Estamos sendo lembrados de que somos tão vulneráveis que, se cortarem nosso ar por alguns minutos, a gente morre. - Ailton Krenak
ISSN 1678-0701 · Volume XXI, Número 86 · Março-Maio/2024
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10/09/2018 (Nº 52) EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO DE CASO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE URUARÁ, PA
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EDUCAÇÃO AMBIENTAL APLICADA AOS RESÍDUOS SÓLIDOS: UM ESTUDO DE CASO EM ESCOLAS PÚBLICAS DO MUNICÍPIO DE URUARÁ, PA

Reinaldo Lucas Cajaiba - Laboratório de Ecologia Aplicada-LEA, Utad/Portugal (reinaldocajaiba@hotmail.com).

Wully Barreto da Silva - Universidade Federal do Pará-UFPA (wully_bio@hotmail.com).

Francisco Arcanjo de Souza Filho – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia-IPAM (franciscoarcanjo.ea@hotmail.com)

 

Resumo

O objetivo do presente trabalho foi avaliar a metodologia adotada pelos professores das escolas públicas de Uruará-Pa para o desenvolvimento de aulas de Educação Ambiental voltada para os resíduos sólidos. Para tanto, foi aplicado um questionamento com questões abertas e fechadas que abordava sobre a temática. Os resultados mostram que a Educação Ambiental desenvolvida pelos professores é trabalhada de forma isolada e esporádica, principalmente em datas comemorativas e em algumas disciplinas da área ambiental, como Ciências, Biologia e Geografia. Verificou-se também que a maioria dos professores entrevistados não apresenta conhecimento sobre legislação que aborda sobre a temática resíduos sólidos.

 

Palavas-chave: Educação Ambiental, Resíduos Sólidos, Percepção.

 

Introdução

Um dos grandes desafios da sociedade moderna está relacionado ao gerenciamento dos resíduos sólidos gerados, possivelmente em virtude da grande demanda, uma vez que são proporcionais ao aumento das indústrias, e o acelerado crescimento populacional, aliado ao consumismo da mesma, ocasionando, assim o aumento da poluição (CRISPIM et al., 2012; CAJAIBA, 2014).

Alguns componentes dos resíduos como plásticos, vidros, pneus, por exemplo, dificultam ou tornam praticamente impossível sua decomposição e reintegração de seus elementos à natureza. Por outro lado, algumas medidas podem ser muito eficazes para diminuir tamanha quantidade de lixo que vão para os métodos de disposição (muitas vezes inadequadas), como a prática dos 3R’s, ou seja, a redução, o reuso e a reciclagem (BATTI, 2005).

Reduzindo a quantidade do lixo, signifca reduzir a extração de matéria prima, economia de esforços na operacionalização do sistema de limpeza pública, implicando em uma estrutura menor de coleta, transporte e destino final, o que reduzirá drasticamente os custos em todas estas etapas da gestão dos resíduos sólidos (BATTI, 2005).

A educação ambiental nas escolas não é o único caminho, tampouco a única solução, mas contribui para a formação de cidadãos conscientes, aptos para decidirem e atuarem na realidade socioambiental de um modo comprometido com a vida, com o bem-estar de cada um e da sociedade. Para isso, é importante que, mais do que informações e conceitos, a escola se disponha a trabalhar com atitudes, com formação de valores e com mais ações práticas do que teóricas para que o aluno possa aprender a respeitar e praticar ações voltadas à conservação ambiental (MEDEIROS et al., 2011). Entretanto, não se pode esquecer que a escola não é o único agente educativo e que os padrões de comportamento da família e as informações veiculadas pela mídia exercem especial influência sobre os adolescentes e jovens (BRASIL, 2001; ARESI & MANICA, 2011).

A Educação Ambiental deve estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não formal, onde um dos principais objetivos consiste em permitir que o ser humano compreenda a natureza complexa do ambiente (CRISOSTIMO, 2011).

Conhecer como a Educação Ambiental é trabalhada nas Escolas Públicas é de grande importância, pois, ela influencia na mudança de comportamento, na conscientização e no conhecimento do grupo escolar em relação ao meio ambiente (ARESI & MANICA, 2011). Sendo assim, o objetivo do presente trabalho foi avaliar como os professores das escolas públicas da zona urbana de Uruará-Pa desenvolvem as aulas de Educação Ambiental voltada para os resíduos sólidos.

 

Material e Métodos

A presente pesquisa foi desenvolvida em quatro escolas públicas da zona urbana do município de Uruará, Pará no período de Março a Abril de 2014.

A coleta de dados foi realizada através de um questionário estruturado contendo seis questões abertas e fechadas de maneira que fosse possível alcançar os objetivos da pesquisa e criar um espaço para reflexão por parte dos professores (CAJAIBA & SANTOS, 2014). Segundo Lakato & Marconi (2008), o questionário é um importante instrumento para a coleta de dados, estruturado a partir de um conjunto de perguntas que devem ser respondidas por escrito, sem a interferência do pesquisador.

