Vilão ou mocinho?

GP da Bélgica teve grandes performances de Alonso e Hamilton, mas ninguém deu mais o que falar que Verstappen

Julianne Cerasoli Do UOL, Spa-Francorchamps (BEL)
Mark Thompson/Getty Images
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Ele deu o que falar

Max Verstappen, que nasceu a cerca de 50km do circuito de Spa-Francorchamps, provocou uma verdadeira invasão de compatriotas, fazendo a etapa reviver seus melhores tempos, quando Michael Schumacher arrastava os alemães ao país vizinho.
 
Tanto que até o vencedor Nico Rosberg fez menção a Verstappen em seu discurso de comemoração da vitória no pódio. “Sei que vocês vieram aqui para ver o Max, mas ele é jovem e irá ao pódio várias vezes”, disse, tentando calar as vaias - o holandês terminou na 11ª posição, fora da zona de pontuação.
 
Porém Verstappen acabou se tornando destaque por outros motivos. Considerado por Sebastian Vettel o culpado da batida com ambas as Ferrari na primeira curva, por tentar uma manobra “bastante ousada” nas palavras do alemão, o holandês foi duramente criticado por Kimi Raikkonen após uma disputa entre ambos durante a prova. 
 
Bastante agressivo em suas manobras, Verstappen tem incomodado os rivais por se mover demasiadamente nos pontos de freada e por não pensar duas vezes antes de jogar carros para fora da pista.
 
Mas o holandês não tem apenas críticos no paddock. Toto Wolff, chefe da Mercedes, saiu em defesa do piloto de 18 anos que, para ele, “faz lembrar os grandes nomes da história”. Ora considerado vilão, ora mocinho, o certo é que esse GP da Bélgica serviu para deixar claro que Max chegou para chacoalhar a Fórmula 1.

Broncas e mais broncas

Não tenho problemas em disputar de maneira dura, mas quando tenho de frear para não bater bem antes de uma curva, algo não está certo. Se não freio, teríamos um grande acidente. E uma hora alguém não vai conseguir evitar

Raikkonen

Raikkonen

É bastante ousado tentar recuperar duas posições na primeira curva. Olhando em retrospecto, se tivesse aberto mais a curva, só eles dois teriam batido. Não cabe três carros naquela curva e quem está do lado de dentro acaba causando a batida

Vettel

Vettel

Quem foi bem

  • Alonso ganha 15 posições. E nem acredita

    O espanhol foi considerado por muitos o melhor piloto do dia, depois de largar na última colocação, tendo sofrido uma série de problemas durante os treinos livres e a classificação, e chegar em sétimo. Os acidentes da primeira volta e a bandeira vermelha ajudaram, mas o bicampeão teve de trabalhar duro para aguentar a pressão de carros mais velozes nas retas.

    Imagem: Charles Coates/Getty Images
  • Hamilton sobrevive e sai no lucro

    Muitos esperavam que Lewis Hamilton conseguisse chegar no pódio mesmo largando no fundo do pelotão na Bélgica, mas as coisas começaram a se complicar após as altas temperaturas aumentaram significativamente o desgaste dos pneus. A corrida cheia de incidentes também poderia ter vitimado o inglês, que teve sorte ao ver três de seus maiores concorrentes baterem na primeira curva, e mostrou firmeza para fazer as ultrapassagens de que precisava na pista para superar os entraves e ganhar 18 posições para chegar em terceiro.

    Imagem: Charles Coates/Getty Images
  • Hulkenberg comanda performance forte da Force India

    O alemão conseguiu evitar muito bem a confusão da primeira curva e se viu na segunda colocação na primeira volta. Com um grande trabalho na conservação dos pneus, só chegou em quarto porque o ritmo da Red Bull de Ricciardo e da Mercedes de Lewis Hamilton era claramente superior. E finalmente conseguiu uma boa performance, em um ano no qual tem ficado à sombra do companheiro Sergio Perez.

    Imagem: Reuters / Andrew Boyers Livepic

Quem foi mal

  • Problemas se acumulam na Williams

    O time garantiu que tinha ritmo para andar na frente das Force India, mas não conseguiu mostrar isso em nenhum momento no final de semana. Na classificação, um problema na configuração do software do motor colocou Massa e Bottas atrás do que a escuderia previa e, na corrida, a estratégia de ambos não foi das melhores. O quarto lugar no campeonato de construtores nunca esteve tão seriamente ameaçado.

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  • Clima na Ferrari vai de mal a pior

    O ritmo dos carros vermelhos não foi ruim neste final de semana, mas há tempos o time não consegue "encaixar" uma corrida. E a tensão que a falta de resultados, ainda mais com o claro crescimento da Red Bull, provoca é óbvio. Na Bélgica, os pilotos não conseguiram fazer uma volta perfeita na classificação e se envolveram em um toque na primeira volta, correndo com seus carros danificados. Era a última coisa que a Scuderia precisava no momento.

