Zac & Mia (A. J. Betts)

zac e mia

“Nunca fui boa com números, nunca precisei ser. Mas entendo esse número. Cinquenta e cinco é claramente um dos resultados possíveis quando se joga uma moeda para cima. Os números são o que são. Não dá para discutir.

Tudo mais desaparece exceto um número frio e um rapaz que está olhando para as estrelas como se as conhecesse.

(…)

Talvez os números o atormentem da mesma forma que minha perna me atormenta. Talvez nós dois estejamos vivendo como frações. ” (Página 172)

Zac tem 17 anos e já luta há um bom tempo contra a leucemia. Para ele, a rotina do hospital, a visita das enfermeiras, do psicólogo e o esmiuçar das atividades do seu sistema digestório já é algo comum e com os quais ele já aprendeu a conviver. Por achar que já inflige dor o suficiente à sua família, Zac tenta ser o paciente modelo. Aquele que não liga de assistir programas de culinária com a mãe, mesmo quando até mesmo água é difícil de engolir, e que reserva os momentos solitários da madrugada para ir à cata de estatísticas envolvendo outros pacientes como ele, porque sabe que se fizesse isso durante o dia sua mãe iria ficar muito mais preocupada. Zac já atingiu um nível de conhecimento da ala oncológica, que lhe permite fazer piada de si mesmo e da situação em que se encontra. O que só reforça seu pragmatismo e nos cativa definitivamente.

Dessa vez ele está no hospital para ganhar uma medula nova. E tirando esse “pequeno” detalhe, a estadia poderia ser bem semelhante à todas as outras antes desta. Mas, desta vez, no quarto ao lado está uma nova paciente. Mia, uma garota raivosa, irritante, bonita e com um gosto musical bastante duvidoso. A garota nova vive às discussões com a mãe e não está enfrentando o início do seu tratamento muito bem. E Zac, com batidas na parede, uma amizade no Facebook e bate-papos na madrugada, toma para si a missão de tentar ajudá-la nessa fase difícil.

Você deve estar pensando que essa é apenas mais uma história sobre câncer em meio a tantas outras. Mas, Betts conseguiu criar personagens interessantes e uma história simples, mas cativante. E o tema pode até estar batido, mas há inúmeros aspectos que podem ser abordados e Betts foi feliz no que escolheu. E sim, é um livro sobre câncer, então, há a dor do tratamento, a depressão, a negação do diagnóstico e muitas estatísticas, mas, também há a cooperação entre os pacientes, o apoio da família, os relacionamentos forjados na empatia que só quem sabe o que é a doença pode ter, e a esperança, às vezes forte, muitas vezes quase a mínguam de que a doença possa ser superada.

A história de Zac e Mia é despretensiosa. Não há um evento catártico ou uma grande tragédia. Há apenas probabilidades e estatísticas. E um garoto e uma garota vivendo como frações. E, considerando todas as estatísticas, é uma história que retrata algo comum, triste e feio, mas comum. Contudo, acompanhar as batalhas de Zac e Mia e o desenrolar do relacionamento entre ambos foi bem legal. Betts nos presenteou com diálogos expressivos, garantiu risadas em vários momentos e tristeza em tantos outros. Não há como não ser cativado com a singeleza que Betts conseguiu trabalhar o tema.

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