Rio

Construído em 1777 na Lapa, Solar do Lavradio abre suas portas com mais de 130 obras

Residência do 3º Vice-Rei do Brasil Colônia abriga exposição com peças de artistas como Portinari e Araújo Porto Alegre

O Solar do Marquês do Lavradio: aberto após cinco anos de reformas
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
O Solar do Marquês do Lavradio: aberto após cinco anos de reformas Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

RIO — Nos últimos cinco anos, muita gente passava pela Rua do Lavradio em direção à Avenida Chile e se perguntava o que havia por trás das portas e janelas antigas do belo — porém maltratado — imóvel cor-de-rosa na esquina da Rua dos Inválidos. Pois, desde esta segunda-feira, a curiosidade dos pedestres e motoristas que circulam por essa área da Lapa já pode ser sanada. Como noticiou a coluna Gente Boa, do GLOBO , após passar por uma restauração que durou cinco anos, o prédio, sede da Sociedade Brasileira de Belas Artes (SBBA), reabriu ao público com uma exposição gratuita que tem peças pouco conhecidas de Candido Portinari, Antonio Parreiras, Eliseu Visconti e Araújo Porto Alegre.

A visita ao espaço é uma oportunidade de ver de perto a arquitetura do edifício — originalmente em estilo colonial, mas que, depois de diferentes reformas, ganhou o atual estilo eclético — e de conferir o precioso acervo, acumulado a partir da década de 1960: são mais de 130 obras de arte, entre pinturas, gravuras e bustos.


Algumas das obras da coleção já podem ser apreciadas pelo público
Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo
Algumas das obras da coleção já podem ser apreciadas pelo público Foto: Márcia Foletto / Agência O Globo

— Há um quadro de Portinari de 1923, chamado “Retrato de Paulo Mazzucchelli"; uma gravura de Araújo Porto Alegre de 1854, que é uma Pietá em sépia e grafite sobre papel; e um autorretrato de Carlos Oswald, de 1940, feito a óleo — enumera a museóloga do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Raquel Braz. — O próximo passo é restaurar também as obras de arte.

RESIDÊNCIA NOBRE

Construído em 1777 para ser residência do 3º Vice-Rei do Brasil Colônia, o edifício de cerca de mil metros quadrados é tombado pelo Inepac desde 1985. O instituto explica que, depois da mudança do segundo Marquês do Lavradio, que viveu por lá cerca de dez anos, a construção passou por reformas e abrigou diversos órgãos, como o Tribunal da Relação, em 1808; o Tribunal do Desembargo, em 1812; o Tribunal da Relação e o Senado Federal, em 1831; o Tribunal de Justiça, em 1833; e o Departamento de Ordem Política e Social da Polícia (Dops). Em 23 de outubro de 1967, o imóvel foi cedido à SBBA. Além do prédio, 32 obras de arte são tombados pelo Inepac.

Por conta dos diferentes usos, ao longo dos anos o solar de dois andares passou por acréscimos que o descaracterizaram. A reforma, iniciada em 2010 e orçada em R$ 3 milhões, acabou custando cerca de R$ 6 milhões.

— Apesar de ter passado por intervenções, o prédio tinha uma estrutura interna muito antiga, que estava consumida por cupins. O telhado, os forros e pisos tiveram que ser refeitos. A fachada estava em relativo bom estado — enumera Paulo Vidal, diretor-geral do Inepac, dizendo que algumas áreas, como os banheiros, foram modernizadas.

No interior, foram retiradas divisórias usadas para transformar o local em sala de aula para cursos de arte. Assim como foram derrubadas construções feitas no jardim interno. Permaneceram os pisos de ladrilhos hidráulicos, de reformas do início do século XIX, além de azulejos que cobriam paredes desde o começo do século XX. Ao mexer numa sala do segundo andar, conta Vidal, operários surpreenderam-se ao encontrar uma antiga pintura na parede:

— Conseguimos recuperar parte delas. Provavelmente, são do período em que o solar foi sede do Senado Federal, nos anos 30 do século XIX.

A restauração foi custeada pela WTorre RJC Patrimonial Ltda., em contrapartida pela construção de um prédio na região.