Selfies de Pênis, Fetiches e Putaria: Destrinchando uma Rede Social que Pretende Conectar os Surubeiros Brasileiros
Ilustração por Juliana Lucato.

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Selfies de Pênis, Fetiches e Putaria: Destrinchando uma Rede Social que Pretende Conectar os Surubeiros Brasileiros

O SexLog ou o "Facebook do sexo", como foi apelidado pela sua equipe, tem mais de 4 milhões de usuários em busca da mesma coisa: sexo (virtual ou real) e todos os seus possíveis desdobramentos.

Seja na vida real, ou nos porões da internet, uma coisa é certa: o brasileiro curte uma putaria. Claro que os níveis variam bastante de cidadão pra cidadão, mas se tem uma possibilidade de descolar uma transa, pode ter certeza que um brasileiro vai estar lá mandando nudes. Nós somos um dos países que mais consomem pornografia no mundo, o "carnaval do Rio de Janeiro" já é uma categoria clássica da pornografia, assim como o mercado de filmes de travestis para exportação. Então, claro que não é de impressionar que existia algumas uma redes sociais nacionais cuja maior ambição seja unir todos os transões do país. Temos a D4 Swing, BDSM Lovers e o SexLog.

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O SexLog é bastante simples de usar. Tão simples que sua avó poderia aprender em poucos dias, e talvez ela até esteja por lá, já que a rede social conta com mais de quatro milhões de assinantes de todas as idades (acima de 18 anos, claro) e origens.

A rede social é tão prolífera que a própria equipe considera a plataforma um "Facebook do sexo". "O objetivo é proporcionar esse espaço sem julgamentos onde as pessoas vivam o prazer de verdade. (…) A gente tá aqui pra intermediar, levantando sempre algumas bandeiras como liberdade, segurança, pertencimento, cumplicidade e transparência", explica a diretora de comunicação do SexLog, Mayumi Sato.

Para fazer parte é bem simples. Um cadastro já te dá um perfil e uma chance de fuçar um pouco no que tem por lá. Não é muita coisa, mas dá para ter uma noção geral do que te espera. O site obviamente restringe seu acesso à grande parte do conteúdo para você querer ser assinante.

Minha única experiência com esse tipo de plataforma social é no FetLife que, para quem não conhece, é mais voltada para o BDSM. Assim como no FL, você só vai chegar em algum lugar se tiver uma foto sua e um perfil minimamente preenchido com suas preferências sexuais e o que você procura. Isso já te dá uns 40% de chances de você conseguir interagir com alguém e descolar alguma coisa na vida real.

Diferentemente da massa brasileira do FetLife, o SexLog me surpreendeu com a diversidade de usuários. Os brasileiros que usam o FetLife são majoritariamente brancos, já na meia idade e héteros. Claro que tem muito homem hétero circulando no SexLog, mas há mulheres, transexs, travestis, casais e muitos gays interagindo. Isso pode parecer um pesadelo quando nós vemos toda essa gente se atracando em um post do Bolsonaro no Facebook, mas no SexLog existe uma impressionante harmonia entre os usuários. Afinal, o objetivo é único: sexo sem compromisso.

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Por isso, não me surpreendi quando descobri que o grande trunfo da rede foi conseguir construir um lar aconchegante para uma galera que existe muito tempo (talvez até antes da internet discada), os "liberais".

Se algum dia você já se pegou vendo a sessão de pornografia nas prateleiras mais altas de uma banca de jornal, já deve ter visto algumas prensagens vagabundas de uma revista chamada "Abusada". A capa dessa revista costuma ser uma foto de alguma produtora nacional ou gringa, mas o conteúdo é repleto de pornografia amadora nacional que relatam as "festas liberais". Algumas consistem em um churrascão firmeza em algum sítio onde qualquer interessado pode aparecer (pagando uma entrada, claro) e fazer uma suruba, troca de casais e tudo que sua imaginação permitir (desde que seja consensual e não seja crime). Nas páginas finais da revista sempre tinha um pequeno anúncio do próximo encontro e as fotos de baixa resolução mostram mulheres transexuais ou travestis se engraçando com homens e mulheres cisgêneros e até mesmo mostra a possibilidade de homens hetéros se catando com outros homens. Uma farra.

Esse, em resumo, é o rolê liberal. Festas que são frequentadas por pessoas de todas as classes sociais (predominantemente classe média e baixa), orientação sexual e identidade de gênero. Embora na vida social muitas dessas pessoas adeptas ao rolê liberal possam se mostrar preconceituosas, na hora da farra não existe muito essa de querer se provar. É só putaria mesmo.

