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Percepções da escola

Professores avaliam positivamente seus diretores e apontam características dos pais e dos alunos como razões para o baixo aprendizado

As respostas de alunos, professores e diretores ao questionário da Prova Brasil 2015, tabuladas e disponibilizadas hoje pelo portal QEdu, podem dar margem a várias interpretações sobre as condições de ensino nas escolas públicas de ensino fundamental. Uma leitura possível dos dados aponta para os sérios problemas que sabemos existir: insuficiência de recursos pedagógicos e financeiros, indisciplina, baixa expectativa sobre a aprendizagem dos alunos e a dificuldade, relatada pelos professores, para conseguir cumprir todo o conteúdo previsto para o ano letivo.

Há questões, porém, que precisam ser interpretadas com cautela. Por exemplo, 71% dos professores disseram que houve no ano em que responderam ao questionário algum caso de agressão verbal ou física de alunos a outros estudantes da escola. Um percentual tão alto como esse apontaria para um problema endêmico, mas, da forma como a pergunta é feita, qualquer discussão mais acalorada entre dois jovens leva o professor a responder sim à pergunta, mesmo que o caso tenha sido isolado, apenas entre dois alunos de uma outra turma, por exemplo.

Neste caso, mais precisa é a pergunta feita a diretores sobre o quanto o funcionamento da escola foi prejudicado pela indisciplina. Apenas 11% disseram que o problema afetou muito. Outros 20% afirmaram que o impacto foi moderado, 36% responderam que foi pouco, e 33% registraram que ela não atrapalhou em nada. Cabe aqui a ressalva de que, provavelmente, os percentuais seriam bem maiores caso a amostra incluísse também escolas do ensino médio.

Resposta dos diretores de escola

Há também outras respostas que sinalizam uma visão menos pessimista, ao menos na percepção dos próprios diretores e professores, de alguns aspectos da rotina escolar. É possível concluir, por exemplo, que a maioria dos profissionais do ensino têm uma percepção positiva sobre a qualidade das relações entre eles. Dois em cada três docentes, por exemplo, dizem que seus diretores os motivam e animam para o trabalho sempre, quase sempre ou frequentemente. Nove em cada dez dizem ter confiança e se sentem respeitados pelos diretores com essas mesmas frequências. E são sempre majoritárias (com percentuais variando de 70% a 90%) as avaliações positivas em relação a outros aspectos do trabalho da direção, tais como o estimulo a atividades inovadoras, a atenção aos aspectos de aprendizagem, além do incentivo para o aperfeiçoamento profissional.

Os resultados do questionário de 2015 repetem também alguns padrões já observados em outros anos. Um deles é que os professores, quando questionados sobre os principais problemas que atrapalham a aprendizagem dos alunos em sua escola, apontam principalmente características dos estudantes e de suas famílias como responsáveis pelo problema. Essa percepção tira, em alguma medida, a responsabilidade da escola sobre o problema e explica um outro dado sempre destacado na análise dos questionários: a baixa expectativa que os professores têm em relação ao sucesso de seus próprios estudantes.

Aqui, como sempre, cabe a reflexão que deve ser permanente. Por um lado, ao esperar tão pouco de seus alunos, o professor pode estar sendo apenas realista ao constatar as dificuldades que observa em seu cotidiano. Mas, por outro, podemos estar também em muitos casos diante da típica profecia que se auto realiza, tão prejudicial ao estudante.

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