentos que poderiam prejudicar a saúde do bebê, ou optar pelo desenvolvimento da criança. Ela escolheu a segunda opção.

Depois do diagnóstico da doença, Amanda começou as sessões de quimioterapia e amigos e familiares pediam notícias frequentes de como estavam mãe e filha. Amanda nem sempre conseguia responder a todos prontamente. Foi, então, que teve a ideia de criar uma conta na rede social Instagram, chamada ‘Força e Energia’, para manter todos informados. Hoje, ela já conta com 11 mil seguidores que acompanham sua rotina e, agora, dela junto com Lorena. ”O Instagram foi uma maneira que encontrei de agradecer a corrente de amor e carinho que recebi desde o início. É uma missão para mim. Uma maneira de usar o meu testemunho para ajudar pessoas que passam por um tratamento como esse ou têm uma gravidez difícil”, afirma.

Mesmo com todo apoio, a batalha de Amanda ainda será longa. Atualmente, ela está na metade de um tratamento de 48 semanas. Durante esse período, terá que passar períodos distantes da filha, internada no hospital para receber os medicamentos mais agressivos. Para dar conta do recado, o marido, Denis Gomes, e sua mãe são sua rede de apoio, junto, claro, com sua garra para criar a filha: "Ela foi o maior presente que recebi para mudar o foco da minha doença", reflete.

O nascimento de Lorena

Por causa da doença e da urgência de começar o tratamento mais agressivo, Lorena nasceu prematura em 11 de fevereiro de 2015, aos sete meses, e precisou ser internada na UTI. Momentos antes de ir para o centro cirúrgico onde aconteceria a cesárea, Amanda se casou com Denis, com quem já tinha um relacionamento de oito anos. A cerimônia, realizada no hospital, foi só para familiares e amigos próximos. “A gente passou por aquela explosão de emoção e fomos para a cirurgia bem mais tranquilos. Viver aquela mistura de sentimentos em um dia foi muito intenso”, conta.

Felizmente, a cesárea ocorreu sem grandes imprevistos, e Lorena veio ao mundo com 36,5cm, 1,170kg, e pequeninos olhos abertos para a mãe. Por causa da prematuridade, só deu tempo de Amanda dar um beijinho rápido na testa da bebê, antes que ela fosse retirada da sala para receber os primeiros cuidados.

O pós-parto de Amanda

Mal acabara de se tornar mãe, Amanda não teve tempo a perder. Um dia pós o parto, recomeçou o tratamento, em uma sessão de radioterapia. Na sequência, a quimioterapia e outras drogas mais fortes para combater o câncer, que seriam incompatíveis com a gravidez.

“Nesse tempo que Lorena passou na UTI, ela foi uma guerreira linda e, a cada dia que passava, era uma nova alegria, porque ela tinha vitórias em relação ao peso, à respiração, ao coraçãozinho... Foi um presente e me deu a força que eu precisava. Eu e o pai fomos visitá-la todos os dias, exceto um”, diz. 

Em 11 de março, no dia do aniversário do primeiro mês da filha, Amanda não pode vê-la. Por causa de um efeito colateral dos remédios que estava tomando, ela desenvolveu mucosite, uma inflamação nas mucosas da boca e da garganta que provoca úlceras e feridas extremamente dolorosas nesses locais. Precisou ser internada e pode estar perto de Lorena: “Nós estávamos acostumadas a ter contato pele a pele todos os dias. Não conseguir ver minha filha foi um dos momentos mais difíceis que passei até agora”, afirma.

Lorena deixa a UTI neonatal

2 de abril. Lorena tinha 51 dias de vida, peso e saúde suficientes para ir para casa, finalmente. “Ficamos muito ansiosos na primeira noite. Ela era tão pequenininha! Mas deu tudo certo e ela se comportou como um reloginho. Como já tinha acabado um dos ciclos da radioterapia, pude ficar em casa em tempo integral nesse início”, afirma.

Apesar da gravidez não ter sido planejada, Amanda acredita que Lorena tenha vindo como mensageira de algo bom. “Eu e meu marido sabemos exatamente o dia em que ela foi concebida. Eu ainda não queria engravidar porque estava esperando mais estabilidade financeira, mas o Denis dizia: ‘Deixa minha Lorena vir’. E depois de pensar nas questões mundanas que estavam me impedindo de viver aquilo eu pensei: ‘Quer saber? Se tiver que ser agora, que seja’”, conta.

Cinco semanas depois, o teste de gravidez deu positivo e, passado um tempo, descobriram que era uma menina. Quando souberam do sexo do bebê, não tiveram dúvidas, e escolheram o nome que sempre gostaram e que o pai já repetia no dia da concepção: Lorena. “Quando eu descobri a doença, resolvi procurar o significado do nome que a gente tanto gostava e tinha escolhido, porque eu ainda não sabia. E você sabe o que significa? Força e energia. Eu só pude acreditar que isso era um sinal de que não precisaria me preocupar porque as coisas dariam certo. Lorena veio dar um recado. Então para que ter medo da doença?”

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