Rio Carnaval Carnaval 2016

Imperatriz fará desfile romântico com a dupla Zezé di Camargo e Luciano

Escola sofreu preconceito pelo enredo
Raízes. Estilo de vida sertanejo será pano de fundo da homenagem à dupla de cantores Foto: Custódio Coimbra / Custódio Coimbra
Raízes. Estilo de vida sertanejo será pano de fundo da homenagem à dupla de cantores Foto: Custódio Coimbra / Custódio Coimbra

RIO - Num carnaval em que o bloco Chora Me Liga já levou cem mil pessoas à Avenida Atlântica ao som de música sertaneja, a sonoridade do interior do Brasil também invadirá a Marquês de Sapucaí. Amanhã, a Imperatriz Leopoldinense leva para o Sambódromo sua homenagem à dupla Zezé di Camargo e Luciano. E, junto com a trajetória de sucesso dos dois irmãos, vai colorir a avenida com o universo caipira, de modas de viola, festas de peão, pastorinhas e cavalhadas. Os irmãos vêm no último carro, cheio de corações para lembrar a música “É o amor”. E todo o romantismo das canções dos dois, promete o carnavalesco Cahê Rodrigues, tomará conta do desfile até o fim.

Zezé e Luciano não escondem o quanto estão sensibilizados com a homenagem. Eles já foram à final de samba-enredo, fizeram show gratuito para a comunidade na quadra e conheceram os protótipos das fantasias. Semana passada, Luciano chegou a fazer uma visita surpresa ao barracão. Andou em meio aos carros alegóricos e conversou com as costureiras. Saiu da Cidade do Samba com olhos marejados.

— Ao conversar com as pessoas no barracão, percebi que elas estão vivendo a minha vida e a do meu irmão. Não posso nem falar no que estou sentindo que desmonto em lágrimas — disse Luciano.

Sentimento parecido com o de Zezé di Camargo, que se diz ansioso:

— Quando eu era adolescente, assistia aos desfiles pela televisão e ficava encantado com tamanha beleza das escolas, dos carros e das mulheres, em especial. Quando ia imaginar que, um dia, eu, lá de Sítio Novo, pisaria na Sapucaí e ainda como homenageado ao lado do meu irmão?

Toda essa história surgiu quando Zezé assistiu, no ano passado, ao Desfile das Campeãs no Sambódromo. Foi ele quem primeiro recebeu o convite, em abril. E o irmão mais velho da dupla nem consultou ninguém: aceitou na hora. Já o carnavalesco Cahê Rodrigues desenvolvia outro enredo quando a diretoria da verde e branca propôs que os sertanejos fossem o tema.

— Fiquei surpreso. Mas topei o desafio de levar um tema inédito para o Sambódromo, sobre o ritmo sertanejo. E logo lembrei do filme “Dois filhos de Francisco” — afirma Cahê. — É a história de uma família que saiu do interior de Goiás para vencer na vida, como a de tantos outros brasileiros. Tentei traduzir isso no carnaval. Acho que as pessoas vão se identificar.

Nem todo o desfile retratará a vida da dupla, que começa a aparecer no quarto setor. À frente do carro da Festa do Divino, a escola reproduziu a antiga casinha da família, em Capela do Rio do Peixe. Antes disso, aparecerão os costumes do interior e o trabalho no campo. Já o terceiro setor é o da música sertaneja. E duplas como Tonico e Tinoco e Milionário e Zé Rico também serão homenageadas. A velha guarda vem reverenciando Inezita Barroso. E grandes sucessos como “Disparada” e “Romaria” também terão destaque.

PAI DEVE DESFILAR

Só no quinto carro aparece o sucesso da dupla, quando será lembrado o episódio quando Seu Francisco, pai dos cantores, gastou quase todo o salário para comprar fichas de orelhão e pedir que tocasse nas rádios a música “É o amor”, primeiro hit dos dois. Seu Francisco, aliás, deve desfilar. Mas a mãe, dona Helena, não vai para a avenida.

— Minha mãe, por ser evangélica e pelo fato de a igreja dela não permitir, não vai participar do desfile. Mas, claro, ela sabe da importância da homenagem para nós. Ela é uma mulher sábia e tem consciência de que se trata de uma festa cultural e folclórica, mas tem de seguir os dogmas da igreja. Respeitamos — conta Zezé di Camargo.

Cahê lembra que a escola enfrentou preconceito com o enredo, por tratar do sertanejo em pleno templo do samba. Isso, segundo ele, começou a cair por terra na disputa de samba-enredo. O samba de Zé Katimba e seus parceiros foi fundamental. Acabou aclamado pela opinião popular e da crítica especializada. O compositor, que é da Paraíba, ainda convidou para gravar a composição a cantora e música Lucy Alves, do mesmo estado que ele e ex-participante do programa “The Voice Brasil".

— O samba tem uma pegada diferente. A melodia no fim se aproxima da de “É o amor — diz Cahê, completando. — No desfile, o fator emoção será primordial. Vai ser um carnaval sem pirotecnia. Mas alegre, colorido, brejeiro e com um samba incrível.