Rio Barra da Tijuca

Desordem e violência estão em alta na Avenida Olegário Maciel

Calçadas tomadas por mesas, flanelinhas, moradores de rua são rotina no Baixo Barra
Cena comum. Multidão toma até o asfalto da avenida: moradores do bairro reclamam da falta de fiscalização por parte da prefeitura e cobram policiamento Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Cena comum. Multidão toma até o asfalto da avenida: moradores do bairro reclamam da falta de fiscalização por parte da prefeitura e cobram policiamento Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO - No meio do caminho, uma multidão. Centenas de mesas e cadeiras impedem a passagem, assim como dezenas de carros estacionados em locais proibidos. Caminhar pelo Jardim Oceânico, principalmente pela Avenida Olegário Maciel, não é fácil, ainda mais nas noites e madrugadas dos fins de semana. Em vários trechos de calçadas, andar tornou-se impossível. O jeito é se arriscar no asfalto, também tomado pelos frequentadores de bares e restaurantes. O chamado Baixo Barra atrai cada vez mais frequentadores — o movimento cresceu ainda mais após a chegada do metrô e a inauguração do BRT Transolímpico. O sucesso de público, no entanto, não foi acompanhado por ações de fiscalização. A desordem urbana abriu caminho para mais flanelinhas, moradores de rua, usuários de crack e aumento da violência.

— Enquanto não houver uma fiscalização efetiva vai continuar assim. À noite, não consigo circular com um carrinho de bebê. O lugar é bom para se divertir, não sou contra isso. Mas é preciso respeitar o próximo — frisa o engenheiro Adriano Mendes, de 38 anos, que mora no Baixo Barra.

O professor universitário Márcio Thomé chama a atenção não só para a falta de fiscalização, mas de policiamento. Seu apartamento já foi assaltado, algo que ele associa ao que considera um descaso do poder público em relação à região.

— Não sou contra as pessoas virem; meios de transportes são democráticos e todos devem usá-los. O problema é que a maior oferta de acessos não veio acompanhada de um olhar mais atento para o bairro — afirma Thomé, que teve sua cobertura invadida por dois bandidos encapuzados no fim da noite de 10 de novembro do ano passado. — Eles me pegaram e também renderam minha mulher e meu filho, nos mandaram deitar de bruços com os rostos enfiados em colchões. Levaram celulares, dois computadores, cerca de R$ 3 mil, joias e 12 relógios, que eu colecionava desde os 18 anos.

“Não sou contra as pessoas virem; meios de transportes são democráticos e todos devem usá-los. O problema é que a maior oferta de acessos não veio acompanhada de um olhar mais atento para o bairro”

Márcio Thomé
Professor universitário que mora no Jardim Oceânico

Cinco dias depois, assaltantes entraram em outro prédio do Jardim Oceânico e esfaquearam a mulher do porteiro, Edna Reis. Ela foi atacada porque, ao ver um homem dentro de seu apartamento, no térreo, tomou um susto e gritou. Somente na semana passada foi chamada pela Polícia Civil para fazer, sem sucesso, o reconhecimento dos ladrões.

QUEIXAS NAS REDES SOCIAIS

Um morador decidiu criar no Facebook a página Alerta Jardim Oceânico, na qual são publicados relatos de assaltos e apontados, em um mapa, os locais de maior ocorrência de crimes. Em dois meses, mais de 40 casos foram citados. A página já tem 3.500 seguidores.

A maioria dos assaltos relatados na rede social não foi registrada em delegacias, de acordo com os autores das postagens. Mesmo assim, as estatísticas oficiais comprovam a escalada da violência na região. De acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), numa comparação com 2015, o número de assaltos a transeuntes no bairro subiu 51%, chegando a 1.146 registros em 2016. Já o número de roubos a residências triplicou no mesmo período, passando de dez para 32.

O Jardim Oceânico tem cerca de 40 mil habitantes. No fim do ano passado, pelo menos 500 participaram de uma reunião na Igreja São Francisco de Paula, onde ouviram do presidente da associação de moradores, Luiz Igrejas, um relato de seu encontro com o coronel da PM Marcos Andrade, um dos gestores do programa Segurança Presente, implantado com sucesso em bairros como Centro e Lagoa. Se fosse levado para a área do Baixo Barra, custaria aproximadamente R$ 11 milhões por ano.

