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'O mundo está em guerra', diz Papa

Durante voo para a Polônia, Francisco fala em guerra de interesses e de dinheiro
Francisco durante em entrevista a bordo de avião que o levou para a Polônia Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP
Francisco durante em entrevista a bordo de avião que o levou para a Polônia Foto: FILIPPO MONTEFORTE / AFP

CRACÓVIA, Polônia - O Papa Francisco advertiu nesta quarta-feira que o mundo está em guerra devido à perda da paz, em declarações a bordo do avião que o levou a Cracóvia, na Polônia, no dia seguinte ao assassinato de um padre na França por dois extremistas.

"Fala-se tanto de insegurança, mas a palavra verdadeira é guerra. O mundo está em guerra porque perdeu a paz. Quando falo de guerra, falo de uma guerra de interesses, de dinheiro, de recursos, não de religiões. Todas as religiões querem a paz", afirmou na viagem que o leva a Cracóvia para a Jornada Mundial da Juventude.

"Depois de muito tempo, o mundo está em uma guerra fragmentada. A guerra que foi a de 1914, depois a de 39-45, e agora esta. Ela pode não ser a mais orgânica, mais organizada, mas é a guerra".

O Papa pediu ainda que o governo da polônia acolha os que "fogem das guerras e da fome". No castelo real de Wawel, o Pontífice falou às autoridades do país, insistindo que o "complexo fenômeno migratório requer um suplemento de sabedoria e misericórdia para superar os temores e fazer o maior bem possível".

"Faz falta disponibilidade para receber os que fogem da guerra e da fome, e solidariedade com aqueles que sofrem em seus direitos, incluindo os que têm problemas para professar sua fé", disse o Papa.

Neste sentido, ele também pediu que as causas do fenômeno da migração sejam identificadas, que se facilite a volta dos atingidos, que se dê solidariedade e liberdade e, principalmente, que se "dê testemunho com os fatos dos valores humanos e cristãos", acrescentou.

O governo conservador da primeira-ministra Beata Szydlo recusa-se a receber os migrantes, em nome da segurança.

Comentando diante das câmeras de televisão seus 30 minutos a sós com o papa, o presidente Andrzej Duda assegurou que eles não conversaram sobre a questão dos migrantes.

"Cada um ouviu as palavras do Santo Padre, só posso repetir o que eu sempre digo: Somos um país fundado em valores e não recusamos oferecer ajuda a ninguém. Se alguém quer vir para cá, especialmente se é um refugiado, fugindo da guerra, ele certamente vai ser bem-vindo", afirmou Duda.

Mas "não estamos de acordo com a ideia de que devemos impor à população da Polônia pessoas pela força", acrescentou, em uma alusão ao sistema de quotas de migrantes da UE, rejeitado por Varsóvia.

'WOODSTOCK CATÓLICO'

Francisco chegou na Cracóvia nesta quarta-feira. Ele começa uma intensa agenda de encontros, missas e visitas que se estende até domingo, quando termina a Jornada Mundial da Juventude, apelidada de "Woodstock católico". Mais de 200 mil pessoas participaram da missa de abertura do evento, um número menor que o esperado, possivelmente por conta do temor de atentados.

Nos próximos dias, o Papa vai visitar, por exemplo, o Museu Memorial de Aushcwitz, no antigo campo de extermínio nazista, onde cerca de 1,3 milhões de pessoas morreram durante a Segunda Guerra Mundial.

A violência que assola o planeta, mas, principalmente, a Europa e o Oriente Médio, deve ser um dos principais assuntos durante esta viagem. Nos últimos dias, uma série de atentados mostrou que o mundo não vive um momento seguro. No dia 14 deste mês, um terrorista dirigindo um caminhão atropelou mais de 80 pessoas durante a celebração da Queda da Bastilha, em Nice, na França. Na semana seguinte, um alemão filho de iranianos matou a tiros nove pessoas perto de um shopping em Munique, na Alemanha.

Nesta terça, dois agressores tomaram uma igreja na Normandia, na França, e fizeram seis reféns. Eles mataram um sacerdote e deixaram outra pessoa gravemente ferida.  Em seguidas, foram mortos pela polícia local. O Papa já havia dito que estava horrorizado com o crime.