30/06/2015 11h26 - Atualizado em 30/06/2015 15h17

Grécia faz nova proposta de ajuda e busca reestruturação da dívida

Ministro disse que país não vai pagar FMI nesta terça (30).
Pacote de ajuda europeia ao país também vence nesta terça-feira.

Do G1, em São Paulo

A Grécia apresentou nesta terça-feira (30) uma nova proposta para conseguir ajuda financeira da Europa em meio à sua crise. Segundo o gabinete do primeiro-ministro Alexis Tsipras, a proposta prevê uma ajuda de dois anos com uma reestruturação paralela da dívida com seus credores. 

 

"O governo grego propôs hoje um acordo de dois anos com o ESM (Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira) para cobrir totalmente suas necessidades financeiras e com reestruturação paralela de dívida", disse o governo em comunicado, feito horas antes de Atenas dar calote em um empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI). Não está claro se a proposta prevê destravar o atual pacote de ajuda europeu ou se se trata de um novo mecanismo.

"A Grécia continua na mesa de negociações", completou o comunicado.

Pelo Twitter, o presidente do Eurogrupo, Jeroen Dijsselbloem comunicou que uma teleconferência foi marcada para as 19h locais (14h de Brasília) para discutir o pedido feito pela Grécia.

A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, no entanto, já jogou água fria na possível nova negociação: segundo ela, o país "não vai negociar nada novo" até que seja realizado o referendo marcado pelo governo grego para o próximo dia 5. Nesta data, os gregos deverão dizer se aceitam ou não as medidas de ajuste pedidas pela Europa para liberar o pacote de ajuda.

O Eurogrupo é um órgão informal composto por ministros dos países membros da zona do euro. Sua principal função é assegurar a coordenação das políticas econômicas das nações que adotam a moeda.

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Gregos prostestam a favor da zona do euro na praça Syntagma, nesta terça-feira (30) (Foto: Jean-Paul Pelissier/Reuters)Gregos protestam a favor da zona do euro na praça Syntagma, nesta terça-feira (30) (Foto: Jean-Paul Pelissier/Reuters)

Prazos no fim
A Grécia tem dois prazos terminando nesta terça-feira. À meia-noite (19h de Brasília), expira o programa europeu de ajuda financeira (EFSF) à Grécia. O governo grego, no entanto, se nega a aceitar as condições impostas para prorrogar o empréstimo, que incluem aumento de impostos e cortes nas pensões. Sem esses recursos, os bancos gregos poderão ficar sem liquidez.

Em nota, o EFSF informou que o programa expira à meia-noite e, como resultado, a última parcela da ajuda, de € 1,8 bilhão, "não estará mais disponível para a Grécia", e uma ajuda de € 10,9 bilhões para cobrir o custo potencial de recapitalização dos bancos será cancelada. 

Também nesta terça, vence uma parcela de 1,6 bilhão de euros da dívida da Grécia com o Fundo Monetário Internacional (FMI). O ministro da Fazendo do país, no entanto, afirmou o pagamento não será feito.

Questionado por um repórter se a Grécia faria o pagamento nesta terça, Yanis Varoufakis respondeu: "Não". Sobre a possibilidade de um acordo com credores internacionais, o ministro disse: "Esperamos que sim", segundo a Reuters.

Se o pagamento realmente não acontecer, será a primeira vez que um país desenvolvido fica em atraso com o fundo, segundo o "Financial Times".


RESUMO DO CASO:
- A Grécia enfrenta uma forte crise econômica por ter gastado mais do que podia.
- Essa dívida foi financiada por empréstimos do FMI e do resto da Europa.
- Nesta terça-feira (30), vence uma parcela de € 1,6 bilhão da dívida com o FMI, mas o país depende de recursos da Europa para conseguir fazer o pagamento.
- Os europeus, no entanto, exigem que o país corte gastos e pensões para liberar mais dinheiro. O prazo para renovar essa ajuda também vence nesta terça.

