42 - My Magical Glowing Lens - entrevista com Gabriela Deptulski

Uma música que mistura som, imagens, tato, guiadas por uma voz doce, emaranhada em uma camada psicodélica ou "Schizophrenic mystical psychedelic prog noise rock", como se definiu, na página oficial da banda no facebook.

Esse é o My Magical Glowing Lens (ou MMGL, para os íntimos), ao menos, para sua fundadora, compositora, cantora, baixista, guitrarrista e produtora, Gabriela Terra Deptulski.

Gabriela é a alma e o cérebro da banda, que agora tem novos integrantes e funcionam como um coletivo.

Ela abriu mão de ser uma espécie de Prince tupiniquim para criar outra visão e poder ampliar seus sonhos musicais, digamos. De discografia pequena, o MMGL acabou de assinar com a midsummer madness e, em breve, irá colocar seus discos à venda, além do novo trabalho, que ainda está em processo de gestação.

Para falar com Gabriela foi muito fáci. Precisei apenas acessar o facebook dela (essa nova ferramenta da comunicação moderna) e logo consegui uma entrevista com essa simpática capixaba, que conta de seus planos e como luta por seus sonhos, independente do sucesso comercial ou não.

(CRÉDITOS DAS FOTOS DO GRUPO E SHOW: FERNANDA CARRILHO.)


Pergunta: - Gabriela, o My Magical Glowing Lens é (ou era) um projeto apenas seu, onde você toca, canta, grava e produz. Mas, agora a banda tem outros membros. Eles são fixos ou participam apenas dos shows?
Gabriela: - Eles são fixos. Não é uma banda montada. Desde a primeira vez que conversamos, já nos identificamos absurdamente. Desde o início o objetivo era fazer o primeiro EP do MMGL funcionar ao vivo.

Pra concretizar isso, temos como referência a gravação que fiz sozinha, mas o modo como interpretamos o que está ali é recriando a gravação, de modo que todos possam participar de maneira criativa nesse processo.

Todo mundo na banda participa ativamente da criação dos arranjos nas versões ao vivo das músicas. Os meninos não 'fazem banda' para a Gabi, nós quatro somos uma unidade, uma banda. Quando estamos tocando as músicas do MMGL, elas não são mais as músicas da Gabi, elas são as nossas músicas.

Pergunta: - Conte um pouco sobre as gravações do EP e do novo single. E por que optou em lançar o EP em fita K7, pela Honey Bomb. Não seria mais interessante em CD?
Gabriela: - A gravação do EP foi caseira, mixei aqui em casa também. Não me importei muito com regras estabelecidas de gravação, ia experimentando timbres, posições do microfone... Já passei quase uma semana inteira só pra conseguir um timbre específico de guitarra.

É tudo feito por camadas, normalmente faço primeiro as linhas de bateria e depois vou gravando as guitarras e vozes. O baixo é sempre o último que gravo, mas durante o processo todo já vou pensando em como serão as linhas de baixo. A ideia de lançar o EP em fita cassete foi da Honey Bomb Records! Eu amei a ideia. O EP foi lançado em CD também!

Pergunta: - Fale como apareceram os outros integrantes e a mudança no som do grupo.
Gabriela: - Eles são da banda TSM. O Raími (guitarra) me procurou, falou que queria colocar o MMGL pra funcionar ao vivo, daí eu conversei com o Pedro (baixo e teclado) e ele curtiu muito a ideia.

O Esquerda (bateria) foi último a entrar. Cada um trouxe algo novo para o som. Esquerda tem um estilo muito próprio, no qual ele toca realmente forte nas partes mais intensas, mas sabe segurar a mão e criar timbres sutis nas partes mais lentas.

Essa variação de pressão na batera, assim como a riqueza de detalhes e timbres que só uma bateria real possui, não existia nas gravações que fiz sozinha. Já os solos do Raími são num estilo mais ‘blues’, algo completamente diverso do meu modo de solar, isso traz uma dimensão completamente nova para as músicas. Pedro acrescentou teclado nas músicas, o que deixou o som mais cheio e mágico.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

(O GUITARRISTA RAÍMMI E O TECLADISTA E BAIXISTA PEDRO)

(O BATERISTA ESQUERDA)

Pergunta: - Vocês continuam morando em Vitória?
Gabriela: - Eu moro em Colatina, vou praticamente todo final de semana pra Vitória a fim de ensaiar. Ensaiamos na casa do Esquerda em Vitória, mas Raími e Pedro são de Vila Velha, que é uma cidade fantástica
também, muito próxima de Vitória.

Pergunta: - O MMGL tem uma influência mais shoegaze e dreampop, mas você já disse que foi o psicodelismo que abriu sua mente.

