Shisa Kanko: lições japonesas para reduzir erros no trabalho

O recall (também conhecido como processo de chamamento) é o procedimento estabelecido pelo Código de Defesa do Consumidor por meio do qual um fornecedor, ao tomar conhecimento de um defeito em produto ou serviço que tenha colocado no mercado de consumo, comunica o fato imediatamente às autoridades competentes e à coletividade de consumidores, e promove a retirada do risco do mercado.

Assim, o objetivo principal do recall é proteger a coletividade de riscos à vida, saúde e segurança ocasionados por defeitos em produtos e serviços de consumo. No ano de 2015, foram realizados no Brasil 130 recalls, segundo a Secretaria Nacional do Consumidor, Ministério da Justiça.

Ao longo dos últimos anos, observa-se o crescimento do número de recalls no país, bem como sua diversificação.

Abaixo estão os recalls de 2015, organizados por quantidade e tipo de produto.

Em termos percentuais, ainda considerando campanhas de recall por tipos de produto, foram registrados os seguintes números.

TIPO DE PRODUTO PERCENTUAL

Automóveis 68,46; Motocicletas 17,69; Bicicletas 3,84; Peças e Componentes Mecânicos 2,3; Caminhões 1,53; Cosméticos 1,53; Medicamentos 1,53; Produtos Infantis 1,53; Alimentos 0,76; Eletroeletrônicos 0,76.

“Automóveis: campeões nos defeitos”

Por um lado, o recall de veículos cresceu 85% no Brasil em 2015. No total, 2,81 milhões de automóveis foram afetados por convocações para corrigir defeitos de fábrica. O problema que mais causou revisões foi o sistema de airbag, com 21 campanhas, segundo a Fundação Procon-SP.

Mas, por outro, entre janeiro e novembro de 2015, foram 2.783.979 automóveis atingidos. Foram realizadas 106 campanhas de recalls de veículos. No mesmo período em 2014, foram 83 campanhas, atingindo 963.802 veículos, um aumento de 188% no número de carros afetados, segundo levantamento feito pela Fundação Procon-SP, órgão vinculado à Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania.

Sistemas de airbag foram os que apresentaram mais problemas, com 20 campanhas e 1.363.718 veículos afetados.

As montadoras que mais realizaram recall em 2015 foram a Mercedes-Benz, com nove chamamentos, Volkswagen com oito e Jeep e Land Rover, com seis cada. Em 2015, também houveram recalls de produtos infantis, medicamentos, alimentos, xampu, bicicletas, berço, alarme de incêndio e soprador elétrico, totalizando 120 chamamentos de recalls até novembro.

De 2002 até novembro de 2015, foram registradas 927 campanhas no Brasil. A Chevrolet é a marca que lidera os problemas de recall com um total de 57 chamamentos. Quanto aos automóveis, o item airbag liderou os recalls devido a um problema com um grande fornecedor mundial, que abasteceu as montadoras em vários países. O acessório apresentou problemas no dispositivo de disparado que libera fragmentos contra os ocupantes do automóvel.

O que é recall?

O recall é um chamado que as empresas fazem quando um produto ou serviço apresenta um defeito que coloque em risco a saúde e a segurança do consumidor. O objetivo é corrigir problemas e prevenir acidentes. A medida está prevista no artigo 10 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) que estabelece que ‘O fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade ou periculosidade à saúde ou segurança’.

O CDC determina que o fornecedor que verificar algum defeito após a colocação do produto ou serviço no mercado, deve comunicar o fato imediatamente às autoridades e aos consumidores. Além disso, qualquer pessoa pode comunicar o fornecedor, Procon ou demais autoridades sobre acidentes de consumo. Todos os recalls devem ser amplamente divulgados em mídias de grande circulação. O Procon-SP divulga regularmente qualquer tipo de recall registrado.

Com o intuito de conscientizar o consumidor sobre a importância de atender aos os chamados dos fornecedores para o reparo ou troca de produtos, o Ministério da Justiça lançou a campanha "recall: direito seu e dever do fabricante". A campanha foi desenvolvida em conjunto com o Grupo de Estudos Permanentes de Acidentes de Consumo (GEPAC) – grupo do qual o Procon-SP é integrante. As informações são do Procon-SP.

Japão

Embora seja conhecido por suas técnicas de qualidade, o Japão passou por problemas de “recall” em suas montadoras.

Em 2013, cerca de 3,4 milhões de veículos das montadoras japonesas Toyota, Nissan, Honda e Mazda fizeram parte de um recall. Os carros envolvidos foram equipados com um airbag potencialmente defeituoso, fabricado pela japonesa Takata entre 2000 e 2004.

Mas são os japoneses que tem as técnicas para também resolver os problemas.

Shisa Kanko, Shisa Kakunin Kanko ou Yubisashi Kosho 

Em inglês “pointing and calling” e em português “apontar e falar”! É uma técnica japonesa de segurança e saúde ocupacionais de gesticular e falar sozinho com o objetivo de reduzir erros no trabalho que ajuda a melhorar o desempenho em funções que exigem atenção, segundo  Wikipédia.

Alice Gordenker escreveu para o The Japan Times um artigo chamado “JR gestures”, onde comenta as vantagens dessa técnica e o porque não é tão conhecida no exterior.

Um exemplo, para ter certeza que uma válvula está aberta ou fechada. O operador olha para válvula diretamente e confirma que é aberta. Fala em voz clara “válvula aberta”! Então, ainda olhando para válvula, aponta com sua mão direita para o objeto e volta a falar “ok”!

A teoria, explica que ao ouvir sua própria voz, envolver os músculos boca e do braço, você estimula seu cérebro e fica mais alerta.

Um aspecto interessante para se observar é que enquanto na Europa e nos Estados Unidos o foco da redução de acidentes é mais nas máquinas e nos sistemas, no Japão, o foco é maior na melhoria da precisão do operador, embora trabalhem também a questão das máquinas e dos sistemas.

Em seu livro “Shippai no Shinrigaku - The Psychology of Error”, Nihon Keizai Shinbunsha, 2004, Shigeru Haga, professor da Rikkyo University em Tokyo, comenta que é muito difícil fazer com que trabalhadores de outros países entendam e executem o método Shisa Kanko ou “apontar e falar”, porque nunca viram e talvez por vergonha.

Agora, imagine no Brasil, onde fala-se muito e informa-se pouco, como uma técnica como essa pode fazer a diferença, para diminuir os “erros no trabalho”!

Referência: A técnica Shisa Kanko, Shisa Kakunin Kanko ou Yubisashi Kosho foi tema de uma reportagem no Jornal Nacional, Rede Globo, 15/10/2016. Gostou?