Humildade e Profundidade

Jônatas da Cunha Ferreira

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Ao longo dos anos tenho percebido como a humildade é uma das importantes virtudes – senão a mais importante – para o desenvolvimento de relacionamentos profundos e saudáveis — com Deus e com o próximo. Depois de uma exortação à unidade da igreja, Paulo deliberadamente usa o exemplo de Cristo na sua humilhação para mostrar que a existência de comunhão plena em amor somente é possível pelo caminho da humildade (Fp 2.5-11). Sem humildade jamais existirá comunhão — com Deus ou com o próximo.

Quem está cheio de si mesmo perde o espaço para relacionamentos profundos. Sem humildade prática – não apenas retórica – me afasto de Deus porque sou incapaz de me ver necessitado Dele ou de sua graça. Cheio de mim, não preciso de Jesus ou da cruz, afinal “dou conta sozinho” e “posso ser senhor da minha vida”. Além disso, me afasto das pessoas — ou as afugento. Não preciso de ninguém porque me basto. Aprender com elas? Nem pensar! Já sei tudo que preciso.

Ao contrário disso, para Paulo, a humildade que conduz à profundidade de relacionamentos tem seu paradigma em Jesus Cristo que, sendo o próprio Deus e tendo toda glória, humilhou-se como servo. Não reivindicou seus direitos como Senhor e Absoluto do universo a fim de restabelecer um relacionamento profundo com os homens a quem amou (Fp 2.6). Por isso o apóstolo recomenda: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus…” (Fp 2.5), que, tendo domínio sobre tudo, amou homens rebeldes e se inclinou a estatura deles para olhar em seus olhos. Sendo Rei Divino, lavou os pés de doze homens comuns, dentre os quais estava o seu traidor. E ele mesmo ensina: “o maior entre vocês deverá ser como o mais jovem, e aquele que governa, como o que serve. Pois quem é maior: o que está à mesa, ou o que serve? Não é o que está à mesa? Mas eu estou entre vocês como quem serve” (Lc 22.26-27 NVI).

A humildade que conduz à profundidade me leva a abrir mão de méritos em direção a submissão a Deus e a meus irmãos — muitas vezes mais simples que eu. Me faz ouvi-los como quem deseja crescer e ser melhor — não maior — e abre meu coração para a admoestação. Agora, desejo ser conduzido à profundidade. Por isso, quero ser um servo, antes de ser servido. Oferecerei, antes de pedir. Doarei, com alegria abundante, antes de receber qualquer coisa. Reconhecer-me-ei nos meus irmãos, especialmente em suas fraquezas. E os amarei sem duvidar. Preocupar-me-ei com eles e eles serão importantes para mim. Farei o melhor para Deus. Concordarei que sua vontade é a melhor e me submeterei com docilidade. Quanto menor eu for, mais espaço Deus terá. Então me esvaziarei de mim mesmo, para, finalmente estar verdadeiramente cheio.

Jônatas Da Cunha Ferreira • iptubarao.wordpress.com
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