Olimpíadas 2016

Atualizada em 21.06.2016 19h26

Onça morta não tinha autorização para participar de revezamento da tocha

Ivo Lima/ME
Onça Juma que foi morta após participar do revezamento da tocha imagem: Ivo Lima/ME

Adriano Wilkson*

Do UOL, em Manaus

A onça que foi abatida pelo exército nesta segunda-feira (20) após a passagem da tocha olímpica em Manaus e havia participado do evento antes de ser morta não tinha autorização para estar no revezamento.

O Ipaam (Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas) afirmou que apenas um dos animais, Simba, uma onça macho, tinha autorização para ser exibida no evento. A informação foi passada por Marcelo Garcia, gerente de fauna do órgão, que regulamenta o cuidado a animais silvestres em cativeiro no Estado do Amazonas.

Juma pertencia ao 1º Batalhão de Infantaria de Selva, mas foi exibida perto de um zoológico militar ao lado de seu cativeiro. Logo após o evento, no qual ela posou para fotos acorrentada ao lado da tocha olímpica, Juma ameaçou uma fuga, rapidamente contida por seus tratadores.

Horas depois, fugiu novamente, recebeu tranquilizantes, mas segundo o Exército, ameaçou atacar um de seus tratadores e precisou ser abatida.

Os militares disseram que vão apurar as circunstâncias da morte do animal, mas o Ipaam já afirmou que eles podem ser multados por usarem Juma em um evento público sem autorização.

O Comando Militar da Amazônia, que está respondendo pelo caso, não soube dizer se Juma tinha ou não autorização para participar do revezamento da tocha e ressaltou que vai apurar.

Morte de Juma causou comoção nos militares

"O exército está transtornado com morte dela. Cheguei em casa transtornado, muito triste com essa situação. Estamos todos muito abatidos. Foi uma fatalidade que jamais esqueceremos”, disse o coronel Luiz Gustavo Evelyn ao UOL Esporte. Segundo ele, o felino, que estava junto com os militares desde filhote, era parte da família.

Juma era uma figura conhecida na cidade e participava de eventos como desfiles militares em datas comemorativas. O coronel diz não saber o que deu errado dessa vez.

“Talvez no momento do transporte, colocar uma onça numa caminhonete não é uma coisa comum”, cogitou ele.

"Fizemos o procedimento padrão, aplicamos tranquilizantes, mas como ela não se acalmou, tivemos que dar o tiro", disse o coronel. "Foi tudo para garantir a segurança do cuidador dela."
Com a repercussão de sua morte, os manauaras já se questionam sobre a relevância de exibir animais silvestres em situações assim.

O que disse o Ibama

Mario Reis, o superintendente do Ibama no Amazonas, disse à reportagem que “quanto menos exposição de animais silvestres, melhor”, mas ressaltou que não se pode demonizar o trabalho dos militares no cuidado com animais resgatados.

“Eles fazem um excelente trabalho lá”, disse Reis. “As pessoas acham que o zoológico pega o bicho e prende em cativeiro pra exibição, mas o que se faz na verdade é cuidar de animais que muitas vezes não conseguiriam viver na natureza.”

O órgão, porém, afirma que já questionou oficialmente o Exército sobre as participações das onças-pintadas em eventos públicos.

A tocha causou estresse em Juma?

Ainda não se sabe exatamente como o evento afetou o comportamento da onça, e se isso a teria levado a uma situação de estresse. Uma bióloga especialista em animais silvestres resgatados disse ao UOL Esporte que a aglomeração de pessoas, o barulho e até a chama olímpica (animais costumam ter medo de fogo) podem ter influenciado no comportamento de Juma.

"O Exército, enquanto instituição, vai sempre prezar pela legalidade", disse o coronel Evelyn, alçado a porta-voz da instituição no tema. "Eu pessoalmente não sei se é correto, se não é correto fazer esses eventos. Eu sei que eles sempre foram feitos, e que os animais estão acostumados."

Ele disse não acreditar que Juma tenha se estressado durante o evento. "Não faz sentido. Ela é bem cuidada e adestrada e nunca tinha acontecido nada semelhante. Foi realmente uma fatalidade."

De onde vêm os animais que vivem em cativeiro?

O zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs) tem outras onças-pintadas, animal que está ameaçado de extinção. O órgão não captura os animais na selva para exibi-los em seu zoológico.

Nesta terça-feira, os militares que trabalham no local proibiram a reportagem de fazer fotos dos animais em cativeiro e também se recusaram a comentar o assunto.

Os animais chegam ali de diversas origens. Alguns eram vítimas de maus tratos ou perderam os pais para caça ilegal. No zoológico militar eles são tratados e adestrados. Alguns, os mais dóceis, acabam virando mascotes de grupamentos e participam de exibições públicas.

A nota oficial do Ipaam

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (Ipaam) informa que sobre a onça abatida, não foi solicitada junto ao órgão a autorização da onça “juma” para participar do evento da passagem da tocha olímpica e que necessitamos ainda da confirmação através de resposta oficial da notificação enviada pelo órgão ao CIGS, sobre o que ocorreu no evento e sobre as circunstâncias do acidente. O Ipaam salienta que as medidas cabíveis serão adotadas após a resposta oficial do CIGS ao Ipaam.

A licença ambiental está prevista na Lei Estadual do Amazonas N° 3785/2012 em seu anexo I item 3701 para jardim zoológico, as licenças previstas são: Licença Prévia, Licença de Instalação e de Operação. O CIGS está em processo de licenciamento após o repasse do processo pelo IBAMA e foi vistoriado em novembro de 2015. O CMA possui licença vigente de mantenedor de fauna silvestre com a vistoria realizada em dezembro de 2015.

Os zoológicos podem abrigar a quantidade de espécies e o número de animais de acordo com os recintos e a capacidade prevista na legislação (IN IBAMA 07/2015). Tendo um papel importante na conservação de material genético, educação ambiental, manutenção de animais que não são passíveis de voltarem ao ambiente natural, por diferentes motivos.

As onças que hoje permanecem em cativeiro no Estado do Amazonas, foram resgatadas da natureza quando ainda filhotes, geralmente pelo óbito da mãe, ocorrido como defesa dos predadores ou pelo tráfico de animais silvestres para serem vendidos e criados sem autorização.

Quanto da destinação destes animais, eles são avaliados por equipe técnica competente e multidisciplinar sobre a possibilidade de retorno a natureza. Na maioria das vezes os animais acabam sendo destinados a mantenedores autorizados e zoológicos, devido à impossibilidade de reabilitação para voltarem ao ambiente natural, por alterações comportamentais, o que as deixariam vulneráveis a retornar para a vida selvagem.

*O repórter viajou a convite do Bradesco

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