Brasil está diante do abismo, afirma El País em editorial

Jornal GGN – O jornal espanhol El País afirma, em editorial, que o Brasil está diante do abismo e que o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff não resolveu nenhuma das crises do país, e ainda abre uma etapa “marcada pela incerteza”. O editorial considera que o impedimento provoca uma divisão política no Brasil, que está “imerso na pior crise econômica de sua história”.

O jornal ressalta as acusações contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), classificando-o como o “evangélico conspirador do impeachment”, e também do presidente do Senado, Renan Calheiros, chamado de “um artista da hipocrisia política”. O editorial diz que o país fica em um limbo político às vésperas dos Jogos Olímpicos, necessitando encontrar uma saída para a recessão econômica e para a crise política. Leia abaixo o editorial no site brasileiro do jornal. A versão em espanhol poder ser lida aqui

Do El País

Brasil diante do abismo
 
O processo de destituição de Dilma Rousseff não resolve nenhuma das crises do país
 
A aprovação da abertura de processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff por uma esmagadora maioria da Câmara dos Deputados abre uma etapa no Brasil marcada pela incerteza. A agonia à espera da presidenta nas próximas semanas para acabar previsivelmente saindo derrotada e humilhada pela porta de trás da história não resolve nenhuma das incógnitas que se observam sobre o futuro do gigante sul-americano. O impeachment deixa um país dividido politicamente, em lados conflitantes socialmente e imerso na pior crise econômica de sua história. Também em uma crise moral à qual somente o proverbial otimismo dos brasileiros poderá dar solução.

O Brasil entra em uma transição às cegas cuja primeira parada será o Senado, quando, ainda no início de maio, decidir sobre o caso Rousseff. Bastará uma fácil maioria simples para que a presidenta seja afastada do poder por até 180 dias enquanto é julgada em ambas as Casas. Se, como previsível, for decretada sua morte política, o poder passará ao vice-presidente, Michel Temer, seu antigo aliado e agora o pior inimigo, dirigente do conservador Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e sob suspeita de corrupção. Um personagem obscuro a quem os mercados pedem uma dura política de ajuste e uma reforma tributária: provavelmente necessárias, mas com certeza impopulares.

A confluência dos interesses de Temer com outros dois personagens de seu próprio partido – Eduardo Cunha, presidente da Câmara de Deputados, o evangélico conspirador do impeachment, acusado pelo Ministério Público de possuir milionárias contas na Suíça alimentadas com subornos da Petrobras, e Renan Calheiros, presidente do Senado, um artista da hipocrisia política também investigado por corrupção – deu motivos aos seguidores do Partido dos Trabalhadores (PT) para considerar todo o processo “um golpe de Estado constitucional” para desalojar a esquerda do poder.

Golpe ou mudança de rumo ante circunstâncias de extrema gravidade econômica – como defendem os partidários do impeachment –, dois fatos são inquestionáveis: ocaso Petrobras expôs uma corrupção gigantesca na classe política brasileira que afeta todos os partidos, esquerda e direita, sem distinção; e, até agora, a única não acusada de enriquecimento pessoal foi a própria presidenta. Ao fim e ao cabo, o impeachment se baseia em um tecnicismo fiscal: a prática ilegal de recorrer a empréstimos de bancos públicos para equilibrar o orçamento.

O Brasil fica em um limbo político às vésperas dos Jogos Olímpicos do Rio, inquietado pela necessidade de dar resposta à recessão e encontrar uma saída à crise política. A destituição de Rousseff não deve deter a limpeza dos esgotos do poder. Mas muito menos propiciar – como se viu no domingo, com o lamentável espetáculo oferecido pelos deputados na votação, onde não faltaram gritos, empurrões, cantorias e até uma cuspida – que a democracia brasileira saia desse transe debilitada.

 

Redação

11 Comentários

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  1. Não é a maior crise econômica

    Não é a maior crise econômica da história. A crise atual é maior do que a de 82? Maior do que a da hiperinflação de 89-90? As reservas atuais deixam a crise menor, inclusive, do que a de 98. Quanto a “deter a limpeza dos esgotos do poder”, a Lava Jato já se deteve. Os argumentos são muito frágeis.