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O que é diferente do swing, cujo carro-chefe sustentado pelos próprios participantes é o alto-grau de seletividade e encontros "secretos" (insira muitas aspas nesse secreto). O que mostra que a troca de casais costuma ser bastante classista, selecionando seus participantes pelo nível socioeconômico e, às vezes, pela aparência mesmo. Não é à toa que muitas casas high-end de swing estão localizadas em bairros nobres de São Paulo como Moema. Se for para fazer uma análise bastante porca, o swing é o 45 do sexo e rolê liberal seria o 13.

Enfim, encontrei muita gente dos dois nichos no SexLog. E isso reflete no próprio comportamento dos usuários, mesmo que muitos deles nem entendam o rolê liberal como uma cena em si. Gays xavecam fortemente os homens héteros [p.ex.: que rola bonita, adoraria mamá-la (sic)], os quais respondem respeitosamente os elogios [obrigada pelo elogio, meu querido, mas eu sou hétero (sic)].

Fora isso, há uma cena bastante prolífera de crossdressers que exigem ser tratadas no feminino quando montadas que são bastante adoradas por lá. Assim como as transexuais e as travestis.

Uma crossdresser conversou rapidamente comigo pelo chat. Todas as suas fotos exibem seu corpo andrógino, envolto de roupas da última moda e algumas mostram sua boca besuntada de batom vinho. "Só gosto de sair com mulheres e adoro me montar para elas", revela.

Inspirada pela crossdresser, resolvi colocar seis fotos no meu perfil, tomando bastante cuidado para tapar meu rosto, já que a equipe do SexLog barra fotos de rosto para evitar o revenge porn. "Como regra geral, ninguém pode subir fotos ou vídeos mostrando rosto, a menos que entre em contato conosco e prove por A+B (mandando documentos, etc) que o rosto é seu. Isso já inibe a maior parte dos chamados perfis fakes", explicou Sato.

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Recebi umas 20 solicitações de amizade em menos de duas horas de perfil. Todos homens, lógico, já que eles estão em profusão sempre em busca de um nude ou sexo casual. Isso continuou ao longo do mês inteiro de assinatura, uma média de 20 a 30 solicitações de amizades por dia. 80% de homens, 20% de perfis de casais. Nenhuma mulher me adicionou.

Ser mulher no SexLog é uma faca de dois gumes. Você pode encontrar pessoas realmente dispostas a fazer o que você quiser, mas também aguentar encheção de saco a cada cinco minutos. A maioria dos papos que tive começa com "eu sou de tal cidade, mas vou sempre para São Paulo à trabalho", ou "estou procurando uma mulher disposta a fazer sexo casual em tal horário" ou, ainda, o clássico "estou de pau duro vendo suas fotos". Bastante homem casado está por lá a fim de buscar alguém para pular a cerca durante o horário comercial. Seria tipo um Ashley Madison, só que sem vazamentos de informações pessoais.

Praticamente todas as fotos de perfis masculino são de pirocas eretas ou abdomens definidos. Creio que em um mês vi mais piroca do que toda a Sociedade Brasileira de Urologistas. O lado bom é que quando você fala "não quero", "não estou interessada" ou apenas "não", não tem choro nem vela, todos rapidamente pedem desculpas e param de falar com você.

Essa harmonia entre gêneros no SexLog é bastante considerada. Ou seja, se você for um bosta com alguém, você vai se foder com os usuários e com a própria equipe do site. "Temos uma combinação de uma comunidade super ativa que se auto-regula, enviando denúncias para serem analisadas, e uma equipe de suporte mega eficiente que averigua e exclui qualquer coisa que possa parecer suspeita", frisa Mayumi.

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Então por mais que você receba 20 convites de sexo por dia, nenhum deles vai te xingar ou te ameaçar se você falar que não quer. Inclusive, é melhor você falar logo de cara que você não quer para a pessoa partir para a próxima. Sem ressentimentos.

Fuçei nos perfis de tudo que consegui encontrar na minha frente e vi eventos combinando festas de swing, surubas, homem casado realizando a fantasia de ser corno, gangbangs e muitas garotas de programa passando WhatsApp (embora o site proibir essa prática e incentivar que os próprios usuários denunciem). O que mais chamou a atenção e, me parece, que se tornou o segundo trunfo da rede social são as live cams.

É bem simples. Se algum usuário tem acesso à internet, uma webcam e vontade de se exibir, está liberado para se mostrar ao vivo para todo mundo. Não importa o horário, sempre terá alguém se exibindo ao vivo: casais, mulheres solteiras, crossdressers, homens batendo uma punheta no banho ouvindo Claudinho & Buchecha e até coroas discutindo a literatura de Nelson Rodrigues.

A graça das cams (além do fetiche) é poder descolar uns presentinhos dos usuários. O SexLog disponibiliza uma versão de bitcoins chamada "tokens", que podem ser presenteadas por qualquer um (desde que pague pelo pacote) e podem ser revertidas em vantagens no site, vale-compras no NetShoes e Polishop e também poder trocar por brinquedinhos sexuais.

