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    Nova série colorida de Farkas é descoberta

    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    21/11/2014 02h10

    Thomaz Farkas primeiro pôs os pés em Brasília quando a capital ainda estava sendo construída. Em 1957, o que mais chamou sua atenção era "aquela obra que se espraiava pela imensidão do nada".

    Do nada à inauguração da cidade, o fotógrafo modernista, morto aos 86, há três anos, fez um registro quase cinematográfico do surgimento de Brasília, série que foi um divisor de águas na arte do país.

    Um novo capítulo dessa história se abre agora. Esquecidas em gavetas em sua casa estavam ampliações de imagens coloridas da construção da cidade modernista.

    Thomaz Farkas/Divulgação
    Fotografias coloridas da inauguração de Brasí­lia feitas pelo fotógrafo modernista Thomaz Farkas
    Fotografias coloridas da inauguração de Brasí­lia feitas pelo fotógrafo modernista Thomaz Farkas

    "Nunca ninguém viu isso. Fiquei chocado quando achei essas cópias", conta João Farkas, filho do fotógrafo. "São as primeiras imagens coloridas daquela série."

    Essa visão em cores da capital, com o chão vermelho do cerrado e a visão fantasmagórica das torres e cúpulas do Congresso que parecem brotar do nada numa terra arrasada, sublinham como Brasília também foi um ponto de inflexão na obra de Farkas.

    Nome central da primeira geração de fotógrafos modernistas do país, juntos no Foto Cine Clube Bandeirante, Farkas se firmou nos anos 1940 com experimentações em preto e branco –registros de forte contraste das formas de São Paulo, que se industrializava.

    Obcecado pela arquitetura moderna, Farkas poderia ter voltado suas lentes só para o espetáculo das formas de Oscar Niemeyer, mas também flagrou a desordem dos canteiros de obra e barracos dos candangos, desviando pela primeira vez o foco da volúpia do concreto armado para um registro documental das contradições do país.

    "Eu me hospedava no hotel Brasília Palace, bem ao lado do Palácio da Alvorada", lembrou Farkas, numa entrevista. "Os operários faziam uma vila de barracos com as sobras da construção da cidade. Ao fundo daquela confusão, a capital era construída."

    Nas palavras de Sergio Burgi, curador de fotografia do Instituto Moreira Salles, que abriga os arquivos de Farkas, é nesse momento que a obra do fotógrafo passa a se situar "no limite estreito entre a experimentação formal e o caráter documental do meio".

    DANÇA PLÁSTICA

    Uma mostra agora na galeria Luciana Brito, em São Paulo, também acentua esse aspecto da obra de Farkas, com imagens pouco conhecidas do artista, em especial uma série de ensaios dos candangos no Núcleo Habitacional Bandeirante, em Brasília.

    "É outra a linguagem dessas imagens. A maioria é horizontal e tem a coerência interna de um ensaio", conta o filho do artista. "A gente não conviveu com essas imagens."

    E conviveu pouco com as imagens de ensaios de balé que o artista fez em São Paulo, onde entrava pela porta dos fundos do Teatro Municipal para ver os bailarinos, e no Rio, onde ficou encantado pelo Balé da Juventude da União Nacional dos Estudantes.

    "Tem toda uma relação dele com a dança", conta o filho do artista. "A cena artística do Rio interessava muito para ele, mas a dança é muito mais visual, mais plástica do que o registro de um intelectual."

    THOMAZ FARKAS
    QUANDO de ter. a sáb., das 10h às 19h; até 9/1
    ONDE galeria Luciana Brito, r. Gomes de Carvalho, 842, tel. (11) 3842-0634
    QUANTO grátis

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