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Helio Pellegrino vai deixar a cidade: 'O Rio está inviável', diz arquiteto

por Fernanda Pontes

Helio Pellegrino

Mineiro radicado no Rio aos dois anos de idade, o arquiteto e artista plástico Helio Pellegrino sempre foi um entusiasta da cidade, onde pretendia viver o resto da vida. A violência e a fase crítica pela qual o Rio passa, no entanto, o fizeram mudar de ideia. “Ninguém aguenta mais isso aqui, ficou inviável”, diz ele, que nos últimos cinco anos construiu o Arvrão, um misto de hotel e casa de eventos no alto do Vidigal, e o hotel Da Lapa, no Centro. Ele conversou com Fernanda Pontes. Por que deixar a cidade?

O Rio ficou inviável, horrível. Parece que vivemos numa roleta russa, é violência para todo lado. Aqui já tive cinco carros roubados, já entraram na minha casa. Você acredita que tive três bicicletas roubadas no último ano? As duas primeiras eles arrancaram a corrente no maçarico. Aí providenciei um cadeado mais forte, e o assaltante ficou tão irritado porque não conseguiu tirar, que destruiu a bicicleta toda! O selim ficou cheio de facadas. Não é pelo bem material, mas pelo ódio mesmo.

E seus projetos na cidade? Não valeram a pena?

Olha, ser empresário no Brasil é um caso de polícia. Fiquei um ano e meio para abrir meu hotel no Vidigal. Não conseguia as licenças. Tinha sempre alguém querendo se dar bem. Diziam: ‘Para eu regularizar isso, vai ter que dar um por fora’.... Uma vez, me pediram 80 mil reais por um documento. Não pago! O resultado foi uma burocracia interminável em todas as esferas, da prefeitura ao governo do estado. As coisas não andavam e vivi num estágio de humilhação até conseguir tudo.

Quais são seus planos agora?

Quero construir uma casa na Praia do Espelho, na Bahia. Estou com 65 anos e quero uma velhice mais tranquila. O Rio não é uma cidade para velhos.

Como assim?

Vou dar um exemplo. Um senhor de 83 anos que eu conhecia, praticamente um baluarte da elegância — magro, não bebia, não fumava —, morreu ao cair numa calçada esburacada de Jacarepaguá. Bateu com a cabeça e acabou. Se está ruim para a gente, imagina para o velho que depende de hospital público? Somos descartáveis, descascam a gente que nem um ovo cozido. Chega. Ninguém aguenta mais isso aqui.

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