Para a análise das respostas das questões, utilizou-se um padrão de contagem e aplicação de percentual, sendo os resultados apresentados em forma de Figuras.

 

Resultados e Discussão

Foram entrevistados 32 professores com idade variando entre 27 e 60 anos, sendo 40% do sexo masculino e 60% do sexo feminino. Em relação à escolaridade, a maioria (60%) tem ensino superior completo; 25% com ensino superior incompleto e 15% pós-graduado. Quanto à formação acadêmica, 35% são formados em Pedagogia, 20% em Letras, 15% em Matemática, 10% em Biologia e 10% em Geografia e História. Dos professores entrevistados, 45% exercem a profissão de docência a mais de 20 anos, 30% entre 10 e 20 anos e 25% até dez anos de trabalho.

Quando questionados sobre o nível de conhecimento sobre a Lei 12.305/2010 que aborda sobre a Política Nacional dos Resíduos Sólidos, 30% afirmaram que o nível de conhecimento é bom; 15% afirmaram que conhecem mais ou menos, enquanto a maioria 55% afirmarm que não conhecem ou nunca ouviram falar da referida lei (Figura 1).

Figura 1. Professores que conhecem a Lei 12.305/2010.

 

A Lei nº. 12.305 de 02 de agosto de 2010 representa um marco regulatório de expansão da consciência sobre a problemática dos resíduos, dispondo sobre princípios, objetivos, instrumentos e diretrizes relativas à gestão integrada e ao gerenciamento de resíduos sólidos - inclusive os perigosos -, às responsabilidades dos geradores e do poder público e aos instrumentos econômicos aplicados. Cabe ao professor a responsabilidade de divulgar/sensibilizar os alunos quanto ao seu papel na sociedade, seja reduzindo a quantidade de lixo, destinando em local adequado e como difusor de ações ambientalmente corretas.

A diminuição do consumo por parte da população também faz parte desse processo, pois os resíduos se transformam em graves problemas urbanos e ambientais, assim como também a escassez de área de deposição de resíduos causada pela ocupação e valorização de áreas urbanas, os altos custos sociais no gerenciamento de resíduos, os problemas de saneamento público e a contaminação ambiental (CRISOSTIMO, 2011).

Quando questionados se desenvolviam alguma atividade de Educação Ambiental na escola, 49% afirmaram que desenvolviam apenas em datas comemorativas (dia da água, dia da floresta, dia de conservação do solo, entre outros), 31% não desenvolve atividades atualmente e apenas 20% trabalha EA com alguma frequência (Figura 2).

De acordo com Silva (2004) a educação ambiental é um instrumento indispensável e deve ser realizada de forma contínua, permanente e inserida no currículo das escolas. Segundo Guimarães (1995) a EA tem papel importante de fomentar a percepção da necessária integração do ser humano com o meio ambiente. Uma relação harmoniosa, consciente do equilíbrio dinâmico da natureza, possibilitando, por meio de novos conhecimentos, valores e atitudes, a inserção do educando e do educador como cidadão no processo de transformação do atual quadro ambiental do nosso planeta (BATTI, 2005).

Figura 2. Desenvolvimento de atividades de Educação Ambiental pelos professores.

 

Na questão seguinte os professores foram perguntados como desenvolviam as atividades de Educação Ambiental em suas disciplinas. Dos entrevistados, 75% afirmaram que as ativadades educativas eram trabalhadas em sala de aula; 10% utilizavam vídeos educativos que abordavam sobre a temática; 10% usavam a horta e biblioteca para desenvolver o tema e 5% trabalham o tema em forma de palestras, mas apenas em datas especiais (Figura 3).

Apesar das diversas metodologias que a atividades de educação ambiental pode proporcionar, observa-se um expressivo número de professores que abordam essa temática em sala de aula e muitas vezes, deixam de explorar espaços que levam os alunos a um contato maior com ambiente. De acordo com Sato (2004) há diferentes formas de incluir a temática ambiental nos currículos escolares, como as atividades artísticas, experiências práticas, atividades fora da sala de aula, produção de materiais locais, projetos ou qualquer outra atividade que conduza os alunos a serem reconhecidos como agentes ativos no processo que norteia a política ambientalista. Cabe ao professor, por intermédio de práticas interdisciplinar, proporem novas metodologias que forneçam a implementação da Educação Ambiental, sempre considerando o ambiente imediato, relacionado a exemplos de problemas ambientais atualizados (ARESI & MANICA, 2010).

 

Figura 3. Metodologia utilizada pelos professores para desenvolver aulas de EA.

Questionados se desenvolviam atividades específicas sobre resíduos sólidos, a grande maioria 80% afirmou que não; 15% mais ou menos e 5% sim (Figura 4).

 

Figura 4. Professores que desenvolvem atividades de EA voltada para Resíduos Sólidos.