Ao mesmo, na sua página do facebook, vejo que gosta de bandas prog, como Yes e Atomic Rooster. Como consegue juntar tudo isso em uma canção?
Gabriela: - Acho que quando você faz música com sinceridade, sem querer que ela soe de algum modo específico, ou seja, quando você simplesmente deixa o sentimento que você precisa expressar tomar conta, tudo o que já te tocou algum dia acaba influenciando o som que você faz.

E como eu ouço muita coisa, e muitos estilos diferentes me tocam profundamente, as influencias variadas acabam se juntando de maneira natural. É o mistério da criação artística: ao mesmo tempo em que você é influenciado por toda essa gama absurdamente grande de músicos fantásticos, você consegue criar algo completamente novo e diverso daquilo que te influenciou! É muito misterioso e mágico.

Pergunta: - Você disse que suas músicas são "sinestésicas". Explique esse conceito.
Gabriela: - Eu tento compor de um modo que as músicas sejam espaciais e causem sensação de movimento, trazendo junto com isso imagens mentais (visão), texturas (tato)... Sempre que ouço as músicas do My Magical vejo uma porrada de imagem, luzes, sinto "na pele" mesmo isso tudo que está ali. Por isso falo que é sinestésico, porque mistura audição, visão, tato...

(CAPA DO EP DE ESTREIA E DO NOVO SINGLE, RESPCTIVAMENTE)

Pergunta: - Fale um pouco os novos trabalhos, o que ainda está sendo gravado.
Gabriela: - Estamos com cinco músicas novas, duas delas já tocamos ao vivo ("All The Stars of our Thought’ e "‘Space Woods").

Tenho mais três músicas além dessas, mas nem sei se vão entrar no próximo trabalho. Nesse momento estamos cuidando de fazer a banda funcionar bem ao vivo, não estamos tão preocupados com algum material novo. Depois que conseguirmos nos estabilizar como banda, pensaremos em fazer algo novo.

A meta agora é aperfeiçoar o que já estamos executando. Afinal, a banda tem apenas quatro meses, é preciso ainda muito ensaio e shows para a gente conseguir se entrosar de verdade e fazer as músicas soarem boas ao vivo.

Pergunta: - Você acabou de fechar um acordo com a midsummer madness para lançar seus discos. Como funciona a rotina do grupo? Quantas vezes por semana ensaiam? Você ainda é a principal compositora? Viajam para shows? Imagino que, infelizmente, ainda não seja possível viver apenas de música.
Gabriela: - Eu tenho o apoio da Midsummer Madness e da Honey Bomb Records. Com relação a frequência dos ensaios, nós ensaiamos aos domingos, mas quando temos show pegamos dias seguidos para ensaiar. Por exemplo, nós ensaiamos vários dias seguidos para nos preparar para a sequência de shows em São Paulo que fizemos mês passado. Pretendemos fazer esse mesmo esquema no Rio de Janeiro. Com relação à composição, eu sou a compositora inicial, é como se eu desse o primeiro chute, depois trabalhamos em time, todo mundo participando junto. Infelizmente ainda não é possível viver apenas de fazer shows e vender o material da banda, talvez nunca será para nós. Mas isso não importa, o que importa é continuar fazendo música sincera e transformando o mundo através dela.

Pergunta: - Quais são suas bandas favoritas? E seus discos?
Gabriela: - As atuais são The Muddy Brothers, Mango, Boogarins, Bonifrate, Tagore, Trem Fantasma, Marrakesh, Goastt, Pond, Tame Impala, Foxygen, Melody’s Echo Chamber... Nos últimos tempos passei um longo período ouvindo diariamente Um Futuro Inteiro do Bonifrate, é um álbum absurdamente mágico. Já de bandas antigas, posso citar Mutantes, Pink Floyd, Jimi Hendrix, King Crimson, Yes, Beatles, The Zombies… Um álbum que ando ouvindo muito é o The Yes Album, do Yes.

Pergunta: - Ser independente é uma opção ou a única forma de realizar seus sonhos, no Brasil?
Gabriela: - Penso que para realizar sonhos você precisa apenas ir atrás do que ama, sem preguiça ou medo, junto de pessoas que fazem o mesmo. Eu já realizei vários sonhos assim, espero realizar muitos outros.

Pergunta: - Obrigado pela entrevista. Deixe uma mensagem aos fãs e diga como podem conseguir seus discos.
Gabriela: - Eu que agradeço pelo apoio! A mensagem que deixo é a seguinte: nunca deixe o mundo ficar chato, lute pelo que te faz mais feliz e não desista nunca daquilo que intensifica sua vontade de viver, mesmo que isso não gere dinheiro, mesmo que tudo pareça ir contra, continue fazendo e fazendo, movimentando o mundo para ele se tornar cada vez mais interessante, diverso, intenso e vivo.

Os EP’s são feitos assim, com movimento, amor intenso, em casa, por mim, manualmente. Para adquiri-los é só mandar e-mail ou via facebook.

 

Discografia

My Magical Glowing Lens (EP, 2013)
Windy Streets (2015)