Política

Novo ministro da Cultura chamou cineastas independentes de 'black blocs'

Sérgio Sá Leitão foi nomeado nesta quinta-feira pelo presidente Michel Temer
O novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão Foto: Marcos Ramos / O Globo - 12/08/2014
O novo ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão Foto: Marcos Ramos / O Globo - 12/08/2014

BRASÍLIA - Novo ministro da Cultura , o jornalista Sérgio Sá Leitão coleciona polêmicas em seu currículo. O escolhido do presidente Michel Temer sugeriu, numa troca de emails em 2014, quando era secretário municipal de Cultura e diretor-presidente da RioFilme, agência que promove o audiovisual do Rio, um movimento para “enquadrar”, “isolar” e “tirar a base de apoio” de cineastas independentes do Rio. Na época, Leitão era alvo de críticas de parte de diretores e produtores cariocas.

“O cinema brasileiro produziu seus black blocs”, escreveu ele.

Como O GLOBO revelou em fevereiro deste ano, a mensagem de Sá Leitão foi enviada em 7 de outubro de 2014 para cerca de 15 pessoas, muitas delas profissionais que regularmente buscam recursos nos editais, que na época eram gerenciados por ele. Entre os destinatários estavam o distribuidor Bruno Wainer, o cineasta Cacá Diegues, as produtoras Mariza Leão, Iafa Britz e Paula Barreto, as diretoras-executivas do Festival do Rio, Ilda Santiago e Walkíria Barbosa e o ex-diretor-presidente da Ancine, Manoel Rangel.

A motivação foi um texto distribuído à imprensa com as revindicações do Rio: Mais Cinema, Menos Cenário, um movimento lançado no Festival do Rio de 2014 para pedir mais transparência nos gastos e maior diversidade nos projetos contemplados nos editais de prefeitura e estado. Leitão começou sua mensagem citando um e-mail que teria sido enviado por Frederico Cardoso, membro da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-Metragistas, com críticas à sua gestão. Sérgio escreveu: “Para além de denúncias vazias e argumentos tolos, o que mais chama a atenção é a postura belicosa e vingativa”.

No final da mensagem, o novo ministro se referiu aos críticos como “black blocs” e colocou entre parênteses os nomes dos cineastas Silvio Tendler, Murilo Salles e Vânia Catani.

NOTA DE REPÚDIO

No dia seguinte à publicação da reportagem, entidades do setor audiovisual protestaram contra a indicação do jornalista Sérgio Sá Leitão para cargo na Diretoria Colegiada da Ancine. O grupo disse na época que o novo ministro não tinha "capacidade" para assumir o cargo e que havia deixado um "péssimo legado" para a RioFilme.

"Repudiamos a indicação porque Sérgio Sá Leitão não possui capacidade técnicas e administrativa para o cargo, o que é atestado pelo péssimo legado que o mesmo deixou para a Riofilme e para a Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro, funções que ocupou na administração do ex-prefeito Eduardo Paes. Além disso, não se tem ciência de nada relevante realizado por esta pessoa na esfera privada dentro da área de cinema", dizia um dos argumentos utilizados pelo grupo.

O presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Rio de Janeiro (Sated-RJ) Jorge Coutinho (PMDB) reclamou da escolha de Sá Leitão e fez críticas à cúpula de seu partido.

— Fizeram um Ministério voltado para os ricos. (Governo) Estão pensando só em fazer barganha. Não dava para cair na mão de um cara que não entende nada de Cultura. Ele já esteve no município e não fez nada — afirmou Coutinho.

(Colaborou Maurício Ferro)