 

Os professores também foram questionados por quais motivos não desenvolviam as atividades de Educação Ambiental na escola, e as principais respostas foram: falta de tempo; falta de conhecimento/ preparo; não há planejamento da escola para abordar sobre a temática; extenso conteúdo programático, entre outros.

Além dos fatores mencionados pelos professores, existem outros obstáculos que podem dificultar a incorporação da temática ambiental na escola. Andrade (2000) destaca vários fatores como o tamanho da escola, número de alunos e de professores, predisposição destes professores em passar por um processo de formação continuada, vontade da direção de realmente implementar um projeto ambiental que vá alterar a rotina na escola. Esses fatores somados a vários outros, podem dificultar ainda mais a integração da temática ambiental na educação formal (SILVA-FORSBERG et al., 2009).

A educação ambiental aplicada à gestão de resíduos, portanto, deve tratar da mudança de atitudes, de forma qualitativa e continuada, mediante um processo educacional crítico, conscientizador e contextualizado. No âmbito pedagógico deve valorizar também o conhecimento e o nível de informação sobre as questões em estudo (TAVARES et al., 2005).

 

Conclusão

Concluí-se que a Educação Ambiental desenvolvida pelos professores pesquisados é trabalhada de forma isolada e esporádica, principalmente em datas comemorativas e em algumas disciplinas da área ambiental, como Ciências, Biologia e Geografia.

Verificou-se também que a falta de preparo dos professores para desenvolver a EA é um dos principais empecilhos para o desenvolvimento de atividades educativas, além do extenso conteúdo programático anual proposto pelas escolas.

O trabalho aponta um problema que pode ser tomado como grave, uma vez que os professores, o principal responsável por levar a informação aos educandos não conhecer as diretrizes da legislação que aborda sobre a temática resíduos sólidos.

 

 

Referências

ANDRADE, D.F. Implementação da Educação Ambiental em escolas: uma reflexão. Revista Eletrônica do Mestrado em Educação Ambiental, v. 4, p. 1-5, 2000.

 

ARESI, D.; MANICA, K. Educação ambiental nas escolas públicas: realidade e desafios. 63f. Monografia (Ciências Biológicas), UNOCHAPECÓ, 2010.

 

BATTI, L.S.B. Proposta de educação ambiental em resíduos sólidos para alunos do 3° ano do ensino médio da escola de educação básica João Colodel – Turvo/SC. 80 f. Monografia (Gestão de Recursos Naturais), UNESC, 2005.

 

BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: Meio Ambiente e Saúde. Ministério da Educação. Secretaria da Educação Fundamental. 3. ed. Brasília: A Secretaria, 2001.

 

CAJAIBA, R.L. Percepção dos graduando em gestão ambiental do município de Uruará-PA sobre resíduos sólidos. Revista Educação Ambiental em Ação, v. 48, 1-3.

 

CAJAIBA, R.L.; SANTOS, E.M. Conhecimento dos alunos do ensino fundamental sobre coleta seletiva: um estudo de caso no município de Uruará-PA. Enciclopédia Biosfera, Centro Científico Conhecer, v.10, n.18; p. 3559-3568, 2014.

 

CRISOSTIMO, A.L. Educação Ambiental, Reciclagem de Resíduos Sólidos e Responsabilidade Social: formação de educadores ambientis. Revista Conexão UEPG, v. 7, p. 88-95, 2011.

 

CRISPIM, D.L.; SARMENTO, E.B.; ALVES, J.C.; CHAVES, A.D.C.G. A importância da ferramenta da educação ambiental na gestão de resíduos sólidos do campus de Pombal. Em: I ENECT - I Encontro Nacional de Educação, Ciências e Tecnologia/UEPB, 2012, Campina Grande. ENECT, 2012.

 

GUIMARÃES, M. A. Dimensão Ambiental na Educação.  Campinas, Sp: Papirus, 1995 (Coleção Magistério: formação e trabalho pedagógico.  1995. 107p.

 

LAKATO, E M. & MARCONI, M A. Metodologia do trabalho científico. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

MEDEIROS, A.B.; MENDONÇA, M.J.S.L.; SOUSA, G.L.; OLIVEIRA, I.P. A Importância da educação ambiental na escola nas séries iniciais. Revista Faculdade Montes Belos, v. 4, n. 1, p. 1-17, 2011.

 

SATO, M. (org.). Educação Ambiental: Pesquisas e Desafios. Porto Alegre: Editora Artmed, 2005.

 

SILVA, M.M.P. Explorando o Lixo na Escola. Mundo Jovem, Porto Alegre, p. 2-3, 2004.

 

SILVA-FORSBERG, M.C.; MENDES, G.C. & ALMEIDA, A. Educação ambiental em escolas públicas de Manaus, AM: os projetos integrados fazem diferença? VII Enpec, Florianópolis, 2009.

 

TAVARES, M. G. O.; MARTINS, E. F.; GUIMARÃES, G. M. A. A educação ambiental, estudo e intervenção do meio. OEI-Revista Iberoamericana de Educación, v. 30, p. 1-10, 2005.

Ilustrações: Silvana Santos