23 Capixabices

Que capixaba nunca usou a palavra "pocar" em algum momento da vida? Sinônimo de "estourar", é bastante empregada quando o capixaba quer dizer que uma coisa é muito boa. Ex.: "O show do Paul pocou no Kleber Andrade!" ou "A linha da pipa pocou."

O capixaba é assim, se o termômetro desce de 24 graus para 22 graus, já é motivo de tirar o casaco de neve, as galochas e a echarpe (ou cachecol) do armário. Ah! E manter o ar-condicionado ligado numa temperatura um ou dois graus abaixo, que é pra continuar curtindo o friozinho.

Imagina alguém arrastando as unhas numa lousa. Deu aquela gastura, né? Pois é, gastura é isso, não há como descrever de outra forma, a não ser fazendo a pessoa imaginar a sensação – de gastura.

Se o mineiro tem o "uai", o capixaba tem o "iá", que pode vir sob várias apresentações, substituindo muitas palavras e até expressões. Iá, de forma rápida, indica leve surpresa. Iá, pronunciando o acento quase como um til, indica indignação. Já o iaááááááá, com prolongamento da última vogal pode significar uma forma de chamar a atenção e até mesmo uma crítica.

Essa é fácil pra quem já está acostumado com o capixabês típico. Sabe aquele objeto grande, de dimensões fora do comum? Pois é, é uma chapoca. Quer ver: "Mas que chapoca de ponte" (referindo-se a uma ponte de grandes dimensões).

Essa é a expressão preferida de 10 entre 10 capixabas quando vão para alguma balada, não importa se o som que vai tocar é sertanejo, axé, funk, gospel ou até rock. Ir para "os" rock é outra variante da expressão, que significa, na maioria das vezes, indefinição do local da balada

Pra que nome de rua, se existem os pontos de referência. É dessa forma que o capixaba se guia onde quer que ele vá. Melhor do que falar que o endereço fica na rua Silvino Grecco, é dizer que fica perto da padaria tal, que está ao lado da banquinha de churrasco do seu Zé. Ah! E nomes de ruas ou avenidas mais famosas que também podem virar ponto de referência de outras ruas.

Quem nunca teve medo de ir ao banheiro da escola quando ouvia a história da Mulher de Algodão (ou Loira de Algodão em algumas versões)? O truque era ir sempre acompanhado, mesmo que você e seu amigo voltassem de lá aos gritos com o menor ruído dentro do banheiro. Um clássico das escolas capixabas, que mais tarde foi até transformado em filme.

Quando algo falta açúcar, o capixaba diz que está "sem doce".

Mais conhecida por lagartixa nos outros estados, aqui no Espírito Santo é taruíra e ponto final. Mas há controvérsias: uma colega até frisou que taruíra é só para aquela lagartixa que sobe nas paredes de casa. Já aqueles lagartos que a gente vê em muro, esses sim, podem ser chamados de lagartixas (ou calango).

Um dos bairros mais populosos de Vitória é também um dos mais intrigantes. Quem é que nunca se perdeu contornando as famosas pracinhas de Jardim da Penha, ou entrou em uma rua em busca de uma padaria e acabou saindo na praia?

O capixaba tem muito orgulho da sua culinária, especialmente quando fala de moqueca, que por si só, é uma atração turística à parte. Nenhum outro Estado faz moqueca, só peixada ou imitações. Porque moqueca, de verdade, só a capixaba, feita na panela de barro.

Como não poderíamos deixar de falar de um dos mais tradicionais elementos da cultura capixaba? Iguaria especial para a Páscoa, a torta capixaba tem dois times: os que adoram e os que a odeiam. De qualquer forma, é um dos pratos mais pedidos e consumidos na Sexta-feira Santa, sendo que em alguns lugares, é preciso até fazer reserva ou correr o risco de ver a prateleira vazia. E se for na tradicional panela de barro, mais autêntica é!

E por falar em culinária, nada melhor do que lembrar da obsessão dos capixabas com a mistura pra lá de esquisita que é a pizza de frango com catupiry. Toda pizzaria capixaba que se preze tem que ter essa variável no cardápio. Ou nem precisa estar lá, já que grupos de amigos, quando vão fazer o seu pedido, nem precisam olhar as opções: pizza de frango com catupiry. E não se fala mais nisso. E ainda tem aqueles que gostam de uma boa pimentinha.

Um fenômeno tipicamente capixaba é ver supermercados fechados aos domingos. Se você não comprar no sábado os ingredientes do churrascão do domingo, pode esquecer (ou pedir por telefone uma pizza de frango com catupiry). Ah! E esse fenômeno deu origem a outro mais irritante ainda: supermercados lotados além da capacidade às sextas e sábados. A opção é sair pra pescar.

Expressão roubada dos games, para indicar quando uma coisa não funciona ou está quebrada. Uma das preferidas das tribos mais jovens e que pode às vezes ser acompanhada por "palha". Ex.: "Que palha, o leme do barco deu tilt".

Pão francês é para os fracos. O ideal mesmo é chegar na padaria e pedir "pão de sal", que é para não confundir com o pão doce, mesmo que este não saia com a mesma frequência de fornadas que o seu amigo salgado.

Nada de chamar mexerica de tangerina, essa frutinha que o capixaba só conhece pelas caixas de suco. Aqui no Espírito Santo é mexerica mesmo e quanto mais perfume deixam nas mãos ao descascar, mais docinha é. Na nossa feira tem mexerica!

Transcol é sinônimo de transporte coletivo dentro e fora do Espírito Santo para capixabas. Seja no Rio, São Paulo ou até em Amsterdã, o busão vai ser sempre chamado de Transcol. E fim de papo.

O que deveria ser uma iguaria simples para o almoço, para os capixabas, é sinônimo de filas intermináveis na frente da padaria ou dos ambulantes nos domingos (que muitas vezes pedem para se fazer reservas no dia anterior). Frango assado puro ou com aquela farofa no capricho (ou da Yoki) é uma das pedidas preferidas de quem não quer cozinhar num domingão.

Essa frutinha típica da Amazônia não poderia ter encontrado habitat melhor para se desenvolver do que no Espírito Santo. Responsável pela proliferação de açaiterias por todo o Estado, o açaí é consumido por atletas, quem quer manter o corpo em forma e quem gosta de uma boa gororoba, já que é permitido misturar com tudo o que a imaginação permitir: desde frutas até mesmo leite em pó.

Capixaba adora praia. Até mais do que mineiro. Faça chuva ou faça sol, sempre vai ter alguém na praia: caminhando, pescando, nadando, tomando sol, jogando frescobol, futevôlei entre outras atividades. A paixão é tanta que algumas praias até têm segmentação. Quer badalação? "Beverly Hills" e Bacutia. Quer um local para as crianças tomarem banho no mar? Praia da Costa. Quer surfar? Praia D'Ulé. Quer navegar? Camburi. Quer farofar? Três Praias.