Jeito de caminhar pode aumentar chances de ser assaltado

  • Tom Stafford
  • Da BBC Future
Pessoa sozinha em túnel. Foto: Stig Nygaard/Flickr

Crédito, Stig Nygaard via Flickr

Legenda da foto, Cientistas acreditam que é possível 'aprender a andar direito' para evitar ataques

A forma como as pessoas caminham pode influenciar na probabilidade de elas serem assaltadas, segundo uma série de pesquisas feita por cientistas. A boa notícia é que podemos mudar a forma como caminhamos para reduzir as chances de assalto.

A forma como caminhamos "entrega" muito a nosso respeito. Talvez até demais, se estivermos sendo observados pela pessoa errada.

A maior parte dos assaltos na rua é cometida por um grupo pequeno de criminosos. E esses assaltos são distribuídos de forma desigual na população: algumas pessoas são assaltadas várias vezes, enquanto outras nunca passam por isso.

A questão de quem é assaltado e quem é poupado vem sendo estudada por cientistas desde os anos 1980. Naquela década, dois psicólogos de Nova York, Betty Grayson e Morris Stein, se propuseram a descobrir que tipo de "qualidade" os assaltantes procuram em suas vítimas.

Eles filmaram várias imagens de pessoas comuns caminhando pelas ruas de Nova York. Esses vídeos foram então exibidos a criminosos em um grande presídio americano.

Ajuda de presidiários

As fitas foram analisadas por 53 criminosos – com histórico de assaltos e até assassinatos. Eles fizeram um ranking de quão fácil cada pessoa filmada era de ser atacada – com notas de um a três, em uma escala de zero a dez, em que dez é a pessoa mais difícil de ser assaltada.

Várias pessoas apareceram constantemente na lista de alvos fáceis. Alguns grupos eram previsíveis: mulheres eram consideradas mais vulneráveis que homens; idosos mais fáceis do que jovens.

Pule Podcast e continue lendo
BBC Lê

Podcast traz áudios com reportagens selecionadas.

Episódios

Fim do Podcast

Mas o estudo revelou padrões interessantes. Dentro da categoria de homens jovens – em tese considerados alvos difíceis – mais da metade deles eram classificados como fáceis de assaltar, com notas de um a três.

Os pesquisadores passaram então a estudar os movimentos do corpo das pessoas analisadas pelos criminosos. Para isso, eles pediram a ajuda de dançarinos profissionais, que usaram o sistema Laban de Análise do Movimento – uma técnica de estudo do movimento do corpo humano.

Apesar de identificarem o movimento do corpo como o fator determinante nas decisões dos criminosos, a pesquisa de Grayson e Stein tinha uma falha evidente. Ela não levava em consideração uma série de variáveis potencialmente importantes: o tipo de roupa usada pelas vítimas ou a postura da cabeça.

Duas décadas depois, um grupo de pesquisas da universidade de Canterbury, na Nova Zelândia, fez um estudo mais detalhado.

Esses cientistas usaram um sistema conhecido em inglês como point light walker (PLW), que consiste em vestir as pessoas com roupas escuras com luzes colocadas nos pontos de junção do corpo. Assim é possível ver apenas o movimento da pessoa, sem identificar qualquer outra coisa – como rosto ou dimensão do corpo.

Com os PLW, é possível "ler" várias coisas no movimento humano, desde o sexo da pessoa como o seu estado de humor. Essa leitura é semelhante a que fazemos quando identificamos uma pessoa conhecida à distância apenas "lendo" o movimento do seu corpo, mesmo antes de conseguirmos ver seu rosto.

Com essa técnica, foi possível demonstrar que indivíduos continuavam sendo escolhidos como vítimas preferenciais baseado exclusivamente na forma como se movimentam – pois todas as outras variáveis haviam sido excluídas. Com isso foi finalmente possível demonstrar que o movimento da vítima era realmente o fator principal na escolha dos assaltantes.

Aprendendo a andar

A conclusão mais interessante do trabalho da univesidade neozelandesa foi que as pessoas podem modificar a forma como caminham, para evitarem ser assaltadas.

Em nova pesquisa, voluntários foram filmados antes e depois de fazer um curso de defesa pessoal. Com ajuda do PLW, outras pessoas (não criminosos, desta vez) analisaram o grau de vulnerabilidade de cada um. Surpreendentemente para os cientistas, os cursos de defesa pessoal não tiveram influência na forma como cada um se movimentava.

Em seguida, os cientistas promoveram "aulas" de movimento corporal aos voluntários, ensinando como se locomover com mais energia e sincronia. Essas duas características são apontadas em pessoas com baixa vulnerabilidade.

Um mês depois das aulas, os voluntários voltaram a ser analisados – e todos apresentaram uma queda no seu grau de vulnerabilidade.

As pesquisas relacionadas ao movimento confirmam um senso comum de que é possível prever e "ler" diversas atitudes das pessoas, antes mesmo que elas se manifestem. Alguns fazem isso para prever se alguém vai ganhar algum concurso ou se está blefando em um jogo de pôquer.