Desafios da fé: a viver o ramadão.

É meio-dia. O deserto volta a chegar ao que em tempos foi só mesmo isso, um deserto. Não se vê gente. Tudo acontece a um ritmo muito lento. O calor abrasador faz-nos ver o alcatrão a “tremer”. Estão mais de 45 graus, humidade e as pessoas recolhem-se em qualquer lugar com ar condicionado.

 

Fazem-se sestas para combater a sonolência e esquecer a fome. Tudo está fechado, não se pode comer, beber, nem fumar em público. Joelhos e cotovelos devem manter-se tapados.

 

Estamos em pleno ramadão.
 
Durante estes 29 ou 30 dias, dependendo da lua, o muçulmano é chamado a renovar a sua fé, praticar caridade mais frequentemente e viver os valores da vida familiar. É também tempo de reflexão, correção pessoal e autodomínio. E acima de tudo é tempo de oração e leitura daquele que para eles é o seu livro sagrado, o Corão.

 

Até à hora Maghrib, a quarta reza do dia, que acontece ao pôr-do-sol, todos os segundos são contados esperando o momento em que as restrições acabam. O jejum é interrompido com uma refeição chamada Iftar, normalmente tomada em comunidade. É considerado muito nobre oferecer esta refeição aos mais carenciados, bem como convidar outros a partilhar este momento. As mesas devem ser fartas e ricas em variedade. A tradição manda quebrar o jejum com tâmaras secas, como terá feito o Profeta.

 

A partir desta hora a cidade transforma-se! Carros a circular, o comércio abre finalmente portas, iniciam-se grandes banquetes em casas particulares, restaurantes e hotéis. Deleites que duram até altas horas da madrugada, mais concretamente até ao primeiro raio de sol, quando o jejum deve começar novamente.

 

Para nós, os que não jejuamos, as obrigações são naturalmente outras e passam por respeitar as regras do país, a abstinência dos colegas e amigos, e de certa forma celebrar com eles este tempo de recolhimento e convívio familiar.

 

Sem querer, acabamos por nos embrenhar um pouco nesta experiência do ramadão. Os horários de trabalho são reduzidos, o que nos permite estar mais tempo com a família. Não podemos comer e beber em público, logo ou o fazemos às escondidas ou acabamos por jejuar algumas horas também. O convite à calma, à reflexão e à caridade são uma constante.

 

Os valores partilhados são me tão intrínsecos que dou por mim a viver o ramadão de uma forma muito natural e própria, encontrando o meu tempo extra de introspeção e reza.

Madalena Júdice Correia

Cronista "enviada" ao Qatar

A hotelaria é a sua paixão profissional e trabalha para a Ritz-Carlton. Muito curiosa. Acredita que podemos ser pessoas um bocadinho melhores todos os dias, se estivermos dispertos para isso. Tem muita vontade de viver ao máximo a vida que Deus lhe oferecer. A melhor forma de estar é ao ar livre e em boa companhia. Um amigo uma vez disse que ela tinha uma certa loucura saúdavel.

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