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    Economia argentina piora com Macri, e país vive sob expectativa de 2017

    LUCIANA DYNIEWICZ
    DE BUENOS AIRES

    21/05/2016 02h00

    Aclamada pelo mercado no começo deste ano, após a chegada do presidente Mauricio Macri, a Argentina viu sua situação econômica se deteriorar nos últimos meses e vive sob a expectativa de o cenário melhorar em 2017.

    O FMI estima agora que o PIB vai recuar 1% neste ano (0,3 ponto mais que na projeção anterior), e a Moody's prevê cenário pior: recuo de 1,5%. Em outubro, a agência falava em uma recuperação modesta para este ano, após baixa de 1% em 2015.

    A avaliação dos economistas é que a crise decorre dos reajustes feitos por Macri, que incluem a redução de subsídios e a desvalorização do peso. A expectativa, porém, é que essas mudanças na política econômica revertam o panorama a partir de 2017.

    Por enquanto, o cenário é desanimador. A inflação acelerada vem acentuando a crise e provocando descontentamento na população.

    Nos últimos dias, professores, funcionários do Judiciário e médicos fizeram paralisações por reajustes salariais.

    Para o analista político Jorge Giacobbe, a inflação é a principal responsável pela retração da popularidade de Macri, que ainda é elevada (na casa dos 60%), mas caiu dez pontos percentuais desde que ele foi eleito, em novembro do ano passado.

    De janeiro a abril, a inflação (sob efeito da desvalorização do peso e de reajustes de serviços básicos, como transporte e energia) foi de 19%.

    Com o avanço dos preços, o poder de compra dos argentinos diminuiu, e o consumo caiu 3,6% em abril e 2,3% no primeiro quadrimestre, segundo a consultoria CCR.

    O cenário já era ruim em anos anteriores, mas não de forma tão aguda como agora. Nos períodos de janeiro a abril de 2015 e 2014, a redução no consumo foi de 1,1% e 1,5%, respectivamente.

    "Nesse período, é natural haver uma retração [nas compras], porque as datas-base são entre março e maio. No começo do ano, o salário real dos trabalhadores está em seu nível mais baixo", diz Sandra Dalinger, gerente da CCR.

    O que mudou em 2016 é que a desvalorização do peso de mais de 40% –promovida por Macri em dezembro– foi muito acentuada e os acordos entre patrões e empregados estão demorando mais para sair.

    Dalinger diz que os reajustes salariais não ativarão a economia de forma imediata. "Deveremos sentir uma melhora leve no segundo semestre, mas não vai compensar o resultado do começo do ano."

    Na tentativa de amenizar a situação, o programa Preços Cuidados, criado por Cristina Kirchner para impedir as empresas de reajustarem constantemente os valores de seus produtos, foi ampliado.

    No início deste mês, Macri acrescentou 176 itens, incluindo carnes, frutas e verduras, na lista de mercadorias cujos preços são controlados. Em janeiro, havia reduzido a lista de 520 para 317.

    REFLEXO NO BRASIL

    Como a Argentina é o terceiro principal parceiro comercial do Brasil (atrás de China e EUA), uma freada em sua economia tem impacto no outro lado da fronteira. Esse reflexo, porém, deverá ser modesto, segundo economistas, porque a Argentina vinha apresentando um desempenho fraco nos últimos anos.

    "O cenário já era bastante negativo. Este ano não será muito diferente, e a queda no PIB é consequência da arrumação que se está fazendo na casa", diz Silvio Campos Neto, da Tendência Consultoria.

    Para o economista, os reajustes adotados por Macri "trazem alguma esperança de crescimento nos próximos anos. A expectativa é que 2017 seja melhor".

    O argentino Dante Sica, diretor da consultoria Abeceb, destaca que, apesar do estancamento econômico, a Argentina manteve as importações do Brasil nos quatro primeiros meses de 2016, com uma leve alta de 0,78%.

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