Depois do vendaval vem a bonança! É o que diz a sabedoria popular. E não há como deixar de comparar a policrise que o Brasil atravessa com um fenômeno trágico da natureza. Furacão, tsunami, ciclone, terremoto, algo dessa magnitude aconteceu em nossa terra.
O declínio dos valores sobre os quais a civilização se assentava é evidente. Em todos os espaços, verifica-se uma destruição dos alicerces morais. Famílias são hoje grupos heterogêneos, com papéis nem sempre definidos. Crianças não podem ser repreendidas, nem advertidas, muito menos castigadas. Desde a mais tenra infância, treina-se a tirania para que prevaleça o individualismo, o egocentrismo e o consumismo.
Respeito é uma coisa que caiu em desuso. Se em casa a informalidade ocupou o lugar do velho “temor reverencial”, na escola o professor é encarado as mais das vezes como um empregado do aluno. Se ele ousar chamar a atenção, em lugar de merecer o aplauso dos pais, receberá uma indigna reação que pode chegar à violência verbal e mesmo física.
Polidez é algo que foi para a arqueologia das condutas. Rispidez, insensibilidade, pouco caso e desconsideração podem ser a regra. Círculos eruditos nem sempre dão exemplo de boa educação de berço. Escolarização não significa boa formação. O comportamento das altas esferas não é bom exemplo. E se os de cima abusam, os debaixo sentem-se liberados. Mente-se, ofende-se, descuida-se de si mesmo, do próximo e da natureza. Como explicar o lixo produzido por uma civilização que está emporcalhando o mundo e se condenando ao suicídio coletivo?
A cada notícia, um susto, uma perplexidade. Inimaginável chegarmos a este ponto. Onde foi parar a civilização? Em que desvio embarcamos e enveredamos pelo equívoco, pelo erro consentido, pelo desprezo em relação a tudo o que é bom?
O ambiente de “terra arrasada” não deve desmotivar aquele que ainda acredita no bem. Chegamos ao fundo do poço, à escuridão moral mais profunda, mas temos de iniciar o trajeto de retorno. Fazer o bem prevalecer, apegar-se aos bens da vida que justificam uma existência digna e acreditar que podemos ser a diferença no mundo leva-nos a confiar que depois desse vendaval ético virá a bonança do resgate, do que realmente vale a pena.
Fonte: Jornal de Jundiaí| Data: 19/10/2017
JOSÉ RENATO NALINI é secretário da Educação do Estado de São Paulo