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Polícia

PR: ex-assessor de Gleisi é acusado de estupro em depoimento de adolescentes

22 nov 2013 - 15h18
(atualizado às 15h24)
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Eduardo André Gaievski foi prefeito de Realeza (PR), onde responde a processo por estupro de adolescentes
Eduardo André Gaievski foi prefeito de Realeza (PR), onde responde a processo por estupro de adolescentes
Foto: Facebook / Reprodução

Detalhes da conduta do ex-assessor da Casa Civil Eduardo Gaievski em relação a meninas e jovens que o acusam de prática de estupro e assédio sexual revelados nesta quinta-feira no fórum de Realeza, a 540 quilômetros de Curitiba, causaram constrangimento em quem acompanhou as denúncias.

Dois promotores, advogados de vítimas e de defesa e o juiz ouviram ontem o depoimentos de várias e adolescentes, a maioria de baixa renda. Elas confirmaram as denúncias de que eram aliciadas em troca de quantias que giravam entre R$ 150 a R$ 200 ou através de propostas de trabalho na prefeitura da cidade. Algumas das testemunhas revelaram que Gaievski as incentivava, ao final dos encontros, a apresentar novas "amiguinhas". O ex-assessor e ex-prefeito da cidade teria preferência por meninas virgens, segundo uma das depoentes.

Duas adolescentes, atualmente com idades entre 15 e 16 anos, contaram que, na época em que saíram com Gaievski, tinham 12 e 13 anos. Uma delas, ainda não havia passado nem mesmo pela primeira menstruação quando fez sexo com o ex-assessor. O depoimento das duas chegou a causar desconforto entre os presentes. 

"Foi repugnante e causou asco nos presentes. É inconcebível acreditar que na dupla personalidade deste homem. De um lado, ele passava a imagem de um político ético calcado em conceitos religiosos. De outro, um comportamento de ‘besta-fera’ destituído de qualquer principio de caráter ou respeito pela pessoa humana", falou um dos participantes da audiência, em entrevista exclusiva ao Terra  nesta sexta-feira.

O processo contra Gaievski tramita em segredo de Justiça por envolver menores de 18 anos.  Novas gravações, que seriam do ex-assessor, foram postadas na internet nos últimos dias, com diálogos para a marcação de encontros com meninas.

Em entrevista ao Terra, o advogado Natalício Farias, que representa supostas vitimas de Gaievski, afirma ter certeza que uma das vozes que constam nos áudios divulgados na internet pertence ao ex-assessor da Casa Civil.

A audiência iniciada na tarde de ontem e suspensa durante a madrugada, prossegue hoje. Ao todo, 32 pessoas foram convocadas, sendo 20 testemunhas de acusação e 12 arroladas pela defesa. Nos relatos de ontem, as vítimas confirmaram depoimentos anteriores ao Ministério Público. Agora, falta apenas o depoimento de três testemunhos de acusação. Na sequência serão ouvidas os testemunhos de defesa.

Com pés acorrentados, mãos algemadas, cabelos raspados e demonstrando profundo abatimento, Gaievski foi levado até Realeza ontem, sob forte escolta policial. Porém, devido ao elevado número de testemunhas, ele não foi ouvido. No final da tarde, ele foi reconduzido ao presídio de Francisco Beltrão, onde está detido em uma ala reservada para criminosos conhecidos como "Duque 13"- expressão utilizada internamente em presídios para se referenciar a acusados pelo crime de estupro, definido no artigo 213 do Código Penal. O ex-assessor da ministra Gleisi Hoffmann deverá ser ouvido em nova audiência, marcada a princípio para o dia 16 de dezembro.

Vazamento de áudios

Enquanto ocorrem os depoimentos no fórum de Realeza, gravações com a suposta voz de Gaievski foram postadas em um site de compartilhamento de áudio e vídeo na internet. Com boa qualidade de gravação, os áudios mostram a conversa de um homem com sotaque característico da região negociando a marcação de encontros com novas meninas. 

Em uma das gravações, o homem conversa com uma voz feminina, similar a de uma adolescente, incumbindo-a de encontrar uma menina "para ir junto", indicando inclusive outra menina que deveria ser procurada. A interlocutora diz que a pessoa mencionada estaria numa região conhecida como "Linha Sétimo", uma pequena comunidade rural localizada a cerca de quatro quilômetros de Realeza, e que não teria condições de buscá-la.

A voz masculina responde que iria buscar, afirmando que "'é pertinho". A jovem indaga então se "a tia dela vai deixar". O homem manda ligar para o celular. A jovem diz que não tem o número da tia da menina e que teria que ligar para mãe da garota.

O homem, então, diz para ela procurar "outra igual ela". Demonstrando surpresa, a interlocutora pergunta: "igual como?". O homem responde: "ah... você já entendeu...não fale nada...você já entendeu", disse, segundos antes de desligar. As gravações mostram uma série de ligações revelando a marcação de encontros. 

Anteriormente, o mesmo usuário que postou os novos áudios, identificado como Fábio Alexandre, já havia postado gravações registrando uma conversa atribuída ao ex-assessor do governo federal, descrevendo uma relação sexual com uma menina virgem.

O MP está coordenando uma investigação na tentativa de identificar o autor dos vazamentos dos áudios, mas não confirma se a voz pertence a Gaievski. Pessoas da cidade, no entanto, dizem não ter dúvida que o tom de voz e o sotaque é muito semelhante ao do ex-prefeito.

Crimes

Eduardo Gaievski foi prefeito de Realeza no período entre 2005 e 2012. Em janeiro deste ano, foi nomeado pela ministra Gleisi Hoffmann como assessor especial da Casa Civil. Entre suas atribuições, ele era encarregado de coordenar programas sociais voltados à infância e adolescência, como o de combate ao crack e o de construção de creches.  Também representava a ministra em reuniões do programa "Mais Médicos".

Desde 2010, Gaievski era monitorado pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) por denúncias de exploração sexual de menores de 18 anos. Gravações interceptadas pelo Gaeco revelaram conversas em que o ex-prefeito marcava encontros com garotas menores de 14 anos, oferecendo dinheiro. Para adolescentes entre 14 a 18 anos, o ex-assessor ofertava empregos para elas ou para familiares na prefeitura. O processo contra Gaievski tramita sob sigilo na Justiça. A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público em 2010.

O ex-assessor é acusado de prática de quase 40 crimes envolvendo estupro de vulnerável, estupro qualificado, assédio sexual e assédio sexual qualificado. Gaievski também foi denunciado pelo delito de responsabilidade de prefeito municipal, já que teria oferecido cargos na prefeitura de Realeza em troca de encontros sexuais.  

Ao ser ouvido na polícia, o ex-assessor negou as acusações e disse que as denúncias foram armadas por adversários políticos, na tentativa de atingir a ministra Gleisi -  virtual candidata do PT ao governo do Paraná em 2014.

Fonte: Especial para Terra
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