  2. ​DIRETAS JÁ!!!!

    Para o bem do Brasil, para nos livrar de tudo de ruim que vem por ai, o que as forças políticas mais sensatas deveriam estar discutindo neste momento era a saída pelas urnas, a viabilização de uma nova eleição presidencial ainda este ano.

    Dilma perderia dois anos de mandato, certo, mas evitaria ser novamente humilhada num circo de baixarias como o que tivemos no domingo. E o Brasil, purificado pelo fogo do voto, reforçado, deixaria para trás a crise e estes tempos vergonhosos.

     

    DIRETAS JÁ!!!! 

  3. O Temer tem que ser …

    O Temer tem que ser hostilizado nas Olimpíadas da mesma forma que a Dilma foi na Copa, e isso tem que vir de forma espontânea para que ele e o mundo saiba que há brasileiros que não querem ele no lugar da Dilma. 

    1. Será que vai ter? Aqui no

      Será que vai ter? Aqui no Rio, como acho que em todo país, a esquerda está unida como pouco se viu na história. Até o PCO, ultra-esquerda participou de atos. Ainda teve o funk contra o golpe no domingo, que reuniu mais de 100 mil.

      Vai ter tanta greve, tanta manifestação, ocupações e boicotes que não sei se conseguirão realizar os jogos. Ainda mais que com a trairagem do Paes e o Cabral, o PT e o PcdoB vão unir-se com o Psol que é forte aqui contra o candidato do Paes para prefeito. O bicho vai pegar, e em agosto que é a data dos jogos, será o ápice. 

      PS: claro que o Temer vai botar a Força Nacional nas ruas. Mas acho que vai ter que ir além e decretar estado de sítio

    2. Será que vai ter? Aqui no

      Será que vai ter? Aqui no Rio, como acho que em todo país, a esquerda está unida como pouco se viu na história. Até o PCO, ultra-esquerda participou de atos. Ainda teve o funk contra o golpe no domingo, que reuniu mais de 100 mil.

      Vai ter tanta greve, tanta manifestação, ocupações e boicotes que não sei se conseguirão realizar os jogos. Ainda mais que com a trairagem do Paes e o Cabral, o PT e o PcdoB vão unir-se com o Psol que é forte aqui contra o candidato do Paes para prefeito. O bicho vai pegar, e em agosto que é a data dos jogos, será o ápice. 

      PS: claro que o Temer vai botar a Força Nacional nas ruas. Mas acho que vai ter que ir além e decretar estado de sítio

  4. Dúvida…

    Alguém me esclareça uma coisa, de forma honesta:

    Eu nasci no meio da ditadura, em 1974. Eu lembro das Diretas Já, das passeatas e da emenda Dante de Oliveira. E ainda garoto, achava o máximo votar pra presidente, de forma direta. Lembro da morte do Tancredo – e do Aécio aparecendo pela primeira vez. Lembro do Sarney – inclusive lembro de uma redação na escola sobre a economia. Que texto horroroso eu escrevi!

    Lembro de SUNAB, gatilho, maquininhas remarcadoras de preços. Lembro de 80% de inflação ao mês, Plano Cruzado, Cruzado Novo, corte de zeros da moeda, do Bresser Pereira e seu plano, e ainda lembro do Plano Verão. Lembro das ORTNs, OTNs, BTNs, overnight e outras bugingangas. Lembro do Sarney discursando na ONU dizendo: “O Brasil não pagará a dívida externa!”, e um radialista contando q qdo ouviu isso no rádio do seu carro, quase bateu num poste devido ao susto…

    Enfim, eu tenho os anos 1980 muito fortes na minha memória. E eu acho, no meu empirismo, que a situação daquela época era pior do que agora. Sim, agora está muito ruim: Queda no PIB, aumento do desemprego, subida do dólar (tá, isso é bom p/ as exportações)… Será q a crise econômica atual é “a pior da nossa história”?

    O desemprego está perto dos 10%. Horrível. Na Espanha está em 23%, mas chega a 50% se observar a faixa etária onde encaixam-se meus alunos – sou professor. Na Grécia está em 27% e na França passou dos 12%.