- Nesta terça, o governo grego apresentou uma nova proposta de ajuda ao Eurogrupo, que vai discutir o assunto nesta tarde.
- No final de semana, o primeiro-ministro grego convocou um referendo para domingo (5 de julho). Os gregos serão consultados se concordam com as condições europeias para o empréstimo.
- Como a crise ficou mais grave, os bancos ficarão fechados nesta semana para evitar que os gregos saquem tudo o que têm e quebrem as instituições.
- Se a Grécia não pagar o FMI, entrará em "default" (situação de calote), o que pode resultar na saída do país da zona do euro.
- A saída não é automática e, se acontecer, pode demorar. Não existe um mecanismo de "expulsão" de um país da zona do euro.
- Se o calote realmente acontecer, a Grécia deve ser suspensa do Eurogrupo e do conselho do BC europeu.
- A Europa pressiona para que a Grécia aceite as condições e fique na região. Isso porque uma saída pode prejudicar a confiança do mundo na região e na moeda única.
- Para a Grécia, a saída do euro significa retomar o controle sobre sua política monetária (que hoje é "terceirizada" para o BC europeu), o que pode ajudar nas exportações, entre outras coisas, mas também deve fechar o país para a entrada de capital estrangeiro e agravar a crise econômica.

Aposentados
Mil agências bancárias abrirão as portas em caráter excepcional na Grécia a partir de quarta-feira (1º) para permitir que os aposentados sem cartão de crédito possam sacar, no máximo, € 120, anunciou o Ministério das Finanças.

As demais agências permanecerão fechadas nesta semana, como previsto em um decreto do governo.

"A partir de quarta-feira, 1º de julho, e durante três dias seguidos, quase mil estabelecimentos bancários abrirão no país para permitir que os aposentados que não têm cartão de crédito ou cartão de débito saquem até € 120 em espécie para toda a semana", afirma um comunicado do ministério.

Na Grécia, onde o uso de cartões bancários não é tão frequente, muitos idosos retiram suas pensões em dinheiro dos bancos.

Limite para saques
Para evitar o colapso do sistema bancário, o governo declarou nesta segunda-feira (29) um controle de capitais que limita a € 60 por dia a quantia de dinheiro que pode ser retirada dos caixas eletrônicos. Estão liberados do limite os turistas com conta no exterior.

O Ministério das Finanças recorda no comunicado que "todos os depósitos em euros estão garantidos" antes e depois do referendo convocado para o próximo domingo pelo primeiro-ministro Alexis Tsipras para que os gregos se pronunciem sobre as propostas dos credores do país.

Na segunda-feira à noite, cerca de 17 mil pessoas defenderam o voto do "Não", denunciando o que chamam de "chantagem dos credores". Para esta terça-feira está prevista uma manifestação de partidários do "Sim".

Países em atraso
Até hoje, segundo o FMI, 27 países ficaram em atraso com seus pagamentos ao fundo. Veja a lista, que considera atrasos a partir de seis meses:

Afeganistão: 1995-2003
Bósnia Herzegovina: 1992-1995
Camboja: 1975-1992
Chade: 1984-1994
Congo: 1988-1989, 1990-2002
Cuba: 1959-1964
Egito: 1966-1968
Gâmbia: 1985-19869
Guiana: 1983-1990
Haiti: 1988-1989. 1991-1994
Honduras: 1987-1988, 1988-1990
Iraque: 1990-2004
Iugoslávia: 1992-2000
Jamaica: 1986-1987
Libéria: 1984-2008
Nicarágua: 1983-1985
Panamá: 1987-1992
Peru: 1985-1993
República Centro-africana: 1993-1994
República Dominicana: 1990-1991
Serra Leoa: 1984-1986, 1987-1994
Somália: 1987-atual
Sudão: 1984-hoje
Tanzânia: 1986-1986
Vietnã: 1984-1993
Zâmbia: 1985-1986, 1986-1995
Zimbábue: 2001- atual

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