Esses tokens lembram muito a wishlist que a cams girls profissionais costumam deixar disponível em seus Tumblrs. Se algum cliente quiser dar um presente, é só abrir a lista dela do Ebay e comprar o que ela quiser. Os tokens são uma versão menos profissional disso, mas para você conseguir alguma coisa substancial é preciso juntar uma média 20 mil a 50 mil tokens. Não fiz as contas, pois sou de humanas, mas é bastante dinheiro.

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A primeira live cam que peguei foi de uma mulher com um véu que deixava só seus olhos à mostra usando uma lingerie de policial. Cerca de 600 pessoas estavam assistindo. No meio tempo, um ou outro admirador dava 100, 200 ou 500 tokens por um peitinho ou uma xoxota revelada pela usuária. Ela também mostrava algumas de suas contas de casa, pedindo para algum interessado pagar. O número de admiradores era tão grande que não duvido que até o final da sessão ela quitou a maioria das contas do mês.

Mayumi me explicou que o SexLog prefere manter os tokens como a única forma monetária da plataforma. Você pode gerenciá-los no seu perfil como se fosse uma conta bancária mesmo, o que parecia uma versão putanheira do Jogo da Vida. "Hoje a gente quer continuar apostando e investindo em quem quer se exibir por prazer. (…) É claro que se a gente anunciasse hoje que começaria a pagar, mais gente se exibiria, mas quem quer ganhar dinheiro mesmo, já está em outros canais. Então é uma opção consciente, ter um número talvez mais limitado de exibicionistas, mas com a certeza de que estão todos ali por prazer", disse.

Pessoas pedindo gratificação financeira pela live cam não são regra no site. A segunda transmissão foi de um casal de meia idade que conversava alegremente no bate-papo e alternava entre transar ou se masturbar. E foi assim que vi mais dezenas de mulheres fazendo a mesma coisa. Umas mostravam o rosto, outras mantinham a câmera direcionada para seus corpos despidos, mas todas estavam se divertindo.

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"Umas das melhores coisas que o SexLog fez foi a live cam", afirma Luizinha* usuária da rede há dois anos. "Depois dela tive mais pessoas interessadas em sair comigo. Além disso, muitas pessoas costumam duvidar que existo, então se mostrar na câmera dá uma facilitada. "

Luizinha tem mais de mil amigos no seu perfil e também é uma das usuárias mais populares da rede. Casada há 28 anos, mantém discrição cobrindo seu rosto e priorizando sempre os encontros ao vivo, armados por ela mesma em horários pré-determinados.

"Eu sou quase tudo aqui. Gosto de aventuras, coisas diferentes, mas principalmente, gosto de sair com homens", explica ela que já conseguiu se encontrar com mais de 100 pessoas desde que se cadastrou na rede.

Um dos maiores fetiches de Luizinha são as gangbangs com homens desconhecidos. As fotos dessas aventuras são sempre compartilhadas nas redes com os rostos borrados, recebendo centenas de curtidas e comentários em resposta.

Os encontros são bancados por conta própria dos participantes, que precisam pagar o motel e o transporte da Luizinha. Segundo o site oficial dela (é sério) fica R$ 180,00 por pessoa com tudo incluso. Pela quantidade de fotos no perfil dela, interessados que não faltam.

"O quarto pode ter mil coisas, mas o que importa é o sexo gostoso, o resto nada importa. Não escolho o motel e o quarto pelas mordomias e sim por ser o único que comporta gangs com mais de três pessoas e todos os carros", ela explica em seu site.

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"Não participo de encontros da minha cidade, para preservar a minha privacidade e a do meu marido. Por isso, prefiro marcar os encontros por minha conta pelo site com quem está interessado", conta.

Perguntada se existe alguma queixa que deveria ser mudada na rede, Luizinha é sucinta. "Não tenho o que falar, não mudo de site e gosto muito. " Ela pareceu bastante energética quando deu essa declaração.

A experiência de Luizinha é bastante positiva e embora as oportunidades oferecidas pelo site não serem minha praia, a minha também foi legal. Já fui muito mais desrespeitada quando usava o Tinder ou o próprio FetLife, então minha experiência de ver como funciona o sexo à brasileira me deixou bastante tranquilizada.

O único cuidado que todos os usuários fizeram questão de me recomendar é não marcar um encontro muito rápido, por questões óbvias de segurança.

Mesmo que o objetivo de todo mundo lá ser transar, essas dicas de segurança são as mesmas que todo mundo deve tomar quando for marcar um encontro com alguém que conheceu no Tinder ou no Facebook.

A chave da coisa aqui é: pode dar bosta em qualquer lugar, então não seja cabaço.