    O PIB caiu. Fui ver, -1,7% segundo o Trading Economics (http://pt.tradingeconomics.com). Lastimável. Na China, cresceu 6,9% em 2015. Mas foi o menor índice em 25 anos. Na Rússia, caiu quase 4%. Venezuela… 10%. Na França, foi +1,4%, mas a Zona do Euro como um todo, foi de 0,3%. A Inglaterra foi a -2,5% no ápice da crise de 2008.

    No tempo do FHC, fomos parar 3 vezes ao FMI c/ as reservas cambiais SECAS. E agora temos uns US$ 350 bilhões em caixa.

    Aí pergunto: É esta a maior crise econômica que já vivemos? Porque eu tenho a sensação de que já vi crises piores…

    Não estou levando em conta a crise política, que eu acho muito mais séria do que a econômica: Ela agrava a segunda, dificultando o Estado brasileiro criar mecanismos para desatolar e caminhar em frente.

    Alguém me esclareça, por favor.

    1. A crise é política…que está sabotando a economia

      Ricardo,

      Imagine se é possível conceber um país que mantem vários benefícios sociais e ainda se atreve a tentar manter um programa de saude gratuita em meio ao cenário econômico internacional que voce relatou acima.

      Eles querem destruir, Ricardo, destruir para dominar, para manter o foco da política mundial no setor financeiro e dane-se a economia real, de produção. Aliás, os números do desemprego valorizam o capital.

      O mercado exige que o Brasil venha a aderir aos programas de austeridade. A Dilma até ensaiou alguns passos, esperando que fosse suficiente.

      Não, não entendo quase nada de economia, mas  está claro que os registros jornalísticos hoje são extensões dos interesses da política dominante (EUA, MCE). Como esperar análises sérias sobre qualquer assunto? Estamos pisando em areia movediça. Estão querendo nos impor uma escolha entre a submissão às políticas ocidentais e o BRICS, com sua promessa de economia de mercado democrática.

      1. Isso é o que amedronta, Vera.

        E olha que a afirmação veio do El País, que é um jornal “de fora”, logo com menos chances de ser contaminado com todo o lixo vindo da nossa imprensa.

        Sim, como disse, a crise política é muito pior do que a econômica, pois ela agrava os efeitos da segunda. Com todos os defeitos (e são muitos), o SUS é o maior programa de sáude pública gratuita do mundo. Ontem mesmo falei isso para meus alunos, que se espantaram ao saber disso.

        Bem, continuamos na luta. Eu não assisti o espetáculo hediondo de domingo de noite, mas foi útil para saber em quem eu irei votar nas próximas eleições, e de quem eu irei fugir.

        Continuamos na luta. Até a vitória.

  5. O Br visto de fora: golpe e vergonha internacional
      [video:https://www.youtube.com/watch?v=fsvTb2HfZgI&feature=youtu.be%5D Legenda do vídeo no youtube, publicado em 19 de abr de 2016

     

    “A imprensa mundial está chocada com o golpe comandado no último domingo (17) por uma “Câmara de Bandidos”, segundo definição do analista político português Miguel Sousa Tavares.

    Ao Expresso, Tavares afirmou que foi uma “assembleia geral de bandidos, comandada por um bandido chamado Eduardo Cunha”.

    “Fazendo uma destituição de um presidente sem qualquer base jurídica nem constitucional. Constitui uma falta de dignidade, uma bandalheira”.

    Miguel Sousa Tavares chocado relatou: “Elogiaram o coronel Ultra, que torturou o marido de Dilma na frente dela”.

    O comentarista que acompanha a política brasileira desde a eleição indireta de Tancredo Neves, em 1985, testemunha estarrecido: “Nunca vi o Brasil descer tão baixo”.

    Ainda de acordo com ele, a situação brasileira é campo fértil para um golpe militar.

    O analista político prevê um período de retrocesso depois de vários anos de Lula.”

    As informações são do Blog do Esmael (www.esmaelmorais.com.br)

     

  6. O óbvio

    Não é a imprensa brasileira, não são americanos, é um jornal espanhol de grande credibilidade afirmando o que nós já sabemos.Assustador, pois já vivi os estertores da ditadura , a era Sarney, a era Collor e o epílogo do governo FHC(1999  até 2002)

    ” …imerso na pior crise econômica de sua história.”

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