Brasil Educação

Pesquisa revela que 41,5% dos jovens de 19 anos não concluíram ensino médio

Levantamento do Todos Pela Educação mostra ainda que há 2,4 milhões de brasileiros de 4 a 17 anos fora da escola
Cássia Moreira abandonou a escola aos 18 anos para cuidar do filho Foto: Arquivo Pessoal
Cássia Moreira abandonou a escola aos 18 anos para cuidar do filho Foto: Arquivo Pessoal

RIO- Cássia Moreira responde sem titubear o que gostaria de fazer da vida: “ser professora”. Questionada sobre o motivo, também diz rapidamente: “queria aprender coisas novas e passá-las para outras pessoas”. Tal fé na educação vem de uma jovem de 19 anos que abandonou a escola no ano passado — quando ainda cursava a 8ª série — depois que seu filho mais novo nasceu com um problema respiratório. Fora da escola e sem concluir o ensino médio até os 19 anos, Cassia fará parte de uma estatística que já preocupa. Segundo estudo divulgado nesta quarta-feira pelo Movimento Todos Pela Educação, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) cerca de 41,5% dos jovens de 19 anos não haviam terminado a etapa em 2015. Para piorar o cenário da educação pública, outros 2,4 milhões de crianças e jovens de 4 a 17 anos estavam fora dos bancos escolares no mesmo período.

— Quando meu filho melhorar, eu gostaria de voltar a estudar e ir até pelo menos o ensino médio. Eu sonho que meus filhos façam faculdade e andem para frente — afirma a jovem, que engravidou do primeiro filho aos 15 anos e vive em uma casa de apenas um cômodo com mais nove pessoas.

De acordo com a pesquisa, embora o Brasil esteja melhorando os índices gradativamente, ainda não é capaz de resolver os problemas na velocidade necessária para alcançar as metas esperadas. Para 2015, o Todos Pela Educação estabeleceu que 96,3% das crianças e jovens brasileiros de 4 a 17 anos deveriam estar na escola, mas, na realidade, a taxa ficou em 94,2%. Embora tenha evoluído em relação a 2005, quando o percentual era de 89,5%, o crescimento lento desapontou especialistas.

— A grande frustração de quem está na maior batalha para que educação melhore é verificar que não basta ter uma lei que determina matrícula obrigatória de 4 a 17 anos. Temos uma lei, mas não tivemos nenhum aumento de esforço por parte dos estados e municípios para fazê-la ser cumprida — critica a presidente-executiva do Todos Pela Educação, Priscila Cruz. — Nossa política pública ainda é muito voltada para uma medida que resolve tudo. Para incluir os que estão fora temos que, não só prover vagas na escola e professores, mas fazer uma busca ativa, identificar porque não estão se matriculando. No caso do jovem, tem muito a ver com aquele que chegou a entrar no sistema, acabou saindo, e não quer mais voltar.

Os dados mostram que, embora o índice de matrículas de crianças de 4 e 5 anos tenha crescido muito, passando de 72,5%, em 2005, para 90,5% em 2015, o baixo progresso no atendimento da faixa etária de 15 a 17 anos — passando de 78,8% para 82,6% no mesmo período — contribuiu para que o aumento da taxa geral de crianças e jovens na escola não crescesse o suficiente.

Metas descumpridas
Brasil tem desempenho aquém do esperado na etapa básica
TAXA DE CRIANÇAS E JOVENS DE 4 A 17 ANOS NA ESCOLA NO PAÍS
meta
95,8%
meta
96,3%
Número de alunos fora da escola em 2015
100
94,2%
93,6%
89,5%
80
2.486.245
60
40
20
0
2005
2014
2015
Crescimento em pontos percentuais de 2005 a 2015
Os 5 estados com maior taxa de crianças e jovens
na escola em 2015
95,9%
São Paulo
Rio de Janeiro
Distrito Federal
Tocantins
Roraima
3,2
2,9
3,5
6,9
5,8
95,7%
95,4%
95,1%
94,9%
TAXA DE CONCLUSÃO DO ENSINO MÉDIO ATÉ OS 19 ANOS NO BRASIL
100
meta
74,5%
Número de alunos que concluíram o ensino médio até os 19 anos em 2015:
meta
69%
80
1.957.260
60
58,5%
56,7%
40
41,4%
20
0
2005
2014
2015
Crescimento em pontos percentuais de 2005 a 2015
Os 5 estados com maior taxa de conclusão do ensino médio até os 19 anos em 2015
73,8%
12,5
5,7
8,7
8,6
20,8
São Paulo
Santa Catarina
Distrito Federal
Paraná
Goiás
67,7%
67,1%
61,6%
61,5%
MENINAS DE 10 A 17 ANOS
Que têm filhos
Que não têm filhos
Não trabalham
nem estudam
3,9%
Não trabalham
nem estudam
57,2%
Só estudam
89%
Só estudam
28,6%
Só trabalham
0,9%
Trabalham
e estudam
3,1%
Só trabalham
11,1%
Trabalham
e estudam
6,3%
Fonte: Todos Pela Educação/Pnad
Metas descumpridas
Brasil tem desempenho aquém do
esperado na etapa básica

Segundo Eduardo Deschamps, presidente do Conselho Nacional de Educação, o crescimento tímido nas matrículas de 15 a 17 anos são reflexo da falta de atratividade do ensino e das deficiências ao longo da escolarização:

— Boa parte da evasão se dá por um modelo que não gera valor para o estudante. Muito dos que estão fora da escola, estão devido a problemas do próprio ensino fundamental. Para muitos a alfabetização não é adequadamente realizada e o aluno entra em desvantagem nos anos finais, que é uma etapa importante na transição. O ensino médio é focado em quem vai direto para universidade e deixa de lado outros interesses.

Esses fatores combinados também fazem com que grande parte dos jovens não conclua o ensino médio até os 19 anos. A pesquisa mostra que em 2005 apenas 41,4% dos jovens de 19 anos haviam se formado na etapa. Em 2015, o índice era de 58,5%, muito abaixo da meta estabelecida pelo Todos Pela Educação de 74,5%.

RESULTADOS FRUSTRANTES

Além do abandono e atraso escolar, o caso Cássia é exemplo de um grupo específico: mulheres que se tornam mães na adolescência. A pesquisa mostra que entre as meninas de 10 a 17 anos que tiveram filhos, apenas 28,6% estudavam em 2015. O percentual de meninas que só estudavam era bem maior entre as que não tiveram filhos: 89%. Por outro lado, as mães eram maioria entre a população de 10 a 17 anos que não estudava e nem trabalhava, os chamados “nem-nem”, com taxa de 57,2%. Entre as que não têm filho e compõem a mesma faixa etária, o percentual de “nem-nem” é de 3,9%.

— Os resultados são frustrantes. É um absurdo, uma vergonha. Tendo convicção desse diagnóstico, o Ministério pensou a reforma do ensino médio para oferecer uma alternativa aos jovens e torná-lo interessante. Também fazemos a oferta de curso técnico no contraturno para aluno do ensino médio. São duas medidas fundamentais para combater a evasão — afirmou a secretária-executiva do MEC, Maria Helena Guimarães. — Com relação à preparação dos alunos , estamos encaminhando amanhã a Base Nacional Comum, que fará isso de maneira adequada nos anos finais do ensino fundamental, para que eles cheguem mais bem preparados ao ensino médio.