    Imagem: Charles Coates/Getty Images
  • Kvyat apagado de novo

    Se tem um piloto que parece estar cumprindo tabela no campeonato, é Daniil Kvyat. O russo claramente não se recuperou do baque de ter sido rebaixado da Red Bull para a Toro Rosso após quatro provas em 2016 e vem tendo uma série de performances apagadas. Na Bélgica, novamente foi facilmente dominado por Carlos Sainz na classificação e esteve bem pouco combativo na corrida.

    Imagem: Brandon Malone/Reuters
Charles Coates/Getty Images Charles Coates/Getty Images

Brasileiros apagados

Com 3 pontos marcados nas últimas oito provas, Felipe Massa não tem conseguido ter um final de semana limpo e não esconde a dificuldade em lidar com as pressões mínimas determinadas pela Pirelli, bem maiores que o usual.

Além disso, na Bélgica, o piloto da Williams teve problemas de queda de potência no motor na classificação e fechou a prova com um carro danificado por toques com Sergio Perez e Sebastian Vettel, terminando em décimo.

Já Felipe Nasr se mostrou animado com a primeira grande atualização em sua Sauber e chegou a subir para 11º nas primeiras curvas, mas teve um pneu furado ainda na volta inicial, o que também danificou seu carro e acabou com suas chances de se aproveitar de uma prova movimentada.

Os bastidores do GP

  • Pirelli se irrita com Massa

    O brasileiro é um dos maiores críticos à tendência da fornecedora de pneus de determinar pressões mínimas mais altas que o normal, consequência direta da evolução dos carros e da maior carga colocada nos pneus. Como tem um carro que peca do lado aerodinâmico, a Williams tem sofrido mais que outras equipes devido a isso. Na Bélgica, Massa foi duro e disse que as pressões atuais são "uma brincadeira", declaração que não foi bem recebida pelos italianos.

    Imagem: REUTERS/Maxim Shemetov
  • Perez cada vez mais perto da Renault

    O mexicano tem contrato com a Force India para a próxima temporada e os chefes do time afirmam que ele fica, mas são cada vez mais fortes no paddock os rumores de que seus patrocinadores decidiram pela transferência para a Renault, onde se tornaria companheiro de Esteban Ocon, outro piloto que não foi confirmado, mas que é dado como certo na equipe francesa. A indefinição de Perez tem travado o mercado de pilotos no meio do pelotão.

    Imagem: José Jordan/AFP Photo
  • Sauber "abre o cofre"

    Os sinais de que os tempos de dinheiro curto no time de Felipe Nasr ficaram para trás ficaram ainda mais claros no final de semana do GP da Bélgica, quando o time levou à pista um extenso pacote de mudanças aerodinâmicas, com todas as peças novas estando disponíveis para ambos os carros. E fora das pistas, até as festas de recepção à mídia, que tinham virado raridade nos últimos tempos, voltaram a ser oferecidas.

    Imagem: Andrew Boyers Livepic/Reuters
Twitter/Reprodução Twitter/Reprodução

Problemas técnicos

Não foi à toa que a Red Bull andou bem no GP da Bélgica: chamou a atenção no paddock o chamado rake, diferença entre o ângulo que o assoalho forma com o chão da dianteira para a traseira do carro, utilizado pelos carros de Daniel Ricciardo e Max Verstappen.

Cerca de 45% da pressão aerodinâmica do carro vem do assoalho e 35% da parte traseira, então é clara a importância de trabalhar bem nessa área. Com o rake agressivo, a Red Bull parece ‘inclinada’, com a asa dianteira praticamente grudada no solo e a traseira mais alta, criando uma área de grande pressão e ‘colando’ o carro no chão.

Um dos grandes trunfos dos últimos carros de Adrian Newey, o rake agressivo utilizado nos carros da Red Bull é algo difícil de se obter mas, quando está funcionando a contento e de forma harmônica com o restante do carro, gera muita pressão aerodinâmica, algo bem-vindo especialmente para fazer as curvas de maneira mais rápida e estável.

Tony Feder /Allsport Tony Feder /Allsport

Há 28 anos

A McLaren vencia o título de construtores de 1988 com seis provas de antecedência, naquele que foi um dos campeonatos mais fáceis da história da Fórmula 1. O time de Ayrton Senna e Alain Prost venceu 15 das 16 provas disputadas no ano - e ficou com 15 das 16 poles positions, sendo 13 do brasileiro.

A história se repetiu no GP da Bélgica, em que Senna largou na ponta, chegou a perder a primeira posição para Prost nos metros iniciais, mas recuperou a ponta na terceira curva para vencer com tranquilidade, colocando mais de 30s no companheiro e ajudando sua equipe a selar o título de construtores, que seria o primeiro de uma sequência de quatro.

O domínio da McLaren, contudo, há tempos não se repete: o time não vence um campeonato de equipes desde 1998 e vive a maior fila de seus mais de 50 anos de história.

A opinião dos blogueiros

O GP da Bélgica, que poderia eventualmente permitir uma inversão de posições na liderança do mundial, pois Rosberg largava da pole e Hamilton da última fila, acabou mostrando a esperada vitória de Rosberg, mas também permitiu a Hamilton de limitar o prejuízo e continuar na ponta do mundial.
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Claudio Carsughi

Claudio Carsughi

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