João Paulo II: bem aventurado o Papa dos Jovens

João Paulo II: bem aventurado o Papa dos Jovens

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Quando professor universitário, Karol Wojtyla – nome de batismo de João Paulo II –  gostava de dar aulas e praticar esportes com seus alunos. Ele aprendeu assim a entender os problemas dos jovens, suas inquietações, dúvidas e interrogações, seu desejo de mudança.

Essa proximidade permaneceu nos tempos de pontificado. O Papa escreveu cartas aos jovens, encontrou-se com eles diversas vezes e instituiu a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), o maior evento juvenil do planeta.

Em seu pontificado, João Paulo II dedicou atenção mais do que especial aos jovens. No primeiro Angelus depois de sua eleição, disse aos jovens: “Vós sois o futuro do mundo, a esperança da Igreja. Vós sois a minha esperança”. Em 2001, convocou-os a serem as “sentinelas da manhã” (Carta Apostólica Novo Millennio Ineunte) que trazem a esperança de um novo dia, e encorajou-os a serem construtores de um mundo de paz e partilha, com o intuito de construir a civilização do amor.

O primeiro grande encontro do Papa João Paulo II com os jovens aconteceu em 1980, em Paris. Foram três horas de conversa, com perguntas diretas e respostas francas. “Naquele dia o Papa descobriu que os jovens estavam prontos para compartilhar com ele o caminho na direção de Cristo”, conta o cardeal Stanislaw Dziwisz, que durante quase 40 anos foi secretário particular de Karol Wojtyla, no livro “Uma vida com Karol”.

As Jornadas e a Cruz

Começou a surgir naquele encontro uma grande sonho, logo tornado realidade. O Papa instituiu a JMJ com o intuito de “fazpapadosjovenser a pessoa de Jesus o centro da fé e da vida de cada jovem, para que Ele possa ser seu ponto de referência constante e também a inspiração para cada iniciativa e compromisso para a educação das novas gerações”. Nesse sentido, as Jornadas foram, desde sua primeira edição, a presença viva de Deus no meio da multidão de jovens.

Idealizada a partir de dois encontros que João Paulo II teve em Roma com os jovens em 1984 e 1985 – este último, o Ano da Juventude, de acordo com a Organização das Nações Unidas –, a Jornada Mundial começou a ser celebrada na mesma cidade em 1986 e já no ano seguinte se transformaram num evento internacional, reunindo um milhão de pessoas em Buenos Aires. O recorde de participantes foi alcançado em 1995 em Manila, nas Filipinas: quatro milhões de jovens viveram a grande festa.

Um dos símbolos mais marcantes do vínculo entre o Papa João Paulo II e a juventude é a Cruz dos Jovens, que, até hoje, peregrina de cidade em cidade, de país em país, chamando os jovens para seguir Jesus Cristo. Conhecida como “Cruz do Ano Santo”, “Cruz do Jubileu”, “Cruz da JMJ”, “Cruz Peregrina”, “Cruz dos Jovens”, é um simples cruzeiro de madeira de 3,80 metros. Foi entregue aos jovens em 1984, em Roma, como símbolo da fé.

cross“Assim se criou aquele grande movimento de jovens atrás da cruz. E foi o Papa a entregá-la, uma cruz para cada jovem e uma cruz para levar pelas estradas do mundo, proclamando o Cristo crucificado, mas também ressuscitado”, lembra o cardeal Dziwisz.

De acordo com o Pontifício Conselho para os Leigos, no início, as pessoas não compreendiam o que ela tinha de especial, mas pouco a pouco, foram se dando conta de que a Cruz estava em missão a desejo do Santo Padre. A Cruz Peregrina já passou por momentos muito significativos, em que mostrou a comunhão do Papa com o mundo; um deles foi sua passagem pela Tchecoslováquia, quando o país ainda estava sob domínio comunista.

Segundo o Conselho, “alguns se perguntam como duas peças de madeira podem ter tanto efeito sobre a vida de uma pessoa; no entanto, onde quer que a Cruz vá, as pessoas pedem que ela possa regressar. Nessa Cruz, se vê presente o amor de Deus. Através desta Cruz, muitos jovens chegam a compreender melhor a Ressurreição e alguns encontram o valor de tomar decisões a respeito de sua vida”.

Na Jornada de Denver, nos Estados Unidos, em 1993, compareceram cerca de 700 mil jovens – quase quatro vezes mais do que o esperado. As multidões atenderam ao chamado do Papa: “Não tenham medo de andar pelas ruas e nos lugares públicos… Não é hora de se envergonhar do Evangelho, mas de proclamá-lo em alta voz!”.

Na Vigília da JMJ de Roma, que aconteceu durante o Jubileu do Ano 2000, João Paulo II chamou os jovens à santidade e revelou a causa da inquietação da juventude: “É Jesus quem suscita em vós o desejo de fazer da vossa vida algo de grande, a vontade de seguir um ideal, a recusa de vos deixardes submergir pela mediocridade, a coragem de vos empenhardes, com humildade e perseverança, no aperfeiçoamento de vós próprios e da sociedade, tornando-a mais humana e fraterna”.

Amizade profunda

Segundo o cardeal Dom José Freire Falcão, arcebispo emérito de Brasília e amigo pessoal de João Paulo II, o segredo para uma amizade tão profunda com os jovens estava na simplicidade de sua mensagem, na sinceridade de suas afirmações. “João Paulo II acreditava nos jovens, confiava neles, amava-os. Alegrava-se com sua presença. Dizia que aprendia sempre alguma coisa dos jovens e que se deixava conduzir por eles”. O próprio Papa Bento XVI afirmou em Colônia, em 2005, na primeira JMJ sem João Paulo II, que seu antecessor “soube compreender o desafio que se apresenta aos jovens de hoje e, confirmando sua confiança neles, não hesitou em estimulá-los para serem corajosos anunciadores do Evangelho”.

Enfim, a crença nos jovens foi algo constante no pontificado de “João de Deus”. Ele soube reconhecer a força dinâmica dos jovens no anúncio do Evangelho e da causa de Cristo. Já com 74 anos, o papa disse, em 1994: “os jovens sempre me rejuvenesceram”.

Quando morreu, em abril de 2005, milhares de jovens foram a Roma retribuir as visitas que o Karol lhes fizera mundo afora e os conselhos que foram dados a cada tempo. Noite e dia, eles fizeram vigília na Praça de São Pedro, rezando por ele. O jornalista Gianfranco Svidercoschi, que colaborou com João Paulo II em um de seus livros, explica porque Karol os atraía: “Pela credibilidade com que sabia testemunhar aquilo em que acreditava. E porque transmitia um sentido de paternidade espiritual, e ao mesmo tempo, afetiva”. Mas talvez ainda porque eles já sabiam o que a Igreja está prestes a reconhecer: aquele homem era santo.

Por Felipe Rodrigues

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