— Estamos, desde então, empenhados em buscar parcerias para pôr essa ideia em prática por aqui. O problema é que outros bairros querem o mesmo, e não há efetivo para todos. Mas não vamos desistir. Ficamos mais vulneráveis com a ampliação dos acessos. Tem gente vindo para cá com más intenções.

DE CARONA NA BAGUNÇA

Um crime que mostra como a violência pega carona na desordem urbana do Jardim Oceânico é o que teve o aposentado Marcelo Bernardino Bueno como vítima. No último dia 2, ele estacionou seu carro na Avenida Olegário Maciel e se negou a dar dinheiro a um flanelinha, que, diante da recusa, passou a ameaçá-lo com duas facas.

— Ele se abaixou para esvaziar os pneus do meu carro, mas apareci de repente e fui atacado. A sorte é que consegui desarmá-lo — conta o aposentado.

O flanelinha foi preso, mas, para indignação de Bueno e outros moradores da região, ele já voltou a achacar motoristas na Olegário Maciel.

Para piorar, a onda de crimes na área do Jardim Oceânico está chegando à praia: na quarta-feira passada, o Quiosque Atlântico, dos argentinos Renato Giovannoni e Fernando Quirno, sofreu o sexto arrombamento em um intervalo de um ano.

Crimes não são impedidos nem casos de desrespeito ao ordenamento urbano. A colocação de mesas e cadeiras nas calçadas é uma cena comum no Baixo Barra. Proprietários e funcionários de estabelecimentos reconhecem que causam transtornos, mas não planejam mudar de atitude. Bernardo Ribeiro, gerente do Resenha Bar & Grill, diz que comerciantes se mobilizam para apresentar à prefeitura um projeto de fechamento da Avenida Olegário Maciel ao tráfego de veículos das 20h até a meia-noite, sempre aos sábados.

— Existe, sim, um incômodo para os pedestres. A agitação começou há três anos, e o número de frequentadores só vem aumentando. Então, precisamos aumentar a quantidade de mesas e cadeiras para acomodar o maior número de pessoas possível. De vez em quando, a prefeitura aparece e somos obrigados a pagar multas. O projeto de fechar a avenida pode ser bom para todos. Os frequentadores teriam mais liberdade e segurança para conversar, porque o espaço seria ampliado — opina Ribeiro.

Dono do Bar do Adão, Fernando Barbosa Dantas também reconhece que causa transtornos, mas vê possibilidade de melhorar a situação:

— Nossa calçada fica limitada por causa dos carros estacionados. Já pedimos à prefeitura que transfira as vagas para o outro lado. Isso vai fazer com que possamos criar mais espaço para a circulação entre as mesas.

Vanderlei Paludo, gerente do restaurante Na Brasa Columbia, outro que serve clientes na calçada, frisa que os funcionários sempre deixam um espaço para circulação entre as mesas. Ele adianta que, como os direitos dos pedestres são respeitados, já pediu autorização à prefeitura para colocar mais 11.

PROMESSA DE AUTORIDADES

O secretário municipal de Ordem Pública, coronel Paulo Cesar Amendola, diz que já estuda um plano para proporcionar uma fiscalização permanente no Jardim Oceânico:

— Numa reunião com o secretário estadual de Segurança, Roberto Sá, traçamos uma série de regras, que começarão a ser aplicadas agora. No caso do Jardim Oceânico, ações efetivas para reduzir a desordem e a violência serão tomadas. Isso demandará um levantamento da nossa inteligência, que amanhã (sexta-feira passada) já estará no local, para verificar a situação. Haverá resposta da Guarda Municipal.

Subcomandante do 31º BPM (Barra), o tenente-coronel Vanildo Sena Lemos afirma que a situação começou a mudar:

— A partir do momento em que constatamos o aumento de alguns delitos, destacamos uma viatura para atuar exclusivamente no Jardim Oceânico e iniciamos operações diárias. Conseguimos reduzir os crimes com prisões importantes, feitas em parceria com a 16ª